Supermercado coage funcionários a votar em Bolsonaro, diz procuradoria
Depois da Havan, Grupo Condor, com 12.000 funcionários, é alvo de inquérito após carta de presidente afirmando voto em Bolsonaro
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2018 às 18h37.
Última atualização em 2 de outubro de 2018 às 18h52.
A Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná instaurou nesta terça-feira (2) um “procedimento preparatório eleitoral” contra a rede de supermercados Condor, uma das maiores do país, e contra seu presidente, Pedro Joanir Zonta. O motivo é uma carta divulgada pelo empresário em que declara apoio a Jair Bolsonaro como candidato à presidência da República e pede que seus funcionários “confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo”.
Para a procuradora regional eleitoral, Eloisa Helena Machado, há uma “clara ofensiva ao direito de escolha desses empregados”. Segundo ela, o funcionário pode ficar com medo de perder o emprego ou sofrer retaliações caso não siga a orientação do empregador.
Segundo o Ministério Público Eleitoral, a intenção é aferir se as declarações na carta podem constranger os funcionários do grupo. A procuradoria afirmou ainda que o voto universal e secreto é um dos pilares da democracia. O Ministério Público do Trabalho convocará Zonta para prestar declarações – um dos objetivos também é checar se a Condor de alguma forma financiou a campanha do capitão reformado, o que é proibido pela nova lei eleitoral.
A carta conta de 11 pontos que justificam o apoio. O mais polêmico deles, para os procuradores, é o que joga luz sobre uma das polêmicas da própria campanha de Bolsonaro. “Nesta carta, fica o meu compromisso, com você meu colaborador hoje, de que não haverá de forma alguma, corte no 13º (décimo terceiro) e nas férias dos colaboradores do grupo Condor”, diz. Nesta terça-feira o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, voltou a criticar o décimo terceiro.
Entre os motivos apontados para votar em Bolsonaro estão “preservação da família” e “garantia de crescimento e desenvolvimento econômico do Brasil”. Entre os 11 pontos citados como motivos para não votar na esquerda estão “fim da família” e “desestruturação das empresas brasileiras”.
A rede de supermercados paranaense Condor foi considerada em 2016 a nona maior do país, com faturamento anual de 3,815 bilhões de reais, segundo o ranking Abras/SuperHiper. Nos anos seguintes, a Condor optou por não participar mais da lista da Associação Brasileira de Supermercados em parceria com a Nielsen, por considerar que os dados são “distorcidos”. Hoje, a rede possui 48 lojas e conta com 12.000 funcionários. A empresa afirma ainda não ter recebido as notificações.
O caso Havan
Em nota pública, o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado, alertou outras empresas para o risco de comunicação de campanha a seus funcionários. “Está vedado ao empregador a prática de qualquer ato que obrigue o empregado a manifestar-se sobre suas crenças ou convicções políticas ou filosóficas e, mais ainda, que venha obrigá-lo a seguir uma determinada crença ou convicção política ou filosófica, orientada pela organização empresarial”, afirma no documento datado de 1 de outubro.
Outro empresário varejista que se envolveu em polêmica neste quesito foi Luciano Hang, da Havan . Num vídeo que circulou pelo canal interno da companhia, Hang diz que se algum candidato “de esquerda” vencer a eleição, ele vai repensar o plano de crescimento da empresa e talvez tenha que fechar algumas lojas. “Você está preparado para sair da Havan?”, questiona.
Hang afirma ainda que pesquisas internas apontam um percentual de 30% de funcionários votando branco ou nulo. Pesquisas internas podem muito bem se encaixar nos pontos de atenção levantados pelo Ministério Público, mas o empresário afirmou ao site Info Money que o vídeo “se trata apenas de transparência com meus colaboradores”.