Renner compra startup Uello para diminuir tempo de entrega aos clientes
Transação foi 100% paga com caixa da companhia; valor não foi divulgado – aquisição faz parte da estratégia da empresa de acelerar investimentos em omnicanalidade
Karina Souza
Publicado em 4 de abril de 2022 às 20h04.
Última atualização em 8 de abril de 2022 às 10h50.
A Lojas Renner, maior varejista de moda do Brasil, anunciou a compra da startup Uello na noite desta segunda-feira. O motivo é claro: melhorar eficiência logística, reduzindo o tempo de entrega final — ou seja, da loja ou do centro de distribuição até a casa dos consumidores, o que no jargão é chamado de “última milha”. Com a aquisição, a meta da Renner é aumentar de 45% para 80% o volume de entregas realizadas no mesmo dia ou no dia seguinte, ao longo dos próximos dois anos.
Isso será feito a partir da eficiência de rotas que a startup traz para a companhia. “Sempre dependemos de transportadoras terceirizadas para fazer essa experiência final e agora queremos ter esse controle dentro de casa para garantir velocidade, experiência e eficiência”, afirma Guilherme Reichmann, diretor de estratégia e novos negócios.
A ideia, portanto, não é abandonar o trabalho com as transportadoras, mas diversificar a forma como as entregas são realizadas. Hoje, a Uello tem um software de gestão de rotas e conta com uma espécie de marketplace com mais de 2 mil entregadores cadastrados. A startup tem uma boa reputação de entregas, com NPS na casa dos 80 pontos.
Na outra ponta, a Renner também quer transformar a Uello em uma unidade de negócios separada dentro da empresa. A startup tem clientes como Petz, MMartan, Enjoei e Alpargatas e não deve parar de atendê-los, mas sim usar a estrutura da Renner para expandir a presença nacional, hoje concentrada no Sudeste. “Ainda é cedo para estimar a receita potencial para os próximos anos”, afirma Fábio Faccio, CEO da Renner. Com a compra de 100% do capital social da startup, fundada por Fernando Sartori e outros sócios, a Renner ajudou a dar liquidez a fundos de venture capital, que somavam 50% do capital da logtech.
A aquisição vem depois de um estudo de 15 startups nos últimos dez meses. Além de olhar para a logística de última milha, outras áreas de interesse da companhia para investimento durante o ano são: operações de fulfillment (que preparam os pedidos) e a inteligência de estoques dentro de 600 lojas — como uma etapa anterior de otimizar as entregas. Para isso, a Renner trabalha de perto com o time de dados da empresa, a fim de identificar as melhores localidades para cada peça. Isso sem falar na inauguração do novo centro de distribuição, que levou R$ 1,2 bilhão em investimentos.
Diante de tantas prioridades ao longo do ano, a questão sobre mais aquisições parece inevitável. Fábio afirma que a companhia está de olho no que acontece no mercado, mas, via de regra, trabalha com parcerias comerciais (foram 150 startups e 120 provas de conceito realizadas nesse formato em 2021) e, além disso, dará ênfase ao um fundo de R$ 155 milhões, o RX Ventures, anunciado no início de 2022. Dentro da plataforma de corporate venture, o foco será investir em dez startups, num ciclo de quatro anos, compreendendo as áreas: logística, marketing, moda, e-commerce e marketplace, e fintech.
Fato é que a Renner foi surpreendida pela pandemia e intensificou aportes em tecnologia e operações ao longo do último ano. Ao todo, a companhia investiu R$ 488,5 milhões em tecnologia durante o último ano, quase o dobro dos R$ 265,7 milhões registrados no ano anterior.No último trimestre, houve aumento de 207,6% nos investimentos de maneira geral, impulsionados pela digitalização das operações e desenvolvimento do que a companhia chama de “ecossistema Renner”, que compreende a integração entre lojas físicas e vendas digitais.
Alguns resultados vieram de antemão: a companhia conseguiu reduzir em 18% os gastos por entrega a partir das lojas (o shipping from store ) nos últimos três meses do ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Resta saber o que virá agora, com a nova aquisição.