Política de preços deve ajudar Petrobras a vender refinarias
Política de ter preços pareados com o mercado internacional será determinante para que a empresa avance consiga vender seus ativos de refino
Luísa Melo
Publicado em 15 de outubro de 2016 às 13h10.
Última atualização em 24 de outubro de 2016 às 10h21.
São Paulo - A nova política dos preços de combustíveis da Petrobras , que agora serão pareados com o mercado internacional, será determinante para que a empresa avance na sua reestruturação e finalmente consiga vender os ativos de refino, avaliam analistas.
A petroleira anunciou nesta sexta-feira (14) uma redução de 3,2% no preço da gasolina e de 2,7% no do diesel nas refinarias, válida a partir de sábado (15).
Se o corte repassado integralmente ao pelas distribuidoras e postos, a gasolina e o diesel podem ficar 1,4% e 1,8% mais baratos para o consumidor, respectivamente – uma economia 5 centavos por litro nos dois casos.
A mudança foi justificada pela perda de mercado da estatal para importadoras (que conseguiam oferecer produtos a valores mais competitivos) e da sazonalidade do nicho de petróleo e derivados.
Pelas novas regras, os preços serão equivalentes aos praticados internacionalmente (e nunca poderão ficar abaixo deles). Na conta para formá-los, serão incluídos custos com importação, transporte e tarifas portuárias, além de uma margem para compensar riscos da operação, problemas logísticos e taxas.
Os preços ainda serão revisados pelo menos uma vez por mês e poderão ser alterados. A cada bimestre, a estatal vai publicar uma análise dos valores.
O mercado reagiu bem ao anúncio. As ações preferenciais da companhia chegaram a valorizar 3,4% e as ordinárias, 2,4% nesta quinta-feira.
Para o UBS, a revelação da fórmula para definir os preços é positiva. "Com uma clara visibilidade na política de preços, a atratividade do negócio de refino aumenta, ajudando a empresa a encontrar novos parceiros no segmento", escreveram os analistas Luiz Carvalho e Julia Ozenda, em relatório aos clientes.
A visão é compartilhada pelo Itaú BBA. "[A mudança] indica que o espaço para interferências políticas na definição de preços vai diminuir significativamente", cravaram os analistas Diego Mendes e André Hachem.
O banco acredita, porém, que a estatal ainda deve levar mais de um ano para se desfazer das refinarias.
Onde vai pesar
Os ganhos da medida serão vistos no longo prazo. Por ora, o impacto nas finanças será ruim.
Nas contas do UBS, o corte de preços vai afetar negativamente o Ebitda (lucro antes do juros, impostos, depreciação e amortização) da Petrobras em 300 milhões de dólares no último trimestre. A estimativa do banco é que o número fique em 6,65 bilhões de dólares no período.
Já segundo os cálculos do Itaú BBA, a nova política deve provocar uma redução de cerca de 4,5 bilhões de reais (ou 5%) no Ebitda da petroleira no próximo ano e o fluxo de caixa deve girar entre 12 e 15 bilhões de reais. Para o banco, a influência no ritmo de desalavancagem da empresa deve ser pequena.
Anúncio precoce?
A Petrobras busca ter preços compatíveis com os praticados no exterior há tempos. Em novembro de 2013, a então presidente da estatal, Graça Foster, anunciou pela primeira vez que a empresa adotaria uma fórmula de reajustes de preços, lembraram os analistas do UBS no relatório.
Mas, nos últimos anos, nenhuma metodologia foi colocada em prática. De 2010 a 2014, por conta de subsídios aos preços dos combustíveis, a companhia perdeu mais de 100 bilhões de reais em Ebitda, de acordo com o banco. Com a nova política anunciada agora, a companhia fica mais transparente.
Apesar de avaliar a notícia positivamente, o Itaú BBA acredita que a companhia deveria ter esperado um pouco mais para decretá-la.
O motivo para isso é uma reunião da OPEC (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), agendada para 30 de novembro. Na ocasião, será decidido se a produção da commodity será cortada ou não, numa tentativa de controlar a volatilidade dos preços, ainda muito alta.
Caso a produção seja diminuída, os preços do produto devem subir, obrigando a Petrobras a fazer um reajuste. "Será um teste interessante para vermos se a política será efetivamente implementada", diz o Itaú BBA.
Se não houver interferência, os preços provavelmente devem retornar para cerca de 45 dólares por barril, segundo o banco, o que vai aumentar o prêmio no mercado doméstico.
De acordo com os cálculos do BBA, os preços da gasolina da Petrobras já estão equivalentes aos internacionais. Os do diesel, no entanto, ainda estão 11% mais altos. A conta considera um custo de importação de 12 dólares por barril.