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Para Marc Merrill, da Riot, os e-sports vieram para ficar

Marc Merrill, o fundador e presidente da empresa de games Riot, fala sobre a paixão dos brasileiros por League of Legends

Marc Merril: fundador da Riot Games, dona de League of Legends, elogia entusiasmo dos jogadores brasileiros (Divulgação)

Marc Merril: fundador da Riot Games, dona de League of Legends, elogia entusiasmo dos jogadores brasileiros (Divulgação)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 7 de outubro de 2016 às 21h17.

Última atualização em 20 de junho de 2017 às 17h21.

Entrevista publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e Google Play

São Paulo — Em 2006, o executivo de marketing Marc Merrill e o consultor Brandon Beck largaram seus empregos para criar uma desenvolvedora de jogos eletrônicos. Ambos vislumbraram um mercado que crescia rapidamente, mas ainda não tinha nenhuma empresa dominante, o de games de estratégia para equipes. Surgiu a Riot Games, que lançou em 2009 seu primeiro e único jogo, League of Legends.

O game para computadores se tornou mais popular do mundo. Também conhecido pela abreviatura lol, tem quase 100 milhões de jogadores ativos no mundo e fatura, segundo estimativas, perto de 2 bilhões de dólares por ano. Para acelerar esse sucesso, a Riot ajudou a fomentar os e-sports (ou esportes eletrônicos), com a criação de ligas mundiais, prêmios milionários e profissionalização de atletas.

Hoje, os campeonatos são feitos em estádios, onde são assistidos por dezenas de milhares de pessoas, além de milhões de espectadores que acompanham online. Vendida no final do ano passado para a gigante de internet chinesa Tencent por um valor não divulgado, a Riot completou 10 anos em setembro.

Sobre a história da companhia e o futuro do negócio, o fundador e presidente da empresa, Marc Merrill, concedeu esta entrevista ao EXAME Hoje.

Hoje, esportes eletrônicos são um negócio forte, com campeonatos gigantes, milhões de fãs e jogadores profissionais. Qual é a sua expectativa para os e-sports nos próximos anos?

Eu acho que disputar um campeonato de e-sports é um sonho para jogadores. Quando eles jogam competitivamente, quando é uma paixão, também é algo superdivertido de assistir. Para os fãs, é como ver o Michael Jordan, o LeBron James jogando no alto nível que querer copia-los, copiar seus movimentos, usar seu uniforme e todas essas coisas.

Para nós, as pessoas jogarem profissionalmente é algo que também sempre sonhamos e o mais legal é que nos últimos cinco anos os e-sports começaram realmente a ter seu espaço junto a outros esportes, ganhando cobertura da mídia esportiva, fazendo grandes eventos, e isso é muito empolgante. Os e-sports estão aqui para ficar.

Mas isso também é parte do seu negócio. Como a Riot se vê nesse cenário?

Jogadores que gostam muito do jogo normalmente também se interessam por assistir jogadores profissionais. Nosso objetivo é facilitar a experiência de ser um jogador de lol. Como desenvolvedores, nossa responsabilidade é cultivar um ecossistema em que organizamos grandes eventos ao vivo, com transmissões para o mundo todo, e com uma liga mundial forte, que mostra os melhores jogadores no mundo, e que é gerida com integridade. Então é assim que vemos o nosso papel.

Vocês levaram esse conceito de uma liga de e-sports para outro nível. A liga passou a ser transmitida por canais esportivos e acompanhada por milhões de pessoas no mundo todo. Como fizeram isso?

Falando sobre videogame jogado de maneira competitiva, isso está aí há um bom tempo. Provavelmente os primeiros torneios de videogame profissional foram na metade dos anos 90. Eles cresceram de verdade na Coreia do Sul e começaram a demonstrar que eram um negócio viável. Mas apenas mais recentemente isso se expandiu para o resto do mundo e se tornou o que é hoje, com grandes eventos mundiais.

Nós sempre vimos League of Legends como um jogo que é muito competitivo e que poderia ser jogado em alto nível, porque é uma experiência baseada em competição entre times. Então, na primeira temporada, quando tínhamos apenas criado o conceito de um campeonato para o jogo, fizemos um torneio com centenas de milhares de dólares em prêmios e eventos grandes com a intenção chamar atenção e tornar isso algo global.

Sempre achamos que o League of Legends precisaria ser algo maior do que o online. Fazendo campeonatos ao vivo e os transmitindo, atingiríamos mais gente interessada, e foi assim que o fenômeno cresceu até o patamar que está hoje. Isso tudo começou com a crença de que o jogo poderia ser jogado de maneira competitiva, mas nunca imaginamos que atingiríamos o que somos hoje.

Os jogos eletrônicos são historicamente para jovens e vemos isso com o passar do tempo. Contudo, a principal oportunidade de negócios está no grupo de pessoas um pouco mais velhas. Como atrair esses jogadores?

Nós focamos em qualquer pessoa que queira jogar seriamente, que goste de jogar. Essa é a comunidade que nos relacionamos e entendemos a fundo. Então, focamos em entregar um bom jogo para esse público, não importando a idade, gênero ou nacionalidade. Não temos planos de mudar esse foco para atingir uma audiência maior. Se mais pessoas gostarem do nosso produto com o nosso foco, fantástico, mas não estamos dispostos a comprometer a experiência que nossos jogadores fiéis têm para fazer um produto para todos.

A Riot produz o jogo para computador de maior sucesso no mundo, mas ele é, por enquanto, a única estrela no portfólio da companhia. Existem outros projetos em vista?

Sim, com certeza. Nós continuamos muito focados em League of Legends, temos muito trabalho ainda por fazer e muitos aspectos do jogo ainda podem ser melhorados, o que nos deixa muito ocupados. Por outro lado, temos planos de novos produtos e trabalhos em breve.

Além de jogos, quais são os outros planos para a Riot, como negócio, para continuar o crescimento?

Com certeza os jogos são o nosso principal negócio e o que mais focamos. Também focamos nas ligas, como uma parte importante do jogo. Meio que por acidente, mas sentimos que é uma oportunidade de continuar construindo os e-sports e entregar uma experiência adicional para os jogadores. Isso também é algo que nos toca pessoalmente, como desenvolvedores. São essas áreas que mais focamos no momento.

Os computadores, cada dia mais, perdem espaço para os telefones celulares no que diz respeito ao acesso à internet. A Riot tem planos para jogos nessa plataforma?

Nosso objetivo é pensar em como fazer com que o jogador tenha a melhor experiência possível com o que criamos e isso pode ser em qualquer plataforma. Não importa se no computador, no mobile ou em um console. Nós não somos somente focados nos PCs, somos uma companhia “agnóstica”, somos muito mais focados no nosso público e faremos nossos jogos em qualquer plataforma desde que possamos entregar bons jogos para os consumidores.

Vocês lançaram League of Legends em 2009 e desde então muito mudou no mundo da tecnologia. Quais são os próximos passos para a Riot nesse cenário?

É engraçado. Se lançássemos o jogo hoje, seria muito mais fácil do que quando o fizemos, porque o ecossistema está muito mais desenvolvido. A nuvem, que utilizamos para hospedar nosso jogo, evoluiu muito desde então, assim como os softwares utilizados para criar o jogo, que se tornaram muito mais robustos e especializados. Nós tivemos que fazer boa parte da infraestrutura por nós mesmos, e amaríamos não ter tido que resolver todos esses problemas logo no começo, porque é supercomplexo e caro.

O mundo da tecnologia está agora significativamente mais avançado. Um problema que continua incrivelmente complicado é fazer pagamentos internacionais. É extremamente difícil realizar isso. Mas tudo está melhorando com o tempo e continuamos focando em expandir para todo o mundo da melhor maneira.

A realidade virtual, como a utilizada pelos óculos que estão se tornando populares, ou a realidade aumentada, que é utilizada em jogos como Pokémon Go, serão parte do futuro da indústria de jogos?

Absolutamente. Eu acho que esse tipo de tecnologia foi o foco de investimentos nos últimos anos e continuará sendo pelos próximos e isso fará com que deslanche. Existe muita inovação que está acontecendo como resultado disso. Eu acho que está se criando tantas maneiras de utilizar essas tecnologias que não podemos nem imaginar ainda como será.

A Riot estará nesta onda?

Talvez. Depende de como essas plataformas se desenvolverem e o tipo de experiência que elas entreguem para os usuários. Como disse, não trabalhamos em torno da plataforma, mas da ideia do jogo.

O League of Legends é grátis. O usuário não paga para jogar nem evoluir, apenas para customizar seus personagens. Isso foi fundamental para o rápido sucesso que o jogo teve. No entanto, hoje é um sucesso comercial. Esse é o melhor modelo de negócios para um jogo como esse?

Nossa visão era de que ele tinha que ser de graça porque ninguém conhecia nem a Riot, nem o League of Legends. Então, não teríamos como pedir para as pessoas gastarem um monte de dinheiro com um jogo desconhecido de uma companhia desconhecida como se ele fosse feito por uma companhia consolidada.

Por outro lado, poderíamos chegar para elas e dizer “olha, temos um jogo legal e é de graça!”. Então, tínhamos que pensar em outra forma de ganhar dinheiro para tornar a companhia viável. Hoje, acho que esse modelo funciona muitíssimo bem para o League of Legends, mas eu não diria que esse é o modelo que a Riot sempre vai adotar para outros jogos, não é necessariamente como serão os nossos próximos jogos.

Como vocês enxergam o mercado no Brasil para os próximos anos?

Os brasileiros têm uma reputação no mundo todo por serem os mais apaixonados com relação ao jogo. Temos muito respeito por esse entusiasmo. O mercado é muito ativo e robusto. Do ponto de vista de e-sports, os times brasileiros têm crescido muito rapidamente, e também o grupo de fãs. Está no mapa da companhia porque cresce muito rápido.

Para ler esta entrevista primeiro, assine EXAME Hoje.

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