A estatal perdeu 2,6 pontos porcentuais de participação no mercado de distribuição de gasolina (Jeff Pachoud/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2016 às 08h54.
Rio - A política da Petrobras, que há 20 meses vende combustíveis a preços mais altos do que os praticados no exterior, vem se refletindo na perda de mercado. Desde novembro de 2014, quando os preços internos se descolaram dos internacionais - que caíram, acompanhando a queda nas cotações do petróleo -, a estatal perdeu 2,6 pontos porcentuais de participação no mercado de distribuição de gasolina e 4,6 pontos no segmento de diesel.
Essa perda é resultado da atuação de importadoras. A disparidade dos preços levou pequenas e médias distribuidoras regionais, que compram o combustível da Petrobras, a estruturar seus próprios setores de comercialização, na tentativa de aumentar suas margens de lucro com a importação.
Ruy Argeu, diretor do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis da Bahia, diz que o ganho com a importação chega a R$ 0,50 por litro no caso do diesel, produto mais rentável. Esse movimento aparece nos dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que registrou alta de 360% na importação de diesel entre janeiro e maio.
De acordo com cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), essa perda de mercado custou R$ 2,9 bilhões ao caixa da estatal apenas no segundo trimestre deste ano. Mas a perda é compensada com a manutenção dos preços em patamares mais altos que os internacionais: desde 2014, a empresa acumulou uma receita de R$ 29 bilhões com a compra de combustível mais barato no exterior e a revenda no Brasil a preços mais altos.
Em nota, a estatal informou que se baseia em critérios técnicos e no monitoramento das cotações internacionais para garantir a "melhor rentabilidade". A estatal diz ainda que considera a demanda de produtos, a disponibilidade das suas refinarias e a produção de petróleo. "Esses critérios garantem que a companhia pratique sempre preços competitivos, considerando as margens e riscos envolvidos nas operações comerciais", afirmou.
Logística
A importação só não é maior porque as concorrentes da Petrobras esbarram na dificuldade logística - como espaços de armazenamento nos portos e rede de distribuição. "Há diferenças entre a importação oportunista e a sistemática. Na medida em que você passa a depender da importação para o abastecimento, há preocupação com a logística. A Petrobras entende isso", reforça José Lima de Andrade Neto, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis. A Petrobras controla a rede de dutos de transporte, por meio da sua subsidiária Transpetro.
Até então, os custos logísticos para algumas cidades do Norte e do Nordeste eram subsidiados pela estatal. De olho na atração de sócios investidores em seus negócios de venda de combustíveis, no entanto, a Petrobras está disposta a rever essa política. No início do ano, as distribuidoras já haviam sido avisadas de que os custos logísticos serão repassados. Mas, diante da rejeição dos clientes, aceitou negociar a manutenção de apenas parte dos subsídios.
"O repasse dos custos logísticos poderá trazer um problema às regiões Norte e Nordeste que não deve ser minimizado. Isso vai criar repercussão política nos Estados", avalia o consultor Marcus DÉlia. "A entrada de novos atores na distribuição, na logística e no refino é uma forma de a companhia limitar a interferência do governo na definição de preços com o argumento de que sofre constrangimento da concorrência."
Até o fim do ano, a empresa deve passar a seguir as cotações internacionais, afirmou recentemente o presidente da petroleira, Pedro Parente. Apenas essa sinalização já gerou a expectativa de que os preços vão cair no Brasil. Mas uma nova variável foi acrescentada na última semana a essa equação.
Além de considerar os preços externos e a concorrência de importadores, a Petrobras passa a trabalhar com a perspectiva de que a cotação do petróleo vai começar a subir, com a indicação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de que vai cortar a produção.
"Não há justificativa para baixar os preços agora e aumentar em seguida, com a escalada dos preços internacionais que deve acontecer", diz Filipe Rizzo, da RX2 Engenharia e Consultoria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.