Startup brasileira quer usar hemogramas e IA para acelerar diagnóstico do câncer de mama
Criada em 2022, a startup já avaliou dados sanguíneos de mais de 500 mil mulheres
Repórter de Negócios
Publicado em 24 de junho de 2024 às 17h30.
Última atualização em 27 de junho de 2024 às 07h52.
Em seu último levantamento, o Inca, instituto para o combate ao Câncer, projetou aincidência de 73.601 mil casos de câncer de mama em 2023. O documento revelou ainda que 18.139 mulheres vieram a óbito no país em 2021. Esse é um número que a Huna pretende ajudar a reduzir e a partir de um elemento simples: os hemogramas, o exame mais requisitado, barato e conhecido dos brasileiros.
A startup usa esses exames para encontrar sinais que indicam quais mulheres estão mais propensas a desenvolver câncer de mama. A partir daí, gestores de saúde podem organizar melhor as filas para exames de mamografia. Desde o início, entre pesquisa e projetos-piloto com planos de saúde, a Huna já avaliou hemogramas de mais de 500 mil mulheres, realizados com dados de parceiros como o Grupo Fleury, Pardini e o Hospital do Amor.
De acordo com os primeiros números, a tecnologia desenvolvida pela startup tem ajudado a antecipar em até 16 semanas o diagnóstico de uma pessoa com câncer. E o tempo, para o tratamento de câncer, é um elemento-chave.
Como a Huna foi criada
"O câncer de mama tem uma chance de cura altíssima, de mais de 90% quando diagnosticado nas fases iniciais. Quando o diagnóstico é tardio, a chance de mortalidade é muito mais alta e os tratamentos são muito mais caros", afirma Daniella Castro, CTO e fundadora da Huna. O problema é que apenas uma em cada quatro mulheres na idade recomendada faz o rastreamento no país atualmente.
Foi dela a ideia de começar a startup com a identificação de câncer de mama. No instituto e consultoria em que trabalhava, a Kunumi, do professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nivio Ziviani,a engenheira de produção havia tocado muitos projetos conectando Inteligência Artificial e saúde, usando desde dados de ressonância magnética a raio-x e sangue.
“Os dados sanguíneos me chamaram muita atenção porque eu vi como utilizamos pouco o potencial de um exame de sangue”, diz Castro. “Todas as pesquisas que fizemos com sangue foram muito promissoras e mostraram um poder muito grande”.
Quando descobriu que uma amiga estava com câncer de mama em estágio avançado, já com metástase, o desejo de olhar para essa doença foi instantâneo, mesmo sem nunca ter se debruçado sobre a enfermidade.“Eu sabia que tínhamos uma ferramenta muito poderosa”, afirma.
Aportes em startups em 2024
Qual é o futuro do negócio
O negócio foi criado com Vinícius Ribeiro e Marco Kohara, com quem dividiu alguns anos de experiência na Kunumi. Para dar início à jornada como empreendedores, os três saíram da consultoria com algumas patentes e fundaram a Huna como uma espécie de spin-off. Após pesquisas e 4 projetos-piloto, a startup espera por uma aprovação da Anvisa para ficar operacional. A expectativa é de que isso aconteça nos próximos meses.
Em paralelo, a Huna começa a desenvolver o seu primeiro estudo com o SUS (Sistema Único de Saúde), com a análise de cerca de 400 mil hemogramas de mulheres das regiões Nordeste e Sul. “Nós também vamos acompanhar 1.500 mulheres por 2 anos para poder analisar outros marcadores sanguíneos, além do hemograma. Isso pode melhorar bastante a performance do nosso modelo”, diz a executiva.
Ao longo deste processo, a Huna recebeu cerca de 1 milhão de dólares em recursos. Na conta, entra uma rodada pré-seed liderada pela Big Bets e com a participação da Niu Ventures e da Kortex, corporate venture capital da Fleury, e ainda dinheiro de fomento da Fapesp e de prêmios de inovação, como o da A.C.Camargo.Dois anos após a primeira captação, a Huna planeja a abertura de uma rodada seed nos próximos meses. O dinheiro será usado para acelerar a estruturação de novas pesquisas, em busca de marcadores para outros tipos de câncer, como colo do útero, pulmão, colorretal e próstata.