Se BB fosse privatizado seria mais eficiente, diz presidente do banco
Rubem Novaes ressaltou que essa não é a política do atual governo, mas que espera que um dia se chegue a conclusão de privatizar o Banco do Brasil
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 14h52.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às 14h54.
São Paulo — O Banco do Brasil não venderá ativos a qualquer preço na sua política de desinvestimentos de negócios que não sejam do core business da instituição, de acordo o presidente do BB, Rubem Novaes. "Não temos valor preciso dos desinvestimentos", disse ele, sem dar mais detalhes.
O foco do banco, conforme ele, é fazer a abertura de capital ou identificar parceiros estratégicos para as áreas de gestão de recursos (asset) e de banco de investimento.
O martelo ainda não estaria batido. Segundo Novaes, ambas as estratégias não significam a divisão de receitas dessas áreas, mas maximizar o valor do banco e criar, com um parceiro, por exemplo, um bolo maior de ganhos para a instituição.
Na área de banco de banco de investimento, conforme o vice-presidente de negócios de atacado do BB, Márcio Hamilton, o banco tem um horizonte de 30 operações de renda fixa local, num total de R$ 7,5 bilhões.
Sobre a BB Seguridade, holding que concentra os negócios de seguros do banco, o presidente do BB disse que a companhia não está na lista de desinvestimentos do banco como colocou o secretário de desestatização, Salim Mattar, responsável por tocar a agenda de privatizações do ministro da Economia, Paulo Guedes. "Quando quiserem saber sobre o banco falem com o presidente do Banco do Brasil", retrucou Novaes.
Na área de investimentos, o banco está, conforme o vice-presidente de negócios de varejo, estudando opções como, por exemplo, a abertura de uma corretora de valores, um parceiro, mas que não está nada fechado.
Instituição privatizada
O presidente do Banco do Brasil afirmou que, se a instituição fosse privatizada, com a equipe que possui, teria melhores resultados que os atuais. Ponderou, contudo, que a instituição tem capacidade de encostar nos seus pares privados, principalmente, sob o ponto de vista de rentabilidade, uma vez que consegue preencher essa lacuna com os profissionais que atuam no banco.
"Se o BB fosse privatizado, seria mais eficiente e ganhariam todos. Mas não é essa política do governo (de Jair Bolsonaro) de privatizar o banco. Espero que um dia se chegue a essa conclusão de privatizar o banco e que o País um dia esteja preparado para isso", disse ele, em coletiva de imprensa, na manhã desta quinta-feira, 14, na sede do banco.
Novaes reafirmou que sua gestão está focada em maximizar o valor do BB. Segundo ele, o banco tem entraves à medida que não dispõe da mesma liberdade que privados para tomar certas atitudes. "É possível ter retorno no patamar dos bancos privados, mas somos públicos", avaliou o presidente do BB.
'Petização'
O presidente do Banco do Brasil afirmou que, se houve movimento de "petização" na instituição foi mais no passado, já remoto. No grupo que encontrou na direção do banco e em contato com a equipe, conforme ele, o que percebeu foi um "foco totalmente profissional".
"Confesso a vocês que quando foi me passada a responsabilidade de assumir o BB, tive a intenção de fazer o que acontece em todo governo novo: rever, mudar tudo, mas no contato que tive no tempo de transição, quando acessei a alta direção do banco, pude notar que o ideal para nós era manter a equipe quase intacta, uma vez que tinha alta qualidade, profissional e sem qualquer viés político e ideológico", disse Novaes.
O presidente do BB acrescentou ainda que a nova gestão do banco está "muito satisfeito" com as escolhas feitas. "É quase uma continuidade da administração anterior, inclusive com o (Marcelo) Labuto que era presidente e está hoje ao meu lado na vice-presidência do banco. Muitos outros vice-presidentes, da gestão antiga de (Paulo) Caffarelli (hoje na Cielo) e coordenada mais recentemente pelo Labuto", explicou o executivo.
Guidance
Rubem Novaes afirmou que o guidance da instituição para crédito é mais conservadora que os players privados, mas que pode ser revisto caso a demanda "exploda" após a aprovação da reforma da Previdência. "Todos os bancos estarão dispostos a rever o guidance se a economia melhorar muito. Quando uma nova realidade se firmar no Brasil, planejamentos de todas as empresas serão revistos", disse.
Sobre a reforma da Previdência, o executivo disse que a "única certeza é de que haverá reforma da Previdência". "A esperança que temos é que seja a melhor reforma da Previdência possível. Nós temos uma esperança matemática com reforma da Previdência. Se confirmar cenário mais positivo, certamente, teremos nova média e planejamentos serão ajustados", explicou Novaes.
Ele disse ainda que as projeções do BB estão em linha com o que o banco espera de um crédito sadio. "Para aumentar crédito, precisamos de demanda sadia de consumidores e empresários", acrescentou.
O vice-presidente de negócios de varejo do BB, Marcelo Labuto, destacou que o banco está construindo um resultado sustentável. Segundo ele, a instituição poderia gerar resultado mais rápido, mas não seria algo sustentável. "Nosso foco é deixar o banco estruturado, forte, com resultados sólidos e crescentes", concluiu.
IHCD
O presidente do Banco do Brasil afirmou que ainda não há uma decisão, um cronograma, sobre a possível devolução de recursos no âmbito do instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD), mas que se o banco tiver de devolvê-los isso ocorrerá de forma parcelada. "Temos condições de devolver os recursos do IHCD sem qualquer trauma, mas não há cronograma", explicou.
O executivo reforçou que os recursos do IHCD foram para reforçar o crédito agrícola e não para suprir uma necessidade de capital do banco.
Os instrumentos somam cerca de R$ 8 bilhões e foram usados como funding nos anos de 2012 e 2013 para o crédito agrícola. Na época, o BB fez contrato de IHCD com o pagamento de títulos públicos. Depois, conforme a regra anterior à Basileia III, era necessário fazer a monetização dos ativos. O banco fez isso em 2013, com aprovação no Congresso e, no Conselho Monetário Nacional (CMN).
Mulheres no banco
O presidente do Banco do Brasil afirmou que o desejo de sua gestão é de ter uma participação "cada vez maior" das mulheres na gerência do banco. "Se houver qualquer entrave para a ascensão das mulheres no banco será derrubado", destacou ele, acrescentando que, apesar de ser favorável à maior presença feminina no banco, não concorda com "políticas de cota".
Novaes não estabeleceu, contudo, uma meta para fortalecer a presença feminina em cargos de chefia. Após ser eleito presidente do BB, postagens feitas pelo executivo nas redes sociais repercutiram por terem suposto cunho machista.
Durante a gestão passada do BB, ainda sob a presidência de Paulo Caffarelli, atualmente na Cielo, a participação das mulheres em postos de direção no banco subiu de 12% para 16% e a meta era chegar a 22%, considerando o tamanho da instituição.