Patrocínio:
Paulo Garbugio e Charles Coelho, fundadores da Arboran (Divulgação)
Editor da Região Sul
Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 14h12.
Espremidas entre prédios, fiação e asfalto, as árvores “urbanas” lutam pela vida em meio ao crescimento desordenado da selva de pedra. Uma batalha, até hoje, desigual entre o verde e o cinza do concreto. Mas uma startup criada em Florianópolis decidiu mudar essa lógica: a Arboran já mapeou mais de 150 mil árvores, validou 8,6 mil créditos de carbono e transformou o verde urbano em ativo financeiro rastreável, criando um novo modelo para o mercado de carbono nas cidades.
O negócio nasceu do empreendedorismo aplicado a um problema urbano recorrente. Em 2017, o biólogo Paulo Garbugio e o engenheiro florestal Charles Coelho identificaram uma lacuna estrutural: a maioria dos municípios brasileiros não possuía planejamento de arborização urbana, o que resultava em podas inadequadas, riscos de queda, conflitos com redes elétricas e custos elevados para prefeituras.
A partir dessa dor concreta, decidiram transformar conhecimento técnico em solução escalável. Após passarem por uma pré-incubadora e por um programa de incubação, fundaram oficialmente a Arboran em 2018. Hoje, os fundadores da empresa também são conhecidos como os médicos de árvores.
O coração da empresa é o software GAAU (Grau de Atenção para Árvores Urbanas), que combina modelagens matemáticas e diagnósticos técnicos para avaliar cada árvore individualmente.
O sistema reúne geolocalização, imagens, análise fitossanitária, classificação de risco e cálculo preciso do carbono estocado, criando uma base de dados rastreável e auditável. Em um mercado global de carbono ainda fortemente baseado em estimativas genéricas, a Arboran segue o caminho oposto: mensuração individual, cadeia de custódia clara e impacto local verificável.
Até agora, o sistema validou 8.610 créditos de carbono, o equivalente a cerca de R$ 730 mil em ativos ambientais. Todo o valor gerado é reinvestido em manejo urbano, plantio e preservação, fechando um ciclo virtuoso entre sustentabilidade, segurança e financiamento ambiental.
O modelo econômico conecta prefeituras e empresas privadas em uma lógica de economia circular. Empresas executam serviços ambientais — como manejo, transplante ou plantio — e recebem, como contrapartida, a cessão temporária dos créditos de carbono gerados.
Com isso, a prefeitura evita desembolso direto, as empresas deixam de adquirir créditos distantes e pouco transparentes, e o benefício ambiental ocorre na própria cidade. Projetos-piloto desse modelo já foram implementados em São Joaquim, Urupema, Urubici e Indaial, enquanto novas prefeituras avançam em processos de adesão.
Estudo inédito do DNA Vegetal foi aplicado à icônica Figueira da Praça XV, no coração da capital catarinense (Divulgação)
Além do mercado de carbono, a Arboran se consolidou como referência nacional no transplante de árvores adultas, alternativa sustentável à derrubada. Já foram realizados mais de 350 transplantes, incluindo o maior já registrado no Brasil: uma figueira de 20 metros de altura e 56 toneladas, transplantada integralmente em Florianópolis.
A operação exigiu planejamento estrutural, logística pesada e monitoramento contínuo. Após o transplante, a árvore passou a ser acompanhada por até dois anos, com uso de técnicas como endoterapia, comparada a um “soro aplicado diretamente no tronco”.
A empresa também aposta em ciência aplicada como diferencial competitivo. Em parceria com a UFSC, introduziu no Brasil o uso de DNA vegetal para monitorar árvores monumentais. Um dos estudos mais simbólicos envolveu a Figueira da Praça XV, cartão-postal de Florianópolis, cujo sequenciamento genético revelou que a espécie é originária da Ásia tropical, ampliando o entendimento científico sobre o patrimônio ambiental urbano.
Hoje, a Arboran atua em projetos de planejamento urbano baseado em dados, como o Plano Municipal de Arborização Urbana de Ponta Grossa (PR), onde cada árvore é mapeada para embasar decisões de manejo, segurança e expansão verde. Em muitos diagnósticos, mais da metade das árvores em calçadas apresenta necessidade de manejo urgente, evidenciando o valor econômico e preventivo da solução.
Em 2025, a startup recebeu R$ 80 mil do programa Acelera Startup SC (Sebrae/SC e Fapesc) para desenvolver uma inteligência artificial capaz de monitorar, em tempo real, todas as árvores de uma cidade — tecnologia que promete inaugurar uma nova geração de planos diretores de arborização urbana. No mesmo ano, a empresa integrou a Missão Web Summit Lisboa 2025, levando a tecnologia catarinense ao maior evento de inovação da Europa e abrindo caminho para a internacionalização.
Com crescimento de 60% em 2025, a Arboran mostra que a floresta urbana, quando tratada com ciência, dados e modelo de negócio, pode deixar de ser passivo ambiental e se tornar infraestrutura estratégica das cidades do futuro.