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Skype teve de passar por "teste da mãe", diz presidente

Niklas Zennström atribui sucesso do Skype à facilidade de uso do software, que foi comprovada após sua própria mãe conseguir usá-lo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2011 às 13h42.

Leia entrevista exclusiva com Niklas Zennström, presidente do Skype, concedida a EXAME na sede da empresa em Londres:

EXAME - Como você explica o sucesso do Skype?

Zennström - Normalmente, os engenheiros fazem um software para eles mesmos e seus amigos. Eles não pensam que os usuários não estão interessados na tecnologia. Por isso nós fizemos o "teste da mãe": se nossas mães fossem capazes de usar o Skype, qualquer um conseguiria.

EXAME - Sim, mas como nasceu o Skype?

Zennström - O Skype surgiu a partir de uma situação que eu mesmo vivi. Na época da venda do Kazaa, eu estava na Suécia, o Janus estava na Dinamarca e nossos engenheiros estavam na Estônia. Eu gastava uma fortuna para falar com eles. Por isso procuramos um programa na internet que fizesse ligações de graça. Encontramos alguns que funcionavam muito mal. Foi quando percebemos que poderíamos solucionar esse problema com a tecnologia do Kazaa. Na verdade, é incrível que ninguém tenha se interessado por esse mercado antes. Eu pensei: por que ninguém está fazendo isso em larga escala? Era a oportunidade para criar uma empresa de 1 bilhão de dólares e transformar a maneira como as pessoas se comunicam.

EXAME - Por que vocês não investiram em publicidade convencional para divulgar o Skype?

Zennström - O marketing viral, do boca a boca, já era parte do plano. Com o Kazaa foi assim. Percebemos que, hoje, na internet, se você tem algum produto que resolve o problema de alguém, isso vai se espalhar como fogo em palha. As pessoas vão contar para seus amigos. Especialmente se a pessoa estiver na frente do computador: É só mandar um e-mail.

EXAME - Por que as companhias tradicionais de telecomunicações não pensaram em algo parecido com o Skype antes?

Zennström - É difícil ser inovador quando você é grande, quase impossível. Poucos conseguem, como a Apple. Essa é uma tarefa para quem é novo no mercado. O melhor é que você realmente não sabe de onde as grandes idéias virão. Não precisa necessariamente vir do Vale do Silício. Pode vir de qualquer parte do mundo onde tenha gente inteligente que quer mudar o jeito de fazemos as coisas.


EXAME - Quando vocês criaram o Kazaa, o Napster (um dos primeiros programas a realizar a troca de música digital na internet) já enfrentava problemas legais. Por que vocês fizeram outro programa para a troca de arquivos de música?

Zennström - O Napster cresceu muito rápido. Isso mostrou que a troca de arquivos funcionava. Mas sabíamos que não poderíamos competir com eles. Então pensamos e criar algo mais universal: um programa para trocar vídeos, fotos e documentos. Então o Napster começou a enfrentar problemas e teve que parar de funcionar na primeira metade de 2001. Foi quando os usuários do programa migraram para o Kazaa. Isso não era parte do nosso plano. Tentamos entrar em contato com a indústria da música para oferecer um modelo de negócios baseado com anúncios ou assinaturas. Mas eles não quiseram se reunir com a gente.

EXAME - Como foi ser o inimigo número 1 da indústria fonográfica americana?

Zennström - No começo, eles simplesmente nos ignoraram. Quando o Napster acabou e começamos a crescer rapidamente, vazou um relatório da indústria fonográfica dizendo que o Kazaa era "o maior problema que eles já haviam enfrentado". Sempre tinha gente nos perseguindo, tentando nos entregar documentos e nos ameaçando. Muitas vezes foi intimidador. Às vezes eu sentia que eles eram muito grandes e eu muito pequeno. Mas isso nos deu energia para o negócio seguinte. Percebemos que não éramos experientes o suficiente para convencer a indústria da música a trabalhar conosco e decidimos sair desse negócio.

EXAME - Você sempre foi criativo?

Zennström - Na faculdade de engenharia percebi que não queria ser apenas engenheiro. Eu queria trabalhar com tecnologia e aplicá-la a um negócio. Por isso decidi fazer faculdade de administração também. Sempre fiquei intrigado com as oportunidades da internet. Mas eu não era o "nerd" que trabalhava em novos software no tempo livre.

EXAME - Quem são os seus ídolos?

Zennström - Não tenho um modelo específico, mas tem algumas pessoas que eu admiro. Um deles é Ingvar Kamprad, o fundador da Ikea. Ele começou fazendo móveis em uma pequena vila na Suécia e agora é o maior fabricante de móveis do mundo. Kamprad sempre foi focado no valor para os consumidores e em um modelo de negócios simples.


EXAME - A Suécia é um estado de bem-estar social. Como esse ambiente o influenciou?

Zennström - A Suécia não inspira o empreendedorismo, infelizmente. Lá todos são muito parecidos. Há poucos pobres, o que é fantástico. Mas não é um ambiente inspirador para quem quer ser bem sucedido. A coisa boa é que a Suécia é um país pequeno, com um mercado pequeno. Se você quer fazer alguma coisa grande, percebe rapidamente que tem que sair de lá e ir para o mercado mundial. Eu sempre quis sair da Suécia. Estudei nos Estados Unidos durante o ensino médio e a faculdade.

EXAME - Por que você escolheu Janus Friis para ser o seu parceiro de negócios?

Zennström - Conheci o Janus há mais de dez anos quando trabalhava na empresa sueca de telecomunicações Tele2. Precisei recrutar um time na Dinamarca e coloquei um anúncio no jornal. Janus respondeu, ele tinha 21 anos. Quando o entrevistei sabia que tinha que contratá-lo. Ele conhecia bastante da internet. Acho que nos damos muito bem e trazemos à tona o melhor um do outro. Somos complementares. Ele é muito inteligente, não foi para a faculdade de engenharia ou de negócios por isso tem o pensamento menos restrito do que o meu. Tem coisas que ele acha possível e eu não. Ele me desafia o tempo todo.

EXAME - O que mudou na sua vida depois da venda do Skype? No mínimo, você ficou mais rico.

Zennström - O meu dia a dia não mudou muito porque estou fazendo basicamente a mesma coisa. A grande diferença é que antes estávamos em um ritmo alucinante porque ainda não tínhamos provado nosso potencial. Agora temos a oportunidade de retomar o fôlego. Mas continuo trabalhando duro porque prefiro olhar para frente e não para trás. Quando você tem mais recursos consegue pensar em construir novos negócios, ajudar outros empreendedores, investir em empresas que estão no começo. Muitos empreendedores agora vêm até mim pedir conselhos e posso ajudar. Gosto muito de fazer isso.

EXAME - Você trabalha menos horas por dia?

Zennström - Começo a trabalhar às 8h com uma reunião durante o café da manhã e termino às 22h com um jantar de negócios. E ainda almoço na minha mesa. Não posso me dar ao luxo de trabalhar menos porque o nosso negócio está crescendo muito rápido. A diferença é que agora tenho mais gente para ajudar.

EXAME - O que você faz no tempo livre?

Zennström - Tento não trabalhar mais nos finais de semana. Mas sempre checo meus e-mails e recebo ligações. Tento tirar um tempo para velejar, ficar com a minha mulher e amigos. Também gosto de esquiar. Esse ano não consegui por causa do tempo ruim.

EXAME - Você tem telefones tradicionais?

Zennström - Em casa, não. Aqui no escritório ainda temos alguns.

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