Piva, da Klabin: Com Bolsonaro, Brasil corre risco de dar um passo atrás
Presidente do conselho da Klabin, Horácio Lafer Piva diz que as visões de Bolsonaro sobre gênero e democracia estão "um pouco descoladas do século 21"
Mariana Desidério
Publicado em 26 de setembro de 2018 às 13h59.
A eleição presidencial brasileira polarizada e incerta está forçando as empresas do país a adiar seus planos de investimento, de acordo com o presidente do conselho da produtora de papel e celulose Klabin , Horácio Lafer Piva.
Ex-presidente da Fiesp, ele disse que os empresários brasileiros estão preocupados que a polarização entre esquerda e direita possa comprometer a aprovação de uma reforma previdenciária significativa, agravando uma situação fiscal já difícil. "Todos os empresários estão tensos", disse Piva em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Ninguém sabe o que vai acontecer."
A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, não retomará as decisões sobre investimentos até depois da eleição, disse Piva, acrescentando que há muitos projetos suspensos na maior economia da América Latina. Pesquisas mostram Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) como os dois candidatos com maior probabilidade de chegar ao segundo turno.
Pesquisas Recentes
A última pesquisa do Ibope mostrou que o capitão da reserva continua liderando a disputa com 28% das intenções de voto, contra 22% de Haddad, que substituiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do PT.
“O tamanho das concessões que ambos os lados precisariam fazer para aprovar qualquer coisa no Congresso seria enorme”, disse Piva. "Vai ser uma guerra, uma situação de muita tensão." O maior desafio para quem vencer a corrida será enfrentar o déficit fiscal do país, acrescentou.
Piva disse que ainda não decidiu em quem vai votar, já que as opções à esquerda e à direita não são as ideais. "Vou esperar até cinco dias antes da eleição, sentar, me concentrar, ouvir jazz e tentar decidir."
Descrevendo Bolsonaro como “um outsider”, Piva acrescentou que o Brasil já teve uma “experiência muito ruim com um outsider”, referindo-se a Fernando Collor de Mello, ex-presidente que sofreu impeachment em 1992 em meio a um escândalo de corrupção e uma crise financeira.
As visões de Bolsonaro sobre gênero, diversidade, democracia e segurança estão "um pouco descoladas do século 21, são discussões que já passaram". "Portanto, o Brasil corre o risco de dar um passo atrás."
Enquanto o PT tem uma presença mais forte no Congresso e mais experiência negociando com o corpo legislativo, seu último governo “foi terrível”, disse Piva. A presidenta Dilma Rousseff, do PT, sofreu impeachment em 2016.
Piva afirma que a comunidade empresarial confia mais em Haddad do que em seu partido, mas que restam dúvidas sobre quem realmente estaria no poder. “Quem comandaria o governo? Haddad, Lula ou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann? A pressão do PT pode ser muito grande."
Sem proteção
O empresário, que também faz parte do conselho de administração do fundo de private equity Tarpon Investimentos, entre outras empresas, disse que, ao contrário de alguns de seus pares, ele não está levando investimentos pessoais para fora do Brasil, nem comprando dólares ou vendendo ações das empresas nas quais ele investe, como Vale ou Klabin.
"Tem muita gente se protegendo loucamente, mas eu não estou fazendo isso, pois correr atrás de proteção é uma aposta tão grande quanto ficar parado", disse Piva. Ele espera que o Congresso seja capaz de limitar as ações radicais de ambos os lados do espectro político desde que “algum louco não venha com a ideia de fechar o Congresso", afirmou, dizendo que "o Brasil não vai virar Venezuela".
Para Piva, Geraldo Alckmin, do PSDB, é o candidato com “mais conteúdo, experiência, estrutura”. Mas ele não está ganhando força nas pesquisas. “O PSDB se perdeu como partido de oposição e acabou discutindo mais platitudes do que questões reais", disse Piva, cujo pai, Pedro Piva, falecido em fevereiro do ano passado, era senador do PSDB.