Brasília - A Petrobras vai separar, no balanço dos terceiro e quarto trimestres do ano passado, as perdas decorrentes do processo de imparidade (reavaliação de seus ativos) e o que está sendo chamado na petroleira de "custo da corrupção ".
Na imparidade, o valor inflado dos projetos considerado foi constatado principalmente na área de refino.
A ideia é explicitar nas demonstrações financeiras o que a companhia entendeu serem atos de corrupção, baseada em registros encontrados nos processos da Operação Lava Jato.
A missão da nova diretoria de Governança, Risco e Conformidade será desenvolver metodologias que possam capturar artificialismos no preço dos serviços que fornecidos à Petrobras e que até hoje são extremamente difíceis de ser identificados.
Com isso, a empresa espera evitar a repetição de irregularidades constatadas em contratos listados como suspeitos na investigação da Polícia Federal.
As avaliações pesam principalmente em refinarias, como a Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj, no Rio de Janeiro.
A primeira estava orçada em US$ 4 bilhões e ultrapassou US$ 20 bilhões; o Comperj, que começou a obra com previsão de investimentos de US$ 8 bilhões, viu o projeto original minguar ao passo que os custos dispararam para mais de US$ 20 bilhões.
Estimativas
A avaliação na estatal é que os agentes do mercado financeiro estão fazendo uma "tremenda confusão" entre os cálculos de imparidade e de corrupção e "precificando" estimativas equivocadas do quanto a empresa vai reduzir o valor dos ativos.
A previsões estão sendo elaboradas como se tudo fosse consequência dos atos ilícitos.
A Petrobras, garantiu a fonte, não trabalha com uma data firme para a divulgação do balanço, apesar de uma "multidão" de funcionários da empresa ter sido destacada, há mais de cem dias, sem descanso, para fechar as demonstrações financeiras o mais rápido possível.
A intenção é concluir o processo antes de o prazo com os credores - fim de maio - expirar. O vencimento antecipado das dívidas traria mais transtornos à empresa, que já enfrenta problemas de caixa.
A estatal enviou, na quinta-feira, 9, o sétimo fato relevante que, nas últimas semanas, reforça a mensagem de que não há uma data definida para a divulgação do balanço. A nova diretoria considera que o "grande erro" do comando anterior da Petrobras foi estipular prazos que não puderam ser cumpridos. "A gente só fala aquilo que pode cumprir", frisou um dos membros da nova diretoria a alguns interlocutores.
A Petrobras tem pressa em publicar o balanço do ano passado porque os detentores de títulos da dívida podem pedir o pagamento antecipado do débito caso o prazo não seja cumprido.
A empresa negocia mais prazo com os credores. Ontem, a Petrobras ON disparou 9,28% e a Petrobras PN, 9,06%, com a expectativa da publicação do balanço nos próximos dias.
Caos
No processo para fechar o balanço, a equipe da Petrobras está fazendo um trabalho extenso de pesquisa para fornecer aos auditores externos as evidências que levaram a cada perda que será inserida no lançamento contábil.
Com o material fornecido pela Justiça, o grupo procura nas deleções premiadas o período em que o cartel funcionou na companhia e vasculha todos os contratos envolvendo as empreiteiras citadas, inclusive os que já expiraram.
A complexidade se deve ao fato de os pagamentos indevidos não terem, obviamente, nenhum registro na Petrobras, uma vez que foram feitos por empresas que tinham contratos com a companhia.
A quantidade de documentos que estão sendo checados na empresa chega a "milhares". As checagens geram relatórios para cada lançamento contábil.
"É um caos", disse um dos envolvidos no processo, que está sendo acompanhado por auditores externos. Eles fazem checagens, às vezes simultâneas, dos cálculos. Em seguida, terão mais prazo para fazer a análise do balanço completo.
Já as perdas da imparidade se devem, principalmente, ao recálculo dos ativos de petróleo e gás. A Shell, em fevereiro, revisou para baixo os valores de seus ativos em quase US$ 9 bilhões, como consequência desse cenário.
"Todas as empresas de óleo estão fazendo isso porque o preço do petróleo caiu muito", afirmou uma fonte ao jornal O Estado de S. Paulo.
A imparidade deve impactar o lucro. Em 2013, o lucro da Petrobras foi de R$ 23,6 bilhões, seguindo uma média de resultado constante nos últimos anos.
As perdas da companhia no ano passado podem chegar a zerar o lucro de 2014 - ou seja, devem ser da ordem de R$ 20 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
- 1. Tempos difíceis
1 /9(Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
2. Operação Lava Jato 2 /9(Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
3. Fornecedores na mira 3 /9(Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
4. Balanço incompleto 4 /9(REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
5. Mudança de comando 5 /9(Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
6. Acidente fatal 6 /9(REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa,caso fique comprovado erro de operação.
7. Revolta dos acionistas 7 /9(Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
8. Dívidas em dólar 8 /9(Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple 9 /9(Divulgação)