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Sem caixa-preta, BNDES encara mundo real: acelerar a venda de ativos

Banco gastou 48 milhões de reais em auditoria que não detectou crimes na concessão de empréstimos feitos nos governos do PT

Gustavo Montezano: meta de desinvestimento encontrou resistência dos funcionários (Adriano Machado/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 11h16.

Última atualização em 21 de janeiro de 2020 às 11h43.

São Paulo — O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social caiu na real neste início de 2020. Após um ano e 10 meses de investigação sobre um suposta caixa preta na concessão de empréstimos, o banco divulgou, no fim de 2019, que não encontrou irregularidades em oito operações com JBS, Bertin e Eldorado Brasil Celulose.

A conta da auditoria, divulgada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, chegou a 48 milhões de reais, pagos ao escritório Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, que subcontratou outro brasileiro, o Levy & Salomão.

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“Os documentos da época e as entrevistas realizadas não indicaram que as operações tenham sido motivadas por influência indevida sobre o banco, nem por corrupção ou pressão para conceder tratamento preferencial à JBS, à Bertin e à Eldorado”, diz um trecho do relatório.

Abrir tal caixa-preta foi uma das missões dadas por Jair Bolsonaro ao presidente do banco, Gustavo Montezano, que tomou posse em julho. Seu antecessor, Joaquim Levy, caiu, entre outros fatores, por não ter conseguido apontar crimes na concessão de empréstimos do governo petista.

Reportagem publicada por EXAME em dezembro mostra que a reestruturação do BNDES é um bom exemplo do tamanho das dificuldades enfrentadas pelo governo para colocar suas ideias em prática — e de como o Brasil real é diferente daquele dos objetivos grandiloquentes.

A equipe de Guedes ainda está muito longe de conseguir se desfazer da carteira de investimentos em empresas de capital aberto, centro das maiores polêmicas que envolveram o BNDES nos últimos anos, por causa de aportes em empresas como a processadora de alimentos JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, envolvida em um escândalo de corrupção.

Um plano para se desfazer das participações em companhias abertas, avaliadas em dezembro em cerca de 120 bilhões de reais, e criar novas regras para esse tipo de desinvestimento do banco enfrentou forte resistência dentro da instituição e acabou abandonado em favor de uma versão desidratada que não se sabe se e quando será efetivamente colocada em prática.

A carteira de ações de empresas abertas detidas pelo BNDES, abrigada na subsidiária BNDES Participações, tem 102 companhias. A petroleira estatal Petrobras responde por cerca de 43% da carteira, seguida pela fabricante de alimentos JBS, com 15,4%, pela mineradora Vale, com 13,1%, e pela companhia de energia elétrica Eletrobras, com 10,4%.

Enquanto a renda variável equivale, em média, a 0,5% dos ativos totais dos bancos de varejo nacionais e a 0,4% no caso dos bancos de desenvolvimento internacionais, a proporção chega a 12% no BNDES.

O plano previa vender no mercado todas as ações detidas pelo banco até o final de 2020. O lucro potencial com essas operações está estimado neste momento em 40 bilhões de reais.

O objetivo da equipe econômica de Guedes, desde o princípio, era dar mais transparência às operações do BNDES e acabar com o crédito subsidiado, que distorce o mercado ao favorecer determinadas empresas e incentivar a criação de projetos que não seriam viáveis em condições normais.

No modelo traçado, o BNDES deve operar à maneira de um banco de investimento privado, mas tendo como clientes estados e municípios, apoiando projetos em áreas de importância social, como a de saneamento básico, e prestando assessoria técnica para privatizações e parcerias público-privadas.

O plano de vender as ações provocou um levante entre os funcionários do segundo e do terceiro escalão, responsáveis por executar a antiga estratégia de investimentos. Seu principal argumento contra o desinvestimento rápido nas companhias abertas é que as operações renderam e continuam rendendo bastante para o banco. Nos nove primeiros meses de 2019, o lucro do BNDES foi multiplicado por 2,6 ante igual período de 2018, para 16,5 bilhões de reais.

Montezano não quis comprar a briga com os funcionários de carreira do banco e começou a colocar em prática um plano alternativo. A proposta prevê a venda de um terço da carteira de ações em 2020, equivalente a 38 bilhões de reais, e o restante até o final de 2022.

Um avanço veio no fim de dezembro, com a venda de cerca de 2,1 bilhões de reais em ações do frigorífico Marfrig, o primeiro grande negócio do BNDES em 2019. O ano novo começou com a venda de cerca de 400 milhões de reais em ações da Light, distribuidora de energia no Rio de Janeiro.

Com o mistério da caixa-preta aparentemente resolvido, é hora de acelerar o passo.

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