Santander: a executiva afirmou que o Brasil é exemplo para outros países da América Latina na operação de microcrédito (Juan Medina/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de julho de 2017 às 11h16.
Última atualização em 5 de julho de 2017 às 11h18.
Madri - A presidente mundial do Santander, Ana Botín, vê uma perspectiva melhor para o Brasil no cenário atual do que há um ano, a despeito da instabilidade política, piorada com a nova crise deflagrada pelas delações da JBS.
Indicadores como a inflação que está em queda e a melhora da confiança são, conforme a executiva, importantes e evidenciam esse cenário no País.
Ana concedeu entrevista coletiva durante o XVI Encontro Santander América Latina, evento organizado pelo banco na capital espanhola, nesta quarta-feira,5. Apesar de solicitar aos jornalistas presentes que as perguntas se concentrassem mais no tema do evento,
"O protecionismo na era digital" e assuntos econômicos, ela fez breve comentário sobre a situação política no Brasil e reforçou a aposta do banco no País.
"A situação complicada no Brasil é mais política que econômica. Seguiremos apoiando nossos clientes no Brasil a despeito da situação política do País. Temos apresentado crescimento nos últimos anos no Brasil apesar da situação econômica", afirmou Ana. "Vamos continuar apostando no Brasil como sempre", acrescentou a executiva.
De acordo com ela, a expectativa de crescimento de 0,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano sinaliza ventos ainda melhores para a operação brasileira, que tem apresentado "excelentes resultados".
Disse ainda que o Brasil é exemplo para outros países da América Latina na operação de microcrédito. O banco tem digitalizado a operação e espera em novembro próximo replicar o segmento no México.
Sobre o avanço digital, Ana disse que o cenário atual exige a reinvenção da atividade bancária e que algumas estruturas físicas passam a não ser mais tão necessárias. De acordo com ela, o foco do Santander é ser uma plataforma aberta de serviços financeiros para todos os seus clientes.
Oportunidades
Embora tenha deixado passar duas oportunidades de aquisição que o permitiriam crescer no Brasil, o Santander segue interessado em oportunidades inorgânicas no País, de acordo com Ana Botín.
No entanto, para que passe pelo crivo do grupo espanhol, segundo a executiva, o ativo tem de cumprir "rigorosos critérios financeiros".
"Se for uma oportunidade de crescimento rentável, vamos analisar oportunidades, mas têm de passar por rigorosos critérios financeiros. Vamos analisar opções inorgânicas estratégicas que somem ao mix de negócios do banco e cumpram critérios financeiros", destacou a presidente mundial do Santander.
Nos últimos anos, o Santander chegou a avaliar a compra do HSBC no Brasil, que passou para as mãos do Bradesco, e também o varejo do Citi, que foi para o Itaú Unibanco, operação que ainda depende da aprovação dos reguladores.
Nos bastidores, o nome do Santander é levantado como possível comprador de outros negócios como o banco Original, da holding J&F, que busca liquidez após as delações dos executivos da JBS.
O banco também estaria de olho, conforme antecipou na terça-feira, 3, a Coluna do Broadcast, na venda de parte da Guide, plataforma de investimentos do banco Indusval.
Ela destacou, contudo, que o Santander está presente em segmentos importantes, como grandes empresas, microcrédito, e que poderia ser maior em algumas delas, como em gestão de grandes fortunas (wealth management).
Mas, de acordo com a executiva, há "enormes" oportunidades orgânicas importantes. Na área de gestão de recursos, por exemplo, o Santander recomprou sua operação e, com isso, terá mais flexibilidade para crescer neste segmento, conforme ela.
Ana, que em outros momentos já disse que o Santander não tinha o tamanho que desejava no Brasil, afirmou que o banco tem desempenhado "excelentes resultados".
Depois de dois anos perdendo a liderança no ranking de geração global de resultados para o Reino Unido, a filial brasileira do Santander voltou a apresentar o melhor resultado para o grupo espanhol no ano passado.
Além de voltar a crescer, o banco também tem conseguido ser mais rentável após anos com desempenho menor que seus pares privados. No primeiro trimestre deste ano, o retorno (ROAE, na sigla em inglês) do Santander foi a 15,9%, ultrapassando a meta (guidance) de 15,6% esperado para o final de 2018.
No Brasil, o Santander é o terceiro maior banco privado, com cerca de R$ 713,5 bilhões em ativos totais, atrás de Itaú Unibanco e Bradesco. Sua carteira de crédito somava R$ 325,426 bilhões ao final de março.
Os resultados do banco espanhol no País referentes ao segundo trimestre serão conhecidos no dia 31 de julho, antes da abertura do mercado.
Uma maior integração entre os países da América Latina poderia contribuir para o crescimento da região, na opinião da presidente mundial do Santander. No Mercosul, conforme ela, o porcentual de integração dos países é de cerca de 27% enquanto na Europa é de 63%.
Questionada sobre o avanço do protecionismo diante do Brexit, que marcou a saída do Reino Unido da União Europeia, e ainda a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, ela destacou que atividades que priorizam mercados locais mais "destroem que constroem". Segundo ela, nesse contexto é fundamental apoiar os clientes a explorarem novos mercados que se conectem.
No Santander, conforme Ana, as equipes trabalham cada vez mais integradas por meio da adoção de iniciativas conjuntas. "A abertura é positiva para todos e o Santander tem um papel importante nesta questão", afirmou a executiva.