Presente em 80 países, a empresa Crocs pode fechar as portas
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
As sandálias Crocs nasceram numa era de boom econômico dos Estados Unidos. As coloridas e excêntricas sandálias, que levam o nome da empresa, apareceram em 2002, quando o país se recuperava de uma recessão. Eles eram um investimento barato (cerca de 30 dólares), confortáveis e prometiam durar para sempre - algo que se tornou um problema tempos depois.
Todo mundo vestia um par de Crocs. Figurões conhecidos como o ex-presidente George W. Bush e o vocalista da banda Aerosmith Steven Tyler usavam e aumentavam ainda mais a curiosidade pelos sapatos. A indústria da moda os criticava, mas eles venderam 100 milhões de pares até hoje. Até que um dia a bonança na economia passou e os Crocs foram abandonados no fundo do armário.
Segundo o jornal Washington Post, a empresa expandiu os negócios para atender a crescente demanda, mas financeiramente não se saiu bem. No ano passado, ela perdeu 185 milhões de dólares, demitiu 2 000 funcionários e teve de se virar para pagar milhões em dívidas. Agora, conta com um excedente de sapatos e seus auditores anotaram no relatório anual que há "condições que levantam dúvidas sobre a capacidade de manter o negócio".
As ações da empresa despencaram 76%. A companhia tem até o final de setembro para quitar suas dívidas. "A empresa está frita", disse ao Washington Post Damon Vickers, do fundo de investimentos Nine Points Capital Partners, nos Estados Unidos. "Eles estão mortos e não sabem." Uma péssima notícia para uma empresa que vende seus sapatos em mais de 80 países, incluindo o Brasil, e que faturava cerca de 700 milhões de dólares anualmente.
A história da Crocs é um reflexo da expansão e contração da economia americana. Em 2002, três amigos velejadores -- Scott Seamans, George Boedecker e Lyndon Hanson -- queriam apenas ter, em seus armários, um calçado perfeito para usar em barcos: confortável, antiderrapante e que não acumulasse água. Descontentes com os produtos que existiam no mercado, eles resolveram desenvolver um modelo próprio.
Nos dois meses seguintes, eles deram continuidade à idéia. Seamans, inventor, elaborou, em casa, uma espécie de resina bem leve, batizada de Croslite. Para o desenho do sapato, foram usados alguns moldes adaptados. Os primeiros exemplares foram encomendados a uma fábrica do Canadá. Depois de pronto, o calçado foi batizado de Crocs, pois tinha aparência que lembrava um crocodilo.
Em 2006, a empresa vendeu suas ações, arrecadando 200 milhões de dólares -- o valor mais alto da indústria de sapatos -- o que possibilitou investimentos para aprimorar a produção e acompanhar a demanda de mercado. O problema é que enquanto a empresa investia pesado, os consumidores fechavam suas carteiras.
A empresa utilizou o dinheiro da oferta pública de ações para diversificar e adquirir novos negócios como a Jibbitz, que fabrica produtos para enfeitar o Crocs, e a Fury Hockey, que usava o Croslite para criar materiais esportivos. Os bons tempos acabaram com a crise global. Segundo o presidente executivo da empresa John Duerden, a Crocs foi mais afetada do que os concorrentes porque continuou a investir para manter um crescimento similar ao dos anos anteriores.
O problema com um sapato feito de um material quase indestrutível é que os consumidores não precisam de novos pares. No ano passado, a empresa também foi obrigada a acabar com a Fury Hockey. Rachel Weingarten, especialista em marketing e tendências, colocou os Crocs em segundo plano. "Talvez em uma década, a nostalgia volte", diz Weingarten. "E então um par cor de rosa de Crocs pode ser retirado do fundo do armário."