Paulo Caffarelli: presidente do Banco do Brasil afirmou que a instituição segue aberta a negociar com clientes (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de maio de 2018 às 14h24.
São Paulo - O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, afirmou que a instituição segue aberta a negociar com clientes, mas não está disposta a abrir mão de "práticas bancárias" em renegociação de dívidas. "Cada caso é um caso. Acreditamos que a boa prática bancária vai nos levar a um bom resultado de negociação com nossos devedores. Sempre estaremos abertos a achar o melhor caminho com nossos clientes", disse ele, em coletiva de imprensa, na manhã desta quinta-feira, 10.
As afirmações do presidente do BB ocorrem em meio às negociações da Odebrecht para a obtenção de um novo empréstimo para honrar seus compromissos financeiros. Itaú Unibanco e Bradesco teriam aceitado liberar mais de R$ 2 bilhões em uma tentativa de reforçar as posições em possuem em garantias - neste caso, as ações da Braskem - em outros empréstimos, conforme fontes. No entanto, exigiram senioridade nos papéis, que está nas mãos do próprio Banco do Brasil, Santander e BNDES, para liberar os novos recursos.
O BB não considera, porém, conforme já noticiou o Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), abrir mão da preferência nos papéis da Braskem. Com o impasse, o braço de construção da Odebrecht, a OEC teve de usar o período de carência de títulos de dívida distribuídos no mercado internacional no montante de R$ 500 milhões uma vez que o vencimento ocorreu no mês passado e ainda não obteve recursos novos para honrá-lo.
Caffarelli destacou que o banco não defende a teoria de Mark Twain, de que um banqueiro empresta o guarda-chuva quando está sol e toma quando começa a chover. "O BB tem sido atuante no segmento, principalmente, em grandes empresas, e é óbvio que a maior preocupação nossa, no BB, é cuidar da saúde financeira dessas empresas. Por isso que existe para isso capacidade de alongamento de dívidas, repactuações e assim por diante", disse ele.
O presidente do BB destacou ainda que a "única coisa importante de todo esse processo" e que o banco não tem como abrir mão, de maneira alguma, "é a boa prática bancária". Segundo ele, esse é um "dogma" para o banco. "Foi essa boa prática bancária nos últimos anos que nos fez chegar até aqui", concluiu Caffarelli.
Caffarelli afirmou que o objetivo da instituição em relação ao Banco Votorantim é fazer com que retome o patamar de rentabilidade de quando a instituição o adquiriu. Isso pode ocorrer, conforme o executivo, já este ano.
Ao final de março, a rentabilidade do Votorantim (ROE, na sigla em inglês) atingiu dois dígitos, a 11,8%, ante 7,3% em dezembro e 6,2% há um ano.
"Nosso grande objetivo no Votorantim é fazer com que o banco volte ao patamar de rentabilidade na época da aquisição. Esse ano, inclusive, provavelmente nos já teremos esse resultado, que é consistente e sustentável", disse Caffarelli.
O Banco Votorantim dobrou o seu lucro líquido no primeiro trimestre ao entregar resultado de R$ 255 milhões, contra R$ 127 milhões registrados um ano antes. Na comparação com os três meses anteriores, de R$ 156 milhões, foi visto incremento de 62,8%.
O presidente do BB lembrou que o Votorantim passou por uma reestruturação "profunda" e, agora, mostra a sua capacidade de retomar a sua rentabilidade. "Acreditamos que o Votorantim vai continuar a nos dar uma perspectiva muito boa de resultados", acrescentou o executivo.
Ele afirmou ainda que o BB deve usar mais o Votorantim para crescer no crédito a veículos, já que o banco é especializado neste segmento.
O presidente do Banco do Brasil disse também que o momento de volatilidade pelo qual passa a Argentina pode encurtar a janela de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) no mercado local, mas que a instituição segue com os planos de fazer uma relistagem do banco Patagônia, que já tem ações listadas.
"Temos uma perspectiva muito boa, principalmente no médio e longo prazos, de crescimento para o Banco Patagônia e fortalecimento dos seus negócios na Argentina, principalmente por conta da sinergia de operações de pessoas físicas e o segmento de atacado, que teve potencialização após aquisição pelo BB", comentou o executivo.
Caffarelli voltou a dizer que o Patagônia, o sexto maior banco da Argentina em resultados e o terceiro em mercado de capitais, não está à venda. "Continuamos mantendo a intenção de fazer o Re-IPO do banco, mas só o faremos quando tivermos uma oportunidade de ter uma boa operação. Não temos a mínima pressa com relação a isso. Vamos aguardar a melhor oportunidade", explicou ele.
De acordo com o presidente do BB, o momento de volatilidade ao qual enfrenta a Argentina pode ser superado e, assim, retornem as oportunidades de captações na bolsa local. Ele disse ainda que o banco segue analisando outros casos de venda de ativos que não são core business da instituição, mas não deu um prazo para que algum negócio se materializasse.
O BB possui 58,97% do Patagônia. Mas conforme já noticiou o Broadcast citando fontes, a instituição deve vender apenas 8,5% em uma eventual oferta de ações.