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Qual o plano do time de futebol Guarani para se recuperar de uma dívida de R$ 60 milhões

Plano de recuperação judicial prevê um período de 12 anos para pagamento das dívidas

Guarani: time precisou vender judicialmente seu estádio para pagar dívidas (Wikimedia Commons)

Guarani: time precisou vender judicialmente seu estádio para pagar dívidas (Wikimedia Commons)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 12h56.

Última atualização em 29 de fevereiro de 2024 às 13h32.

Centenário clube de futebol de Campinas, em São Paulo, o Guarani já traçou um plano para se reestruturar e pagar as dívidas que somam cerca de 60 milhões de reais. O time, atualmente na Série B do Campeonato Brasileiro, está em recuperação judicial desde março do ano passado. Nesta semana, a assembleia geral de credores aprovou o plano de recuperação do Bugre, como é conhecido o clube.

“De forma viável, vamos pagando dívidas antigas que assombram o clube e não nos deixam prosperar há anos”, diz o CEO do Guarani, Ricardo Moisés. “Com equilíbrio, administração e organização pagaremos nossos credores nos próximos anos e teremos um futuro muito melhor. É uma melhora de longo prazo”.

Em linhas gerais, o plano prevê um período de 12 anos para pagamento das dívidas.

Como o Guarani entrou em recuperação judicial 

Fundado em abril de 1911 em Campinas, o Guarani entrou em recuperação judicial em março de 2023. Na petição em que solicitou o remédio judicial para reestruturação, o clube explicou que uma série de derrotas, principalmente no início dos anos 2000, abalou a estrutura do centenário time.

Na explicação dada à Justiça, o Guarani fala que viveu 20 anos de crescimento entre os anos de 1949 e 1969, quando acessou a primeira divisão do campeonato brasileiro e construiu o Brinco de Ouro, estádio do clube. Depois, entre 1970 e 1988, viveu a chamada “era de ouro”, sendo campeão brasileiro em 1978, semifinalista da Libertadores em 1979 e vice-campeão brasileiro em 1986 e 1987. Na ocasião, chegou a ter cerca de 30.000 associados, um valor expressivo para times do interior. 

Os problemas começaram no final dos anos 1980. Em 1989, o clube sofreu o primeiro rebaixamento da história, sem conseguir voltar à elite do futebol brasileiro no ano seguinte. Foi quando o time começa a atrasar salário e angariar algumas dívidas trabalhistas, fiscais e cíveis. 

Entre 2000 e 2015, o clube emenda uma sequência de nove rebaixamentos em 12 anos, chegando a estar na zona de rebaixamento para a 3ª divisão do campeonato paulista e 4ª divisão do brasileiro e chegou a correr risco de nem disputar o campeonato brasileiro. Nessa época, os salários chegaram a ficar sete meses em atraso, sem pagar férias, FGTS e 13º salário. Por fim, perdeu todo o complexo do estádio, clube e centro de treinamentos numa venda judicial.

Com a venda, conseguiu reestruturar parte das dívidas, e completa agora 10 anos sem nenhum rebaixamento. Mas as contas não voltaram a ficar estáveis. Os anos em que esteve em crise de qualidade futebolística também resultaram em crise financeira, já que houve:

  • Redução dos valores de cotas de TV 
  • Redução dos Valores de patrocínios 
  • Perda de valor dos atletas
  • Redução da renda de bilheterias 
  • Redução dos prêmios confederativos 
  • Redução de mais de 50% na receita do clube

Além disso, o clube alegou que a pandemia desestabilizou o caixa do time, porque parte significativa da receita vinha dos dias de jogos.

“Com a redução de receitas, as dívidas que estavam equacionadas foram inadimplidas, houve a retomada de ações judiciais contra o clube, e, atualmente, com o seu caixa absolutamente penhorado por processos cíveis e trabalhistas, tendo suas receitas comprometidas com tais processos, o clube não vê outra solução, que não o ajuizamento da recuperação judicial”, disse no pedido, à época.

Qual o plano para se recuperar das dívidas

A aprovação do plano de recuperação dará agora um novo caminho para o Guarani se recuperar. Dos quase 400 credores, apenas 21 se mostraram contrários ao plano. A aprovação foi de 94% no trabalhista, cerca de 75% no quirografário e 80% nas pequenas empresas.

Para as dívidas trabalhistas, que representam cerca de 15 milhões de reais, foi decidido que, quem está com uma dívida de até 5 salários mínimos, receberá em até 30 dias da homologação do plano. Depois, as dívidas que vão a até 180 salários mínimos serão pagas em 36 parcelas mensais — ou seja, em três anos. Acima desse valor, o acordo prevê receber a diferença com 70% de desconto.

Para os credores quirografários (que costumam ser a maioria, como instituições financeiras e fornecedores), ficou acordado que não haverá desconto sobre o valor da dívida. É um movimento raro de acontecer em planos de recuperação judicial. A dívida nessa classe soma cerca de 38 milhões de reais, e começará a ser paga em 1,5 ano. O fim do pagamento acontecerá em até 12 anos.

Para as médias e pequenas empresas, cujas dívidas somam 8 milhões de reais, haverá um deságio de 70% no valor da conta a ser paga. 

Também ficou aprovada uma cláusula especial que destinará 10% do valor de alguma premiação, caso haja — como Copa do Brasil — para o pagamento de credores, explica o advogado Otto Willy Gübel Junior, que representa a empresa na recuperação judicial. 

A aprovação da recuperação judicial é o primeiro passo para que o clube comece a quitar o valor negociado, tirando os bloqueios financeiros e penhoras. Agora, o acordo segue para homologação por um juiz no Tribunal de Justiça de São Paulo.

“Foram dois anos de trabalho diário para chegarmos nessa assembleia e começarmos a escrever uma nova página na história do Guarani”, afirma Fábio Araújo, presidente do conselho fiscal do time. “Um clube da nossa grandeza merece grandes passos”.

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