Murilo Ferreira, novo presidente da Vale: missão do executivo era rastrear oportunidades para a empresa (Eduardo Monteiro/EXAME)
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2011 às 10h38.
São Paulo - Murilo Ferreira, o novo presidente da Vale, tem um longo histórico de atuação na empresa. Administrador de Empresas formado pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Ferreira ingressou na Vale em 1998, como diretor financeiro e comercial das operações de alumínio. Antes disso, passou pela Albras, fabricante também de alumínio, e ainda pela própria Vale, na época em que era estatal.
Ferreira foi um dos auxiliares mais próximos de Roger Agnelli, a quem deve substituir a partir de 22 de maio. O executivo ocupou a diretoria de fusões e aquisições da Vale, sendo o responsável por detectar as oportunidades de negócios em todo o mundo. Por isso, assessorou de perto Agnelli na aquisição da canadense Inco.
A compra da Inco, em 2006, é considerada por muitos como o divisor de águas da Vale, pois a transformou, de fato, em uma competidora mundial no mercado de mineração. A aquisição elevou a Vale da quarta para a segunda posição no ranking das maiores mineradoras diversificadas do planeta. Além disso, o níquel passou, de imediato, a ser o segundo produto mais importante da empresa brasileira.
"Financista"
Em janeiro de 2007, Ferreira foi nomeado presidente da Inco, quando Scott Hand, que ocupava o cargo, decidiu aposentar-se. Na época, sua indicação foi considerada uma vitória da ala “financista” da Vale, representada por profissionais que não tinham formação em Engenharia, mas sim em Economia, como Roger Agnelli, egresso do Bradesco, e Administração.
À frente da Inco, Ferreira ganhou fama de austero no controle de custos e na integração das estruturas antes dispersas da Inco. Uma das primeiras medidas do executivo foi cortar os luxos da diretoria e implantar um sistema espartano de trabalho. Uma das excentricidades encontradas por ele, por exemplo, foi o fato de a sede da Inco, no Royal Bank Plaza, ter janelas revestidas com uma película de ouro (sim, ouro).
Ferreira determinou que os diretores tivessem salas padronizadas – o que incluía uma decoração mais sóbria -, aboliu os e-mails e incentivou a conversa cara-a-cara.
Os maiores desafios, porém, estavam na área operacional. Ferreira iniciou o trabalho de integração e centralização das decisões. Seu argumento era de que a descentralização dificultava a disciplina no planejamento e na aplicação de recursos. Antes de sua chegada, cada mina ou refinaria da Inco tinha autonomia para decidir como bem entendesse o uso do dinheiro que lhe chegava.
Ferreira deixou a Vale em 2009. Na época, sua saída foi atribuída a problemas de saúde, mas há quem diga que, na verdade, Ferreira entrou em choque com Agnelli. O motivo seria a discordância de Ferreira dos planos de Agnelli para comprar a Xstrata, sexta maior mineradora do mundo e de origem anglo-suíça. O negócio, de fato, não foi adiante, mas o relacionamento dos dois teria se esgarçado.
Ferreira foi substituído, no comando da Inco, por Tito Martins, o mais cotado pelo mercado para assumir o posto de Agnelli.
Por isso, seu retorno, agora como presidente da mineradora, não deixa de ser uma surpresa. O executivo não aparecia na lista dos mais cotados para o cargo. A aposta do mercado era de que o atual presidente da Vale Inco, Tito Martins, assumisse a função. Também eram citados José Carlos Martins, diretor de Estratégia da Vale, e executivos de fora, como Antônio Maciel Neto, presidente da Suzano, e Fábio Barbosa, presidente do conselho do Santander Brasil.