SPOTIFY: aposta nos podcasts pode aumentar receita com anúncios, hoje menos de 10% (Christian Hartmann/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 31 de julho de 2019 às 16h32.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 17h18.
Falar de Spotify virou quase sinônimo de falar de música, mas os resultados do segundo trimestre da empresa mostraram que a plataforma de streaming não quer ser conhecida só por artistas do pop.
Os podcasts, programas de áudio com conteúdos e formatos diversos, ganharam ainda mais relevância entre os usuários da startup sueca em 2019.
Em comunicado para divulgar os resultados do segundo trimestre de 2019, a empresa afirma que a audiência dos podcasts cresceu mais de 50% na comparação com o primeiro trimestre e quase dobrou desde o começo do ano. Mais de 30.000 novos podcasts passaram a integrar a plataforma entre abril e junho.
Como mostrou edição de fevereiro de EXAME, plataformas de streaming como Spotify e Deezer vêm investindo cada vez mais em podcasts para oferecer aos assinantes um serviço que vá além das músicas.
O presidente do Spotify, Daniel Ek, afirmou neste ano que espera que, em algum tempo, 20% de tudo que é reproduzido na plataforma venha de conteúdo não-musical e que a empresa quer ser "a plataforma de áudio número um do mundo", seja com música ou com outros conteúdos.
O interesse pelos podcasts, além de atrair audiência, é aumentar a receita com anúncios, que hoje representa apenas 10% de toda a receita do Spotify (com 90% ainda vindo dos assinantes).
Um estudo das consultorias IAB e PwC estima que os anunciantes pagaram 479 milhões de dólares para anunciar em podcasts em 2018 nos EUA, alta de 53% em relação a 2017. A expectativa é que a receita de anúncio com os programas chegue a 1 bilhão de dólares em 2021.
No Brasil, pesquisa da Audio.ad mostrou que 25% dos entrevistados afirmaram ouvir podcasts regularmente, e o estudo PodPesquisa, da Associação Brasileira de Podcasts (ABPOD), descobriu que, dentre todos que ouvem podcasts, metade dos ouvintes o faz todos os dias.
Um dos maiores desafios do Spotify será competir não só com rivais como Deezer e Apple, mas com plataformas gratuitas de conteúdos de áudio. A saída é similar à adotada por outra empresa de streaming, porém de vídeo, a Netflix. Ameaçada por produtores de conteúdo que querem retirar seus filmes e séries da plataforma -- ou cobrar muito caro para renová-los --, a Netflix mais que dobrou o investimento em conteúdo próprio.
O Spotify anunciou neste ano os planos de gastar 500 milhões de dólares na produção de podcasts, e gastou 300 milhões de dólares para comprar a produtora de podcasts americana Gimlet Media e a plataforma Achor, que permite criação de programas de forma fácil.
A empresa de streaming também terá um podcast exclusivo do ex-casal presidencial americano Michelle e Barack Obama, como parte de parceria com a produtora de conteúdo Higher Ground. No Brasil, há parcerias como com o jornal Folha de S.Paulo ou a empresa de mídia B9 (como com o podcast OÊA na Copa do Mundo feminina) para produção de programas exclusivamente para o catálogo da plataforma.
Ainda que o número de usuários tenha ultrapassado as expectativas e com a boa audiência dos podcasts, as ações do Spotify caíam 2% pela manhã, uma vez que os investidores esperavam um número maior de assinantes. As ações voltaram a se estabilizar ao longo do dia e fecharam praticamente estáveis, na casa dos 155 dólares. (O Spotify abriu capital na bolsa em abril do ano passado, e hoje vale 28 bilhões de dólares.)
O Spotify terminou o segundo trimestre do ano com 232 milhões de usuários ativos, sendo 108 milhões deles assinantes.
Foram 15 milhões de novos usuários no geral, alta de 7% na comparação com o primeiro trimestre, sendo oito milhões novos assinantes, alta de 9% (ou 31% na comparação com o mesmo período do ano passado).
Durante conferência com analistas nesta quarta-feira, o presidente Daniel Ek disse que o Spotify ganha 2 milhões de novos assinantes por mês no mundo, enquanto o serviço de músicas da Apple, um dos maiores concorrentes, ganha 1 milhão de novos assinantes (a Apple não divulga o número oficial).
O Spotify não dá detalhes sobre o número de usuários no Brasil, mas, entre as regiões, sua maior base de usuários de pagantes está na Europa, com 40% dos assinantes. Em seguida vem América do Norte (30%), América Latina (20%) e outros mercados (10%), com a empresa ainda tendo dificuldade em crescer em mercados como a Ásia.
O faturamento foi de 1,7 bilhão de euros no trimestre, alta de 31% em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa ainda opera no prejuízo, mas reduziu as perdas, que fecharam em 76 milhões de euros -- menos que os 394 milhões de euros de prejuízo há um ano.
Promoções para novos assinantes e planos de estudantes e em grupo, mais baratos que os tradicionais, também pressionaram as margens.
Assim, precisando dar descontos para continuar crescendo dois dígitos por trimestre, o aumento da audiência com os podcasts e o potencial aumento de receita nesta área é uma das melhores notícias do balanço do Spotify nesta quarta-feira. A ver se a empreitada de Ek no mundo do conteúdo original conseguirá de fato tornar o Spotify uma "Netflix dos podcasts" -- e fazer usuários e anunciantes pagarem por isso.