Kirin estuda diferentes modelos para a venda, desde o "desmembramento" de ativos até a saída definitiva do País (Divulgação Brasil Kirin)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de novembro de 2016 às 09h34.
Última atualização em 11 de junho de 2020 às 15h37.
São Paulo - A cervejaria fluminense Petrópolis, dona da Itaipava, entrou na disputa pelos ativos da Brasil Kirin, apurou o Estadão.
A companhia japonesa, que investiu mais de R$ 6 bilhões para comprar a Schincariol, busca alternativas após a operação brasileira levar a holding ao primeiro prejuízo de sua história.
A Kirin estuda diferentes modelos para a venda, desde o "desmembramento" de ativos até a saída definitiva do País.
Dependendo do desenho final do negócio, a cervejaria pode ser alvo de todas as suas principais concorrentes: Heineken, Ambev e Petrópolis.
O interesse da Petrópolis pela Brasil Kirin, que já era alvo de comentários, se concretizou na semana passada. Segundo uma fonte de mercado, executivos da dona da Itaipava visitaram três fábricas diferentes da rival: Alagoinhas (BA), Itu (SP) e Igrejinha (RS).
A fonte disse que a Petrópolis pode adotar dois caminhos: buscar uma associação com a Kirin, que precisa de dinheiro novo, ou então comprar as fábricas separadamente. As negociações, no entanto, ainda não estariam avançadas.
A Petrópolis é hoje a segunda maior cervejaria do País, com 14% de mercado, segundo dados Nielsen de maio. A líder de mercado é a Ambev, com 66%, enquanto a Heineken está em terceiro lugar, com pouco mais de 9%. A Kirin, que já foi a tradicional vice-líder, hoje está na quarta posição, com 8,4%.
Como as marcas da cervejaria japonesa estão perdendo terreno - o que fez a empresa ver sua fatia de mercado ser reduzida em 25%, em cinco anos -, uma alternativa clara seria a venda das fábricas, que, em dependendo do preço, vão interessar a todas as concorrentes, segundo outra fonte. Após vender um ativo para a Ambev, no ano passado, a companhia ainda mantém 12 fábricas no País.
De acordo com um consultor na área de bebidas, a Itaipava é a cervejaria que tem hoje o maior déficit de produção no País. E a visita às fábricas da Bahia e do Rio Grande do Sul não ocorreu por acaso.
A unidade de Alagoinhas serviria ao propósito de expandir a distribuição da Itaipava no Nordeste - onde a marca chega a ter 20% de participação em algumas capitais. Já a fábrica de Igrejinha reforçaria a presença da empresa na região Sul, que ainda é tímida.
As dificuldades da Brasil Kirin exigiram que o presidente da operação local, André Salles, apresentasse à matriz, no Japão, um projeto para reduzir despesas.
As mudanças incluem a reorganização do portfólio de marcas e a promessa de corte de custos operacionais de R$ 200 milhões só neste ano, ambos já em andamento.
No terceiro trimestre, a matriz japonesa divulgou que a Kirin teve uma alta de 2% no volume de cervejas e de 12,4% para bebidas não alcoólicas. Para o fechamento do ano, a empresa prevê alta de 1,8% das vendas em reais, para R$ 3,76 bilhões.
Além da Petrópolis, a Heineken já olhou os ativos da Brasil Kirin, dizem fontes. Executivos da cervejaria holandesa já estiveram no Japão discutindo o tema com a rival. A exemplo da Petrópolis, a Heineken ganhou espaço no Brasil nos últimos anos e, apesar de ter expandido seu parque fabril, também poderia ser auxiliada pela capacidade instalada da Kirin.
A Ambev, que anunciou a compra de uma fábrica da Kirin neste ano, poderia ter interesse em mais unidades com a meta de barrar o crescimento da concorrência. Por causa do domínio de mercado da cervejaria, dona de marcas como Antarctica, Skol e Brahma, fontes acreditam que uma aquisição mais abrangente esbarraria no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Procurada, a Brasil Kirin afirmou que não comenta rumores de mercado, apesar de a holding japonesa já ter confirmado que busca alternativas para a operação brasileira. A Petrópolis se negou a falar sobre o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.