Presidente do BB entrega renúncia -- desempenho na pandemia foi crucial
Executivo entende que o banco "precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário"
Natália Flach
Publicado em 24 de julho de 2020 às 19h14.
Última atualização em 24 de julho de 2020 às 20h35.
O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes , entregou pedido de renúncia ao cargo ao presidente Jair Bolsonaro , nesta sexta-feira, 24. A saída deve ocorrer em agosto em data ainda a ser comunicada ao mercado. Segundo fato relevante, o pedido de renúncia – que foi aceito por Bolsonaro – se deu, pois o executivoentende que o banco "precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário".
Novaes foi um dos executivos escolhidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para assumir a liderança das principais instituições econômicas do país. O grupo ainda conta com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.O substituto será indicado pelo presidente Bolsonaro, em linha com o que oestatuto social do BB define.
Um ex-diretor do BB, que preferiu não se identificar, disse que "a notícia [da renúncia de Novaes] pegou de surpresa até os mais próximos".
Defensor da privatização do BB, Novaes disse em entrevista à Exame, no fim de maio, que os planos nesse sentido estavam "paralisados". "Uma crise econômica mundial desta dimensão resulta sempre na paralisação de negócios que envolvem participações e parcerias. Isso é natural já que a própria precificação dos negócios fica muito prejudicada e os ativos perdem valor. No Banco do Brasil, não é diferente e alguns projetos que avaliávamos estão paralisados no momento. Poderemos retomar as discussões no futuro próximo, quando as condições de mercado ficarem mais claras e desde que agreguem valor aos negócios do Banco", afirmou na ocasião.
Seguir a cartilha liberal de Guedes, no entanto, não era o suficiente. Um executivo de um grande banco que pediu para não se identificar disse que a discrepância entre o desempenho da Caixa - que tem liderado a transferência de renda a mais de 100 milhões de brasileiros - e o BB acabou gerando atritos entre Novaes e o ministro da Economia.
De fato, na reunião do dia 22 de abril, Guedes criticou a atuação de Novaes à frente do BB. Ele disse que o governo "faz o que quer" com a Caixa Econômica Federal e o BNDES, mas no BB "não consegue fazer nada", mesmo tendo um "liberal lá", em referência a Novaes, que estava no encontro. "Tem que vender essa porra logo", disse Guedes.
Para o ministro, o Banco do Brasil "não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público". "Se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: 'bota o juro baixo', ele: 'não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.' . Aí se falar assim: "bota o juro alto", ele: 'não posso, porque senão o governo me aperta'. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização", afirmou o ministro da Economia durante encontro com ministros e outras autoridades, entre elas Novaes.
Novaes disse ainda, durante a entrevista à Exame, queo Banco do Brasil fez uma importante correção de rumos nos últimos anos, recuperando a eficiência de sua atuação e diminuindo a grande diferença na rentabilidade em relação aos seus principais concorrentes. "Isso faz diferença neste momento e permite que possamos manter a oferta de crédito aos nossos clientes e ajudá-los a atravessar esse período de turbulência. Crises econômicas são desafiadoras para qualquer banco, mas acredito que o BB irá encontrar menos dificuldades do que os concorrentes devido à característica da nossa carteira de crédito. Somos o principal banco dos servidores públicos e do agronegócios, que são segmentos de clientes que tendem a atravessar melhor este período mais difícil."