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Prisão de executivos da Odebrecht pode pôr projetos em risco

Prisões ameaçam a ampliação e até mesmo a reposição da carteira de projetos (backlog) da empresa de engenharia do grupo


	Marcelo Odebrecht: presidente da empreiteira foi preso pela Operação Lava Jato
 (Odebrecht SA)

Marcelo Odebrecht: presidente da empreiteira foi preso pela Operação Lava Jato (Odebrecht SA)

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Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2015 às 18h33.

São Paulo - A prisão de alguns dos principais executivos da Odebrecht, incluindo o presidente Marcelo Odebrecht, pode colocar em risco a ampliação e até mesmo a reposição da carteira de projetos (backlog) da empresa de engenharia do grupo.

Considerada a maior construtora da América Latina, com receita de R$ 33 bilhões no ano passado e carteira superior a R$ 100 bilhões, a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) se destaca pela diversificação geográfica, com mais de 70% de sua carteira provenientes de contratos no fora do Brasil. Mas esse diferencial é colocado à prova com os desdobramentos da Operação Lava Jato.

"Em especial em mercados com grau de maturidade maior sobre reputação de empresa, como o americano e o europeu, em que há preocupação muito grande em relação a isso, haverá um impacto (na assinatura de novos contratos) e pode ser inclusive legal, com órgãos governamentais e institutos impedindo a participação das empresas envolvidas na Lava Jato na licitação", disse o professor de gestão de produtos e marcas do Ibmec/MG Paulo Marcio Bragança de Matos.

De acordo com ele, mesmo sem uma decisão de condenação ou penalidade, as empresas envolvidas nas investigações podem já ser discriminadas. "Serão feitas pesquisas sobre se existe um processo em andamento, e isso pode ser um empecilho", comentou.

A professora de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina (FASM), Rita do Val, avaliou que, num primeiro momento, os governos de outros países com contratos ou intenção de acertar projetos com as construtoras envolvidas nas investigações estão cautelosos em seu relacionamento com as empresas, mas o impacto dependerá efetivamente do resultado das investigações.

"No curto prazo, há muita expectativa com relação ao que vai acontecer e uma inércia para observar os desdobramentos", disse.

Após a prisão de Marcelo Odebrecht, a agência de avaliação de risco Standard & Poor's rebaixou o rating da OEC, justificando a ação pelo "o aumento dos riscos reputacionais da empresa", apesar de não considerar a prisão do principal executivo do grupo como prejudicial para as operações e atividades diárias da companhia.

Em comunicado, a S&P diz que o conglomerado pode estar sujeito a maior escrutínio por parte do financiadores, o que pode prejudicar a reposição da carteira de pedidos da OEC, "dado que a reputação é fundamental para o setor de engenharia e construção".

Sem citar diretamente a reputação ou a carteira de pedidos, a Moody's, ao colocar os ratings da Odebrecht em revisão para rebaixamento, após as prisões da última sexta-feira, 19, também comentou que "esses eventos podem afetar negativamente a execução das estratégias de crescimento da empresa no curto prazo".

Matos lembrou que a reputação de empresas de engenharia e construção é baseada em sua capacidade técnica e na capacidade de gestão dos projetos e avaliou que com a prisão dos principais executivos das companhias, a gestão dos projetos pode ser questionada. "Do ponto de vista técnico, as empresas são reconhecidas, mas se não conseguem gerenciar seu quintal, como garantem a capacidade de gerenciar grandes projetos?", questionou o professor, citando o fato de líderes das construtoras dizerem desconhecer casos de suposto esquema de corrupção do qual subordinados estariam diretamente envolvidos.

Rita, da FASM, avaliou que as construtoras com forte atuação no exterior, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, todas investigadas na Lava Jato, têm credibilidade no desenvolvimento dos projetos em outros países, justamente por sua capacidade técnica, independente de atos de corrupção que possam ter cometido no Brasil, e tais ilícitos até agora pouco influenciaram o acerto de contratos. "Outros governos possuem outras práticas, que exigem eficiência ", disse, lembrando denúncias de corrupção anteriores à Lava Jato.

Ela avaliou, porém, que a confirmação de pagamento de propina em outros países para o acerto de contratos poderia, aí sim, pesar mais no fechamento de novos negócios. "Enquanto o problema estiver dentro do nosso quintal, o problema é nosso. Na medida em que contratos com outros estados estrangeiros se mostrarem contaminados, a tendência é de que o impacto seja maior", afirmou.

A Controladoria Geral da República do Panamá realizará a auditoria do contrato da linha 1 do Metrô da capital do país, obra realizada pela Odebrecht e sobre a qual pairam suspeitas de subornos. O ministério público panamenho também abriu investigações contra a Odebrecht por suspeita de ter usado empresas no paraíso fiscal para a realização de pagamentos de subornos. Além disso, também o Equador determinou auditorias sobre todos os contratos da Odebrecht com o governo do país e também que se investiguem os funcionários do país que trataram com a companhia brasileira.

Os especialistas salientaram que a repercussão seria maior na Europa, EUA e Japão, onde há maior preocupação com a lisura. "Nos países árabes e África, por exemplo, não há nenhuma preocupação nesse sentido", disse Rita. Com apenas 30% da carteira no Brasil, a OEC possui cerca de 20% da carteira de pedidos da OEC a partir da África e outros 54% em países da América Latina.

O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Marcelo Ranieri, acrescentou que as dificuldades de conquistar novos contratos no exterior devem se somar aos problemas para o acerto de novos projetos no Brasil. Além de eventual impedimento por conta das possíveis declarações de inidoneidade e outras penalidades, a crise econômica também faz com que a demanda por obras de engenharia por parte da iniciativa privada diminua internamente. "Se o mercado interno estivesse pujante, mesmo que não fosse possível assinar novos contratos com o governo, o mercado poderia garantir a demanda, mas está o contrário disso, e a tendência é de que a situação vai piorar cada vez mais", afirmou.

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