Marília Corrêa Borba, fundadora da Pronto Imagem: negócio criado por ela leva exames de imagem a distância a todo o país (Exame/Divulgação)
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 15h30.
Desafios, resistências ou olhares de desconfiança nunca intimidaram Marília Corrêa Borba, fundadora da Pronto Imagem, em Porto Alegre. Formada em medicina veterinária e vinda de uma família de empresários, ela foi incentivada desde cedo a estudar, explorar possibilidades e ir em busca de oportunidades – sempre pensando em como tornar a profissão efetivamente rentável e alinhada com seu propósito.
Depois de atuar em clínicas veterinárias voltadas a animais de pequeno porte e no Jockey Club de Poá, na clínica do cavalo atleta, ela decidiu fazer residência na Double LL Farm, nos Estados Unidos, para trabalhar com cavalos de corrida. Por lá, ficou mais próxima da radiologia e um novo campo de trabalho começou a se abrir.
Ao voltar para o Brasil, percebeu que muitos veterinários precisavam deslocar pacientes críticos para hospitais ou centros de diagnóstico para que pudessem fazer exames. “Vi que ali havia uma dor, um problema a ser solucionado”, conta. Em 2008, ela decidiu montar uma unidade móvel, em uma van, para atender às demandas.
O ponto de partida para profissionalizar o negócio foi a inscrição em um programa do Sebrae voltado ao suporte de empresas de até dois anos, com auxílio em áreas como jurídica, contábil e marketing.
No início, antes do advento da tecnologia, ela revelava os exames em uma clínica humana, mas o DNA de negócios da família, sempre a levava a pensar além. “Comecei a estruturar um projeto baseado na digitalização dos exames”, diz.
Nesse momento, ela soube de outra ação do Sebrae, voltada a ideias inovadoras, e conseguiu desenvolver um sistema de telerradiologia; algo raro da época, e conquistou o terceiro lugar na categoria Pequenos Negócios do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2023.
Atualmente, a empresa conta com três unidades móveis em Porto Alegre e região metropolitana, além do serviço de telerradiologia (laudos a distância) em todo o Brasil, e 27 profissionais – entre estagiários, terceirizados e fixos, sendo 75% da equipe formada por mulheres.
“Atendemos clínicas no interior da Bahia, por exemplo, que não conseguiriam ter um radiologista fixo pela falta de demanda. Isso me enche de orgulho e me motiva a avançar ainda mais”, diz.
Para esses estabelecimentos, basta adquirir o equipamento que o time da Pronto Imagem faz o laudo e envia digitalmente. Mas o grande salto foi durante a pandemia. De 2020 para 2021, a empresa cresceu 400%. E, apesar de não abrir o faturamento, a perspectiva de crescimento para 2025 é de 20%.
Mas chegar a esse patamar não foi simples. Marília lembra que, no início, teve que lidar com a resistência de muitos em relação a radiologia a distância. “Havia a desconfiança sobre a qualidade do exame porque era algo muito novo. Alguns questionavam como eu faria um laudo de qualidade sem ter visto o animal”, diz.
Além disso, apesar de vir de uma família de empreendedores, ela precisou estudar e pesquisar o mundo dos negócios. “Na faculdade de veterinária não aprendemos como administrar uma empresa e gerir pessoas”. Marília participou de congressos e encontros de empresários, estudou sobre tecnologia, e fez uma pós-graduação em Diagnóstico por Imagem.
Outro desafio foi aprender a lidar com as expectativas e demandas do time. No começo, Marília confessa que foi difícil, mas a chegada de seus filhos (uma menina de nove anos e um menino de sete) auxiliou nesse processo.
“A maternidade me levou a um outro nível de gestão; foi um divisor de águas. Aprendi a ser mais tolerante, a sempre olhar o ponto de vista de todos – e a ver mais valor nas opiniões diferentes das minhas –, a ter mais paciência e flexibilidade”, diz.
Para ter sucesso no empreendedorismo, Marília destaca alguns fatores. O primeiro é a ideia estar alinhada a uma demanda ou necessidade de um setor ou grupo de pessoas. “Mas sempre tendo como base um propósito muito claro. Eu identifiquei um problema em uma área que amo e conheço – e isso dá o impulso para tirar a ideia do papel”, diz.
O segundo é manter uma comunicação transparente, estando aberto a ouvir diferentes pontos de vista. Tão importante quanto isso é a humildade de entender que ninguém sabe tudo. “Eu não sou especialistas em números, por exemplo, por isso, sempre tenho reuniões com um gestor da área”.
Marília também chama atenção para a autoconfiança, principalmente no caso das mulheres. “A primeira pessoa que precisa acreditar na empresa somos nós mesmas. O que me chamou muita atenção na premiação do Sebrae é a quantidade de mulheres surpresas por ter vencido. Muitas falaram: ‘nossa, não achava que minha história era tão relevante’”, lembra.
Ela reforça que, muitas vezes, as pessoas têm ótimas ideias, mas se sentem inseguras e são desmotivadas. “Claro que há momentos difíceis; empreender está cheio de altos e baixos, e a vida está longe do que postamos no Instagram. Mas eu acreditei na ideia, estabeleci meus objetivos e trabalhei para realizá-los”, diz.
A empreendedora relaciona essa confiança ao tempo que atuou com cavalos, um meio extremamente machista naquela época. “Quando trabalhei nos Estados e no México, a maioria das fazendas era tocada por homens. Lembro de chegar para realizar um procedimento, por exemplo, e me deparar com vários olhares de desconfiança, de que eu não daria conta. Eles estavam prontos para me ver errar, mas eu respirava fundo e fazia o que precisava, mesmo com receio algumas”. “Essas experiências me preparam muito para ser a empresária que sou hoje”, completa.