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A “grande sacada” do Plano Real para derrotar a hiperinflação no Brasil

Entenda como a URV, embrião do Real, revolucionou o combate à inflação no Brasil em 1994

Plano Real: a URV foi peça central no combate à inflação (Matheus Andre/Freepik)

Publicado em 5 de novembro de 2024 às 11h30.

Há 30 anos, o Brasil iniciava uma de suas maiores revoluções econômicas: a implementação da Unidade Real de Valor (URV), mecanismo de coordenação de expectativas e embrião do que viria a ser o Real como nova moeda brasileira meses depois.

Se hoje a URV e o Plano Real são lembrados como um bem-sucedido episódio de inovação na política econômica brasileira, na época de sua implementação, em 1994, o mecanismo era uma aposta. A ideia da URV surgiu após uma sucessão de planos fracassados na luta contra a hiperinflação nos anos 1980 e 1990 e, pela primeira vez, não trazia consigo a estratégia de congelamento de preços, característica marcante dos planos anteriores.

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Como a URV funcionou na prática

A URV foi uma moeda indexada, implementada pelo governo em fevereiro de 1994 em paridade com o dólar. A princípio, operava paralelamente à moeda oficial da época, o Cruzeiro Real. O governo divulgava diariamente a relação entre a URV e o Cruzeiro, permitindo que os preços fossem convertidos para URV. Como a URV era estável em relação ao dólar, transmitia-se uma sensação de valor real. Era como se a economia estivesse “dolarizada”, mas, na realidade, estava “URVizada”.

Na prática, o mecanismo buscava coordenar as expectativas dos agentes econômicos, desafio há mais de uma década em uma economia altamente inflacionária como a brasileira. Para ter uma ideia, em 1993, a inflação havia batido quase 2.500%.

A inovação da URV em relação aos planos anteriores

Diferente das tentativas anteriores, a indexação pela URV possibilitou o alinhamento dos preços relativos. Todos os planos anteriores ao Real (como o Cruzado, Bresser e Collor) utilizaram o congelamento de preços, o que gerava desequilíbrios de mercado.

Um dos exemplos mais marcantes foi o preço do boi, congelado em um valor baixo, o que aumentou a demanda por carne enquanto os produtores se recusavam a vender a preços defasados. Esse cenário extremo levou a Polícia Federal a fiscalizar produtores que sonegavam bois.

Esse tipo de distorção impossibilitava o equilíbrio de mercado e resultava no fracasso dos planos. Após poucos meses, práticas como vendas disfarçadas e cardápios maquiados se tornavam comuns, e a inflação retornava a níveis descontrolados. Já a URV, como uma moeda indexada, permitiu ajustamentos naturais e um equilíbrio mais adequado entre oferta e demanda.

O impacto da URV e o sucesso do Plano Real

A URV funcionou como indexador paralelo à moeda por quatro meses até, em julho de 1994, ser convertida em Real, que passou a ser a moeda oficial do Brasil. O Plano Real incluiu uma série de medidas além da URV, como ajustes nas contas públicas e reservas cambiais, ancorando o novo valor da moeda. Com o alinhamento dos preços relativos nos meses iniciais, a URV criou uma percepção de que o novo Real tinha valor real, preparando o terreno para a aceitação da nova moeda.

Ao alinhar as expectativas em um cenário de hiperinflação e após sucessivos fracassos, a URV foi um dos aspectos mais inovadores e fascinantes do Plano Real.

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