Por dentro do laboratório da dona da Brastemp e da Consul
Em São Paulo, a Whirlpool desenvolve novas máquinas e tecnologias de lavagem do zero, que são depois levadas para outros países
Karin Salomão
Publicado em 8 de dezembro de 2017 às 10h00.
Última atualização em 8 de dezembro de 2017 às 10h00.
São Paulo - A fábrica da Whirlpool em Rio Claro está sempre em movimento. Além de fabricar as máquinas de lavar, fogões e cooktops da Brastemp e Consul, a empresa também desenvolve alguns desses produtos em seu laboratório de desenvolvimento.
Aqui, eles desenvolvem novas máquinas e tecnologias de lavagem do zero, que são depois levadas para outras fábricas em outros países.
A Whirlpool é uma das maiores empresas de eletrodomésticos do mundo, com 93 mil funcionários. Globalmente, ela tem 34 operações. Na América Latina, são 17.
O site EXAME visitou a fábrica para mostrar como são criadas, testadas e fabricadas as máquinas de lavar da Whirlpool.
A Brastemp está há 60 anos no Brasil. Seu nome é uma junção das palavras Brasil e temperatura, já que a empresa começou sua história fabricando refrigeradores. Agora, ela faz parte do grupo Whirlpool.
Por isso, no centro de desenvolvimento há algumas máquinas de lavar antigas da Brastemp, para lembrar de onde tudo começou.
Na foto, uma máquina “desmontada”, com todos os componentes à mostra.
Além do eletrodoméstico em si, a empresa também desenvolve novos ciclos de lavagem. A temperatura, movimento e momento da entrada da água ou do sabão afetam bastante a limpeza das roupas.
Cada sujeira sai mais fácil com uma ou outra configuração, com água quente ou fria, por exemplo.
Contrário ao senso comum, o sabão não é o principal ingrediente para a limpeza da roupa. 80% depende da ação da máquina, como a movimentação do tanque, que simula o movimento de mãos esfregando a peça, e a temperatura da água.
Uma das inovações criadas nesse laboratório foi a Double Wash, máquina com dois cestos. Com a ajuda do cesto menor, acoplado ao eletrodoméstico, é possível lavar duas levas de roupa de uma vez só.
As duas partes são independentes e sem contato, então dá para colocar roupas pretas e brancas, ou peças íntimas e jeans ao mesmo tempo, sem que a água vá de um lugar para o outro e sem manchar ou danificar as roupas.
Depois de desenvolver as máquinas, chegou a hora de testá-las. A fábrica testa os eletrodomésticos até o fim da vida útil. Há na fábrica uma sala semelhante a uma grande lavanderia. Aqui, as máquinas funcionam quase 24 horas por dia.
Os testes simulam problemas e usos incorretos comuns de consumidores em todo o país. Além dos testes padrão, que toda companhia precisa realizar, a Whirlpool também submete suas máquinas de lavar a provas mais duras. “Tudo depende da criatividade do engenheiro para tentar fazer o eletrodoméstico falhar”, diz Renato Cerri, diretor de manufatura.
A empresa testa máquinas que são vendidas, lançamentos e até produtos de concorrentes. Ela avalia o desgaste do produto com o passar do tempo, se as roupas foram danificadas, o consumo de água e de energia e quanta água ainda sobra nas roupas, depois da lavagem.
Aqui está uma amostra das roupas usadas nas lavagens de teste. São lençóis, calças jeans e alguns tecidos mais delicados. A sala de testes tem um cheiro constante de sabão.
A equipe lava roupas com areia, pedras, clipes de papel e moedas para ver se os objetos danificam o tanque. A energia também sofre picos, para verificar se a máquina irá aguentar a instabilidade.
Também coloca pesos no tanque, às vezes distribuídos de maneira desigual, para ver se a máquina irá se mover durante as lavagens. O ideal é que ela se mova apenas 1 cm de seu lugar original durante toda a sua vida útil.
Este aparelho simula um dedo, que aperta repetidamente o botão para acionar a lavadora. O silicone tem força e densidade semelhante a um dedo humano. Milhares de “apertões” depois, a empresa pode saber, por exemplo, qual de seus dois fornecedores tem durabilidade maior.
Outro equipamento testa as portas das máquinas, ao abri-las e fechá-las repetidas vezes.
Uma das avaliações requisitadas pelo Inmetro é a lavagem de uma tira padronizada. Esse tecido, que vem da Suíça, está manchado com quatro sujeiras comuns: graxa, sangue, chocolate com leite e vinho tinto. Na foto, à esquerda, está uma tira já lavada.
O objetivo não é que ela fique completamente branca, mas que limpe de acordo com as normas internacionais. Para que as manchas saíssem completamente, a máquina precisaria fazer um esforço extra, que danificaria o tecido.
Além do teste padrão, a companhia ainda faz uma avaliação própria. Ela mancha uma camiseta de algodão com 64 substâncias diferentes, como caneta, batom, óleo, giz de cera, ferrugem, café, ketchup, entre outros. Essa camiseta, bastante colorida antes da lavagem, é um dos segredos estratégicos da empresa e não pode ser fotografada.
Esta sala é isolada acusticamente. Ao entrar, os ruídos externos de equipamentos ou conversas cessam imediatamente. Assim, os microfones conseguem medir quanto barulho um eletrodoméstico faz e até a origem exata do som.
Outro teste é se a máquina suporta as ações do clima. Como, no Brasil, muitos eletrodomésticos ficam do lado de fora de casa, estão suscetíveis a chuvas. Esta mangueira em forma de arco molha todas as partes do produto e a equipe verifica se ele enferrujou ou foi danificado.