Rival chinesa da Starbucks vai fazer IPO nos EUA
A rede de cafeterias Luckin Coffee quer bater a rival norte-americana e ser a maior da China até o fim de 2019
Carolina Riveira
Publicado em 23 de abril de 2019 às 06h00.
Última atualização em 23 de abril de 2019 às 06h00.
Uma empresa chinesa está perto de entrar para a lista dos IPOs de 2019 nos Estados Unidos - que já tem nomes como Lyft e Pinterest e, futuramente, a Uber. A rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee abriu processo para seu IPO nesta segunda-feira, e deve abrir capital na Nasdaq, bolsa norte-americana, possivelmente em maio ou junho.
A Luckin Coffee é a segunda maior rede de cafeterias da China, com 2.370 lojas no país, atrás da norte-americana Starbucks . Nascida em 2017, a companhia é a chinesa a ter o IPO mais rápido da história, com pouco mais de um ano e meio de funcionamento.
Empresas próximas ao processo disseram à agência de notícias Reuters que a Luckin espera atingir um valor de mercado de cerca de 3 bilhões de dólares com o IPO. Em 2018, a rede faturou cerca de 125,2 milhões de dólares (na conversão dos yuans chineses), como informa no documento divulgado nesta segunda-feira com dados sobre a empresa antes do IPO.
No documento divulgado nesta segunda-feira, a Luckin afirma que um dos planos é passar o Starbucks na China até o fim de 2019. Como carta na manga, a empresa tem o fato de oferecer produtos mais baratos e apostar frequentemente em promoções. Aos poucos, vem ganhando a confiança dos conterrâneos. Do primeiro trimestre de 2018 (o primeiro com resultados operacionais) ao mesmo período de 2019, a empresa cresceu mais de 3.000% em faturamento.
Apesar do faturamento crescente, o desafio da rede é o mesmo já conhecido pelas startups que vêm abrindo capital na bolsa recentemente: ganhar dinheiro. O prejuízo da Luckin foi de 241,3 milhões de dólares em 2018, quase o dobro do faturamento do período. Para arcar com as perdas, a empresa recebeu até agora 550 milhões de dólares em investimentos.
Mas embora a Luckin esteja em casa, concorrer com a Starbucks será tarefa dura: a rede norte-americana detém quase 59% de participação nas vendas em cafeterias na China, segundo dados de 2018 da consultoria Euromonitor (em 2012 eram 43%). A Starbucks tem mais de 3.300 lojas em diversas cidades chinesas, e sua meta é abrir uma nova a cada 15 horas no país e dobrar de tamanho até 2022.
A China é conhecida como um mercado onde empresas ocidentais têm dificuldade em prosperar. A própria Uber (que têm IPO previsto para o próximo mês), que lidera o mercado de transporte por aplicativo em todo o Ocidente, não conseguiu ser páreo para a chinesa Didi e desistiu das operações no país. Enquanto isso, redes sociais como Twitter e Facebook são proibidas pelo governo chinês, de modo que os chineses as substituem por opções locais como o Weibo (o "Twitter chinês") ou o WeChat (um aplicativo de mensagens, como o WhatsApp). Como mostra a liderança local do Starbucks, as empresas do mercado de alimentação não enfrentam tanta resistência quanto o mundo da tecnologia.
A briga pelo paladar dos chineses deve ser acirrada nos próximos anos. O consumo de café pelos chineses - conhecidos como assíduos consumidores de chá - ainda fica aquém de outros países. Os chineses consomem somente três xícaras de café por ano, ante 250 do Reino Unido e 363 dos Estados Unidos. Mas o cenário vem mudando, e as vendas de cafeterias na China cresceram 236% entre 2012 e 2017, enquanto o número de lojas mais que duplicou, segundo a Euromonitor.
A expectativa dos analistas é que o setor de café siga crescendo entre os chineses. E a Luckin quer convencer os investidores de que, tal qual as conterrâneas da tecnologia, pode dominar a China e deixar os ocidentais para trás no bilionário mercado do país.