Avianca: Brasil e Colômbia seguem separados (Paulo Lopes/Futura Press/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 07h00.
Última atualização em 12 de dezembro de 2018 às 12h42.
A companhia aérea Avianca Brasil acaba de pedir recuperação judicial e enfrenta riscos de devolver parte de suas aeronaves arrendadas, por atrasar pagamentos a seus credores.
Já a Avianca, companhia aérea colombiana, acaba de firmar uma parceria com a United Airlines para compartilhamento de voos e rotas.
As duas empresas aéreas operam de forma completamente distinta, embora tenham o mesmo nome, o Synergy Group como controlador, e façam parte da mesma aliança global, a Star Alliance.
Também têm a mesma família no comando. José Efromovich é presidente do conselho administrativo da Avianca Brasil e membro do conselho de administração da holding Avianca. Seu irmão, Germán Efromovich, é presidente do conselho da holding Avianca.
No entanto, as duas estão em momentos distintos. Já tentaram negociar uma fusão, mas a união entre as companhias aéreas foi, mais uma vez, adiada.
A Avianca Brasil é a quarta maior do mercado nacional e tem participação de mercado de quase 14%. No entanto, a empresa afirma que sofreu com a crise econômica e com o aumento do preço do combustível, um de seus principais custos. Segundo ela, o combustível foi afetado pelo câmbio e pela greve dos caminhoneiros.
Por não conseguir pagar credores, a aérea sofre pressão para devolver aviões em arrendamento. “Havendo a efetiva reintegração na posse das 14 aeronaves, isto representará uma redução aproximada de 30% da frota, o que inviabilizará o atendimento aproximado de 77.000 passageiros, entre 10 e 31 de dezembro de 2018, que adquiriram as passagens aéreas, o que ocorrerá em período de alta temporada”, escreve a companhia em seu pedido de recuperação judicial.
Já a holding colombiana está em outro momento. A United Airlines fechou, no início do mês, uma parceria com a Avianca e a Copa Airlines. Entre os novos serviços oferecidos, estão novas rotas sem escala e redução no tempo de viagens. O Brasil e a operação da Avianca Brasil não foram incluídos nesse acordo.
As empresas, que sempre atuaram de forma separada, planejam uma fusão há anos.
As duas montaram, em 2017, um grupo de trabalho para estudar a união dos negócios — é o terceiro em sete anos. Os planos, no entanto, foram postergados por mais 18 meses em abril.
Separadas, as companhias correm o risco de competirem entre si. Com a expansão internacional da Avianca Brasil, que em 2017 iniciou voos para Miami e Santiago, as duas empresas podem passar a concorrer no mercado regional no futuro.
História
As duas empresas são hoje gerenciadas e controladas pelos irmãos Efromovich. A história da família, de origem judaica, começa na Polônia. Seus pais escaparam do país após a Segunda Guerra Mundial, em direção à América do Sul. Primeiro, foram para a Bolívia, onde Germán Efromovich nasceu em 1948, e depois para o Chile.
Quando Germán estava com 14 anos, a família se mudou para São Paulo, no Brasil, onde finalmente se estabeleceu. Ele naturalizou-se brasileiro e começou a trabalhar ainda adolescente, vendendo enciclopédias, como dublador de filmes e como professor de uma escola de supletivos em São Bernardo do Campo.
Enquanto isso, José começou sua carreira no setor de construção. Envolveu-se com vários negócios no segmento médico, focado no desenvolvimento de materiais usados para o tratamento oncológico, de acordo com a Bloomberg.
Na década de 1990, os irmãos fundaram a Marítima. Até 1994, a pequena empresa fazia vistorias em equipamentos submarinos, quando começou a ganhar diversas concorrências da Petrobras para a construção de plataformas de perfuração e exploração de petróleo. A companhia chegou a atuar em nove países diferentes. É apenas uma das empresas do Synergy Group, holding controlada pelos irmãos Efromovich.
O primeiro contato dos irmãos com a aviação foi por conta de uma dívida. Para não receber um calote, receberam dois aviões como pagamento. Com eles, transportavam funcionários das petrolíferas para Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro, e a Ocean Air nasceu em 2002.
Germán Efromovich comprou a Avianca, uma companhia colombiana que estava na falência, em 2004. Fundiu-se com a Taca, de El Salvador, cinco anos mais tarde. A Taca era controlada pela Kingsland Holding Limited, que continua sendo uma das acionistas minoritárias.
Em 2010, a Ocean Air passou a usar o nome fantasia Avianca Brasil. Seu nome original continua sendo usado para fins jurídicos. Mesmo com a mudança de nome, a empresa brasileira continua operando separadamente da colombiana.
Para gerenciar os negócios, Germán fundou, em 2003, o Synergy Group Corp., uma holding industrial sul-americana. O grupo já atuou em ramos distintos como aviação, produção de petróleo e gás, geração de energia, construção e área médica. Emprega mais de 15 mil pessoas, principalmente no Brasil, Colômbia e Equador.
A Avianca foi fundada em 1919. Especializada no transporte de passageiros e carga, atende de forma direta 108 destinos em 26 países da América e Europa, a bordo de uma moderna frota de 189 aeronaves de curto, médio e longo alcance.
Já a Avianca Brasil atende 26 destinos domésticos e 4 no exterior com 290 decolagens diárias, utilizando 55 aviões da Airbus. Desde 2010, começou um processo de expansão internacional e passou a oferecer rotas diárias para Miami, Santiago e Nova Iorque, além de nova rota para Bogotá, possuindo, em setembro, 48 aeronaves em operação por meio de arrendamento operacional.
Com o pedido de recuperação judicial da brasileira, as duas devem continuar a operar separadamente por mais um tempo.