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South Summit Brazil: 2º dia tem análises sobre Silicon Valley Bank, mulheres nos VCs e cultura

Segundo dia do evento teve palestra do investidor americano Jeff Clavier, do Uncork Capital, do Vale do Silício

Jeff Clavier, fundador da Clark Capital em painel durante o South Summit Brazil 2023: “Tudo aquilo foi algo muito esquisito”, em referência à quebra do Silicon Valley Bank (Agência Preview/Divulgação)

Jeff Clavier, fundador da Clark Capital em painel durante o South Summit Brazil 2023: “Tudo aquilo foi algo muito esquisito”, em referência à quebra do Silicon Valley Bank (Agência Preview/Divulgação)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 30 de março de 2023 às 16h06.

Última atualização em 30 de março de 2023 às 17h11.

Jeff Clavier é um investidor de longa data no Vale do Silício, berço de algumas das principais companhias de inovação e tecnologia do mundo.

Há 23 anos, ele se dedica a investir pequenas quantias em startups recém-nascidas, o chamado investimento-anjo.

Também é fundador da Uncork Capital, fundo do Vale do Silício que direciona cheques para empresas nas fases de captação seed — uma das primeiras ao longo da jornada de investimentos das startups.

Agora, Clavier avalia que a atual quebra do Silicon Valley Bank (SVB) é a prova de que, quando se trata do universo das startups, tudo pode mudar em um período curto de tempo.

Clavier falou durante o segundo dia do South Summit Brazil 2023, evento realizado em Porto Alegre entre 29 e 31 de março.

Alguns dos destaques do segundo dia de programação do evento:

Como encontrar o valuation certo

  • Em sua palestra, Clavier detalhou as estratégias da Uncork Capital para manter a tese dedicada apenas ao early stage, ou seja, os cheques menores, em tempos de múltiplos inflados.
  • Os valuations em alta, segundo Clavier, podem ser um risco ou oportunidade a fundos early stage, a depender da maneira como essas firmas  dedicadas a investimentos menores vão acompanhar o ânimo de investidores com apetite agressivo — e maiores quantias — nas rodadas de captação.
  • “É natural que, nesses momentos, você apenas "siga o fluxo". Mas é preciso aprender a ser flexível com esses valuations”, diz.
  • Para ele, a  solução está em manter a disciplina e a fidelidade à tese inicial. "Quando há um conjunto de coisas positivas, como bons fundadores, uma boa ideia e um bom momento de mercado, o investimento se justifica".
  • “O preço correto por uma startup é o preço que você investe nela”, disse Clavier.

O que aprender com a quebra do Silicon Valley Bank

  • Clavier também destacou as vantagens estratégicas de mirar o early stage em um momento de mercado que não favorece em nada investimentos mais parrudos. Segundo o investidor, o foco na resolução de problemas reais das empresas que ainda estão começando é o principal diferencial da Uncork Capital — e de alguns fundos early stage.
  • Na Uncork Capital, um time qualificado e com especialização em dores comuns a empresas nesse estágio de maturidade ajuda a definir estratégicas para o lançamento de produtos, contratação de profissionais, estratégias de marketing, entre outras coisas. "Nosso foco está em ajudar um empreendedor a pegar uma coisa que dificilmente conseguimos explicar para algo que possa se tornar uma empresa multibilionária no futuro", disse.
  • Clavier finalizou sua palestra fazendo menção à falência do SVB, o banco das startups. “Tudo aquilo foi algo muito esquisito”, brincou.
  • A derrocada do banco em tempo recorde, para ele, mostrou a fragilidade de um ecossistema dependente de capital e de instituições financeiras para prosperar. Em tempos de incerteza, a recomendação para fundos é avaliar com cautela se o momento é o correto para investimentos. "Essa história foi a prova de que tudo pode acontecer em questão de apenas dois dias", diz.

É o fim do dinheiro fácil e rápido para as startups?

  • Um conjunto de investidores concorda que há uma mudança de paradigma em curso no universo das startups em todo o mundo.
  • Em palestra durante o South Summit sobre os desafios de empreender e de captar recursos, líderes de fundos como Canary, Upload e Endeavor Catalyst, avaliam que as regras para angariar recursos, ao menos venture capital, seguirá mudando pelos próximos anos.
  • “É o fim da ideia de que fundar uma startups é a maneira mais ágil e fácil de se conseguir dinheiro rápido”, afirma Rodrigo Baer, managing partner na Upload Ventures, ao avaliar o entusiasmo de fundadores favorecidos pela abundância de capital. “Agora, só vão restar as empresas com padrões muito eficientes e com mais do que uma boa ideia”, diz.
  • Para Marcos Toledo, da Canary — que tem um portfólio de 120 startups investidas — o contexto desafia empresas a pensarem no longo prazo e esticarem o tempo para novas captações. “A dica é se manter com os recursos por mais um tempo, e levantar dinheiro apenas no final de 2024 ou início de 2025. Até lá, a solução é gerenciar despesas e cortar custos”, afirma.
  • Igor Piquet, managing partner da Endeavor Catalyst, foi categórico ao listar dicas à plateia de empreendedores “Dói, mas é hora dos downrounds. Se é isso que precisa ser feito, faça antes da concorrência”.
  • Reduzir os valores das rodadas não é a única decisão delicada a empreendedores. Os investidores também recomendaram redobrar a atenção à questão societária, ainda que isso custe o bom relacionamento entre os fundadores.
  • “Hoje uma das principais causas de morte de empresas é a separação dos sócios”, disse Toledo, da Canary.
  • Nesse sentido, eles afirmam que o desalinhamento de valores e divórcios societários podem ser evitados quando se dedica tempo para que os sócios se conheçam e também uma clara definição sobre a divisão de ações no caso da saída de um deles.

Onde estão as mulheres investidoras?

  • Quando Maria Rita Spina Bueno, fundadora da Anjos do Brasil e criadora do Mulheres Investidoras Anjos (MIA), entrou no mercado de venture capital, os debates sobre diversidade dentro do ecossistema de tecnologia e inovação tinham um público pequeno, composto principalmente de mulheres.
  • Hoje, 30 de março de 2023, segundo dia do South Summit Brazil 2023, o cenário é outro: a plateia estava cheia e composta também de homens. “Se a gente quer falar de inovação, precisamos de diversidade não só de gênero, mas de raça. Gente igual pensa igual”, afirma no painel Woman Paving the Way for Other Woman: The importance of Female Representation in Finance.
  • O espaço das mulheres no mercado de tecnologia e inovação, que começou a ser aberto por  mulheres como Maria Rita e conta com a presença de jovens como Ana Martins, sócia do fundo Atlantico, que investe em startups na América Latina. Martins começou a carreira em investimentos quando estava no segundo ano da graduação.
  • “É importante entender que as mulheres são 50% da população e que o mercado voltado para elas existe. Ter pessoas na mesa com experiência sobre esses produtos é importante”, diz Ana Martins.
  • Quando ela recebeu em mãos a carteira da Sallve, marca de produtos sustentáveis para cuidados com a pele, os seus sócios enxergavam poucas chances de seguir com a negociação. Mas, como mulher, Martins entendeu o potencial da empresa e pediu duas semanas para estudar o investimento.

Como criar uma cultura de inovação em grande empresa?

  • Daniel Randon, principal executivo da indústria metalmecânica gaúcha Randon, e Marco Stefanini, fundador da empresa de tecnologia Stefanini, dividiram o palco do South Summit nesta quinta-feira para tratar dos desafios de inovação em grandes empresas.
  • Na Randon, um conglomerado com receita de R$ 11,2 bilhões em 2022, a saída foi montar um ecossistema com mais de 80 startups que tem algum tipo de relação com a empresa — fornecendo produtos ou serviços, ou desenvolvendo tecnologia em conjunto com a Randon.
  • Boa parte dos R$ 100 milhões deslocados pela empresa para a agenda ESG até 2030 deverá ser destinada a inovações desenvolvidas em conjunto com startups, diz Randon.
  • Stefanini defendeu a formação contínua de mão de obra como uma forma de reter talentos e, via de regra, criar um ambiente mais rico para trocas de ideias dentro das corporações num cenário de competição global pelos mesmos talentos.

Quais são as vantagens do investimento-anjo?

  • Em painel sobre investimentos-anjo, líderes de redes de investidores compartilharam dicas para empreendedores em busca de capital inicial para pivotarem suas ideias de negócio. Participaram da discussão Caroline Riley, presidente da FEA Angels; Ricardo Hoerde, diretor da Diálogo Logística; Luan Spencer, cofundador da EA Angels e Bruno Franco, investidor na Poli Angels.
  • Se comprometer com ideias factíveis, sem projeções estratosféricas de crescimento, para Riley, é o primeiro passo para atrair a atenção dos anjos." Fazer uma boa análise de mercado, e de concorrência, além de um time de fundadores com habilidades complementares também são diferenciais", complementou.
  • Em comum, todos os investidores concordam com a máxima de que a principal vantagem do investimento-anjo está na chance de receber algo além da injeção financeira, já que aproximação de um rede de investidores, ao invés de alguns fundos isolados, é considerada uma estratégia de crescimento e também para obter smart money.
  • "Com os anjos, você tem uma constante troca com um grupo maior e mais experiente, que vai te abrir portas”, disse Bruno Franco, investidor na Poli Angels. Já Riley destaca a conexão com os outros integrantes da rede de investidas como um benefício. "A troca de experiência entre empreendedores é algo que ajuda nas dores e resoluções todos os dias".

Com informações da assessoria de imprensa do South Summit Brazil. A jornalista viajou a Porto Alegre a convite do South Summit Brazil

 

 

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