Rival do Tinder, app holandês chega ao Brasil prometendo matches melhores
Empresa de tecnologia que mais cresce na Holanda, o app The Inner Circle tem 1,6 milhão de usuários, que precisam de aprovação para se cadastrar
Carolina Riveira
Publicado em 13 de abril de 2019 às 08h00.
Última atualização em 13 de abril de 2019 às 10h19.
Quando ficou solteiro há cerca de oito anos, o holandês David Vermeulen, à época com 35 anos, sofreu nas plataformas de namoro online. Segundo ele, elas eram cheias de usuários com perfis falsos e apelidos estranhos como “twinklestar29” — um cenário conhecido por quem viveu os bate-papos online na era pré-redes sociais.
Foi aí que, no fim de 2012, o empresário decidiu lançar sua própria plataforma de namoro online, que batizou de The Inner Circle (na tradução ao pé da letra, algo como “círculo interno”, dando a ideia de exclusividade). Hoje disponível em mais de 30 cidades pelo mundo e com mais de 1,6 milhão de usuários, o app foi lançado oficialmente no Brasil nesta semana. O app não tem nada a ver com a banda de reggae jamaicana Inner Circle, autora de "A La La Long", caso você tenha se perguntado.
A plataforma holandesa nasceu com a proposta de focar na qualidade dos "matches", como são conhecidas as combinações, e não somente na quantidade de pessoas disponíveis. O The Inner Circle também promove eventos e festas presenciais para que os usuários se conheçam pessoalmente. “Apesar do namoro online, acreditamos que grandes conexões podem ser feitas na vida real”, diz o fundador David Vermeulen, que esteve em São Paulo nesta semana para as primeiras festas do app no Brasil.
Por enquanto, a ferramenta estará disponível apenas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A empresa pretende levá-la em breve para outras capitais, como Brasília e Porto Alegre. O app já havia lançado uma versão de testes para os brasileiros no ano passado, e, segundo a empresa, mais de 20.000 pessoas já testaram a plataforma nos últimos meses.
Para cumprir a promessa de combinações de mais qualidade, o The Inner Circle tem um algoritmo que tenta apresentar aos usuários pessoas com as quais elas potencialmente teriam alguma afinidade. O app se conecta ao perfil do usuário em redes como Facebook e LinkedIn e coleta informações sobre trabalho, escolas em que as pessoas estudaram, amigos em comum ou assuntos pelos quais se interessam.
O perfil também é mais elaborado do que a minibiografia da concorrente Tinder, onde as pessoas costumam escrever apenas algumas linhas. Também há a opção de filtros que vão além de idade, gênero e localização, como a escolha entre mostrar ou não pessoas que têm filhos.
Uma particularidade é que, para conseguir acesso, é preciso ser aprovado antes pela equipe do aplicativo. Vermeulen explica que a seleção prévia é uma forma de manter a comunidade livre de perfis falsos e liberar o acesso somente a quem está de fato interessado em conhecer pessoas. O fundador afirma que metade dos interessados chega a ser barrado. A aprovação é feita pessoalmente pelos funcionários do aplicativo e, segundo seus executivos, não abre espaço para preconceito.
Segunda a empresa, já são mais de 25.000 brasileiros aguardando aprovação, o que, contando com os usuários que já estavam testando a plataforma, pode dar ao app mais de 40.000 usuários nestes primeiros meses — se todos forem aprovados, é claro. A expectativa é chegar a 100.000 até o fim do ano no Brasil.
Cansaço do Tinder?
O The Inner Circle terá no Brasil a concorrência de outros aplicativos de relacionamento mais consolidados por aqui, sobretudo o Tinder , líder do mercado nacional e no Brasil desde 2013, além de outros como Happn, Juno, Hornet e Grindr (os dois últimos voltados ao público gay ).
Vermeulen acredita que os concorrentes fizeram “um bom trabalho” em divulgar os apps de relacionamento nas grandes cidades brasileiras e em fazer o namoro online se tornar “aceitável”. “Mas assim como vem acontecendo em outros países, o Brasil está meio cansado do Tinder. Virou um pouco ‘fast food’. As pessoas estão dispostas a gastar mais tempo nos perfis, e não só deslizar infinitamente”, afirma o holandês, fazendo referência ao ato de deslizar para a esquerda ou para a direita para aprovar um potencial parceiro.
O The Match Group, grupo dono do Tinder e de outra dezena de apps de relacionamentos como Par Perfeito e OkCupid, detém quase 60% do mercado nacional. O Brasil é o maior mercado do Tinder na América Latina e o segundo maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Dentre as cidades brasileiras, a mais popular é São Paulo, seguida pelo Rio. No primeiro trimestre de 2019, o Tinder tornou-se o aplicativo não-jogável mais rentável do mundo, com faturamento de 260,7 milhões de dólares nas lojas de aplicativos Apple Store e Play Store, segundo a consultoria Sensor Tower (o Tinder conseguiu superar a plataforma de streaming Netflix, então líder em faturamento mas que passou a redirecionar seus pagamentos para fora das lojas de modo a não pagar taxas à Apple).
Apesar da liderança do Tinder, outros apps, tais quais o The Inner Circle, vêm tentando fazer frente ao aplicativo. O próprio OkCupid, também do The Match Group, tem um perfil mais detalhado que o Tinder, com perguntas a serem respondidas - em países como os Estados Unidos, o OkCupid é visto como um Tinder melhorado.
Outro concorrente importante por aqui é o francês Happn, que conecta pessoas que passam pelos mesmos lugares na vida real. No ano passado, o Brasil foi o mercado que mais cresceu no Happn, que tem 7,5 milhões de usuários por aqui. Em comunicado a EXAME, o fundador do Happn, Didier Rappaport, afirmou que os números no Brasil “estão aumentando rapidamente” e que “o Brasil é definitivamente um de nossos três principais países” (ao lado de Estados Unidos e Índia).
Dentro da mesma estratégia de encontros do The Inner Circle, o Happn tem marcado para este sábado, por exemplo, um evento de comemoração ao "Dia do Beijo". A ideia é que os usuários participem de um café da tarde na Vila Madalena, onde podem se encontrar pessoalmente com o "crush" virtual.
O Tinder não divulga o número de usuários no Brasil, mas um levantamento da SEMRush, empresa que monitora o tráfego digital, analisou as buscas por apps de relacionamento no dia dos namorados de 2018 no Brasil e constatou que o Tinder é líder disparado de buscas. O app teve cerca de 3,4 milhões de pesquisas em junho, seguido por Hornet e Grindr (673.000 e 550.000 pesquisas, respectivamente). A SEMRush também afirma que, somente nos dez dias de abril, o The Inner Circle teve quase 400 buscas, com o lançamento despertando algum interesse entre os internautas.
A The Inner Circle não divulga o faturamento, mas afirma que a receita cresceu mais de 3.000% desde o lançamento — tal qual os concorrentes, o app é gratuito, mas há algumas ferramentas pagas. Em 2018, a The Inner Circle foi eleita a empresa de tecnologia que mais cresce na Holanda, ganhando o prêmio Technology Fast 50, oferecido pela consultoria Deloitte. A empresa afirma que até hoje não recebeu investimentos externos. Para o lançamento no Brasil, foram investidos 190.000 reais.
O Brasil vem se mostrando de fato um país promissor para as plataformas de namoro online: segundo dados do próprio Tinder, os brasileiros têm cerca de 7% mais "matches" que os outros solteiros do mundo. “O Brasil é um país de amor, paixão e diversão, assim como o The Inner Circle. Acho que somos uma boa combinação”, acredita Vermeulen. Hoje aos 43 anos, o empresário não é mais solteiro, mas segue na missão de encontrar uma cara metade para todos. Detalhe: ele conheceu a namorada pessoalmente, via amigos em comum.