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Para fazer caixa, construtoras põem ativos à venda

Sem crédito na praça, as empreiteiras envolvidas na Lava Jato estão pondo seus ativos fora do ramo da construção à venda

Aeroporto de Guarulhos: a OAS pretende se desfazer da participação na Invepar, que é dona da concessão do aeroporto de Guarulhos (Marcelo Camargo/ABr)
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Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2015 às 08h23.

São Paulo - Sem crédito na praça e com caixa apertado, as construtoras envolvidas na Operação Lava Jato estão pondo seus ativos fora do ramo da construção à venda e podem levar a uma reorganização societária nas recentes concessões de aeroportos.

A OAS pretende se desfazer da participação na Invepar, que é dona da concessão do aeroporto de Guarulhos, de negócios de saneamento e de dois estádios de futebol construídos para a Copa do Mundo.

Já a UTC Engenharia está oferecendo ao mercado sua fatia no aeroporto de Viracopos e a Engevix está prestes a fechar a venda de sua empresa de energia para seu sócio norueguês, a SN Power.

Os aeroportos em que a Engevix é sócia, de Brasília e Natal, que custaram juntos quase R$ 2 bilhões, também estão sendo cobiçados pelos bancos de investimentos, que têm feito propostas para assessorar a empresa na venda dos ativos.

Alguns potenciais compradores já foram até sondados, mas uma fonte próxima à companhia diz que não há qualquer intenção de se desfazer desses ativos, já que, além de os aportes necessários já terem sido feitos, as concessões estão começando a ter receita.

Outro motivo é que o dinheiro que deve entrar em caixa com a venda da empresa de energia Desenvix seria suficiente para fazer frente aos investimentos assumidos pela companhia e também para honrar os compromissos da construtora, que representa um quarto dos negócios do grupo e hoje só pode contar com seu caixa.

Segundo algumas fontes, a Engevix deve receber mais de R$ 500 milhões pela participação na Desenvix, que já estava sendo negociada com o sócio antes mesmo de estourar a operação da Polícia Federal.

O fato de não ter dívidas de curto prazo alivia a situação da Engevix, já que os bancos se fecharam e não estão concedendo crédito às construtoras envolvidas na Lava Jato.

Mas outras construtoras estão em situação mais grave, como é o caso da OAS, que já nos primeiros dias do ano deixou de pagar R$ 116 milhões em juros e dívidas.

A empresa anunciou na segunda-feira, 5, que está fazendo um plano de reestruturação, que inclui a venda de ativos.

O grupo OAS tem hoje na Invepar um de seus principais investimentos. A empresa tem 25% da sociedade que está à frente de 12 concessionárias, entre elas o aeroporto de Guarulhos, rodovias e metrôs.

Seus sócios no negócio são os fundos de pensão do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa, cada um deles com 25% do negócio.

Uma fonte ligada a um desses fundos diz que há limitação da participação das fundações no negócio, mas a depender do preço e do novo eventual sócio, pode haver interesse na compra.

A OAS não quis comentar o assunto e reenviou a nota divulgada segunda-feira, quando deixou de pagar parte da dívida. De acordo com fontes do mercado financeiro, as concessões na área de saneamento da OAS são as que devem ser vendidas mais rapidamente, e os negócios mais robustos estão sendo oferecidos para mostrar ao governo federal de que as companhias estão dispostas a cooperar.

Um estudo feito pelo governo mostra que o total das dívidas das empresas envolvidas na operação chegaria a R$ 130 bilhões, o que representa 10% do mercado de crédito. Em caso de inadimplência em cascata, levaria a uma crise sistêmica no setor bancário.

Outro aeroporto que está na mesa de negociações é o de Viracopos. A UTC Engenharia é uma das principais sócias da concessão e, segundo algumas fontes, está tentando vender sua fatia.

A empresa não quis comentar, mas alguns sócios podem assumir a participação da concessão caso a UTC avance nas negociações.

Vencimento

Sem crédito no mercado, com dívidas vencendo e fluxo de caixa debilitado pela falta de pagamento da Petrobras, as construtoras envolvidas na Lava Jato ainda têm outro problema sério para contornar. Quase todas as operações de crédito têm cláusulas que permitem ao investidor antecipar o vencimento de algum papel.

"É claro que para o credor o melhor é que se resolva a situação antes de acionar a antecipação do vencimento. É o que deve estar ocorrendo com a OAS", afirmou um advogado, especialista no assunto.

A empresa contratou três escritórios, sendo dois de advocacia e um assessor financeiro, para negociar com os credores. Ontem, os títulos da empresa negociados no exterior chegaram a valer 15% de seu valor de face, que é porcentual encarado pelos investidores como de uma empresa que não deverá pagar dívidas.

Outra forma de convencer os detentores de títulos a não acionarem a cláusula seria a venda de ativos para reforçar o caixa. "Vários interessados já estão se movimentando e analisando os ativos que podem ser colocados à venda", afirmou um especialista.

Segundo ele, no entanto, nem todos os ativos são fáceis de serem vendidos, como a Ecovix, da Engevix, que tem um estaleiro no Rio Grande do Sul que faz plataformas para a Petrobrás.

O mesmo ocorre com o Aeroporto Internacional de Natal, em São Gonçalo do Amarante (RN), que teria poucos atrativos em comparação com o Aeroporto de Brasília.

A operação de Viracopos, da UTC, também é considerada problemática por investidores e mesmo a de Guarulhos poderia ter dificuldades pelo fato de ser uma participação relevante da OAS, sem a detenção do controle.

Na opinião do sócio da assessoria financeira BF Capital, Renato Sucupira, a operação Lava Jato terá consequências pesadas na infraestrutura, que viverá redução momentânea nos investimentos. Além disso, avalia ele, novos grupos vão surgir.

Empresas nacionais de menor porte poderão se unir a companhias estrangeiras para disputar leilões do governo federal e substituir aquelas que estiverem impossibilitadas de entrar em licitações.

"Também haverá um movimento intenso de compra e venda de ativos no setor." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

São Paulo - Depois de 16 meses de investigações, 36 pessoas que estavam na mira da Operação Lava Jato foram denunciadas pelo Ministério Público Federal. Este, contudo, seria apenas o começo, de acordo com Rodrigo Janot, procurador-geral da República e chefe do MPF. Ao todo, 23 pessoas ligadas às empresas Camargo Corrêa , Engevix, Galvão Engenharia , Mendes Júnior , OAS e UTC também foram denunciadas pela Procuradoria. O MPF estima que 286 milhões de reais tenham sido movimentados no esquema e espera um ressarcimento mínimo de 971,5 milhões de reais.

Se o juiz Sérgio Moro, responsável pelo caso, acatar a denúncia, os 35 envolvidos serão julgados por crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro e crime de corrupção. Segundo o relatório divulgado pela Procuradoria, as penas podem chegar a 127 anos de detenção, caso o réu seja considerado culpado pelos crimes de organização criminosa, 3 atos de corrupção e 3 atos de lavagem de dinheiro. A Mendes Júnior, por exemplo, teria acumulado 53 atos de corrupção. Veja a lista de penas possíveis para cada crime:
CrimePena mínimaPena Máxima
Organização criminosa4 anos e 4 meses13 anos e 4 meses
Corrupção2 anos e 8 meses21 anos e 4 meses
Lavagem de dinheiro4 anos16 anos e 8 meses
Veja a lista dos 35 denunciados no esquema de corrupção da Petrobras.
  • 2. Mendes Junior + GFD

    2 /7(Divulgação)

  • Veja também

    Mendes Junior + GFD
    Denunciados16
    Corrupção da empresa (R$)71.602.688,48
    Ressarcimento buscado (R$)214.808.065,45
    Valor envolvido na lavagem (R$)8.028.000,00
    Número de atos de corrupção e lavagem53 corrupções e 11 lavagens + 30 lavagens
  • 3. Camargo Corrêa + UTC

    3 /7(Divulgação)

  • Camargo Corrêa + UTC
    Denunciados10
    Corrupção da empresa (R$)86.457.578,91
    Ressarcimento buscado (R$)343.033.978,68
    Valor envolvido na lavagem (R$)36.876.887,75
    Número de atos de corrupção e lavagem11 corrupções e 7 lavagens
    Veja o posicionamento da Camargo Corrêa e da UTC “A Construtora Camargo Corrêa esclarece que pela primeira vez seus executivos terão a oportunidade de conhecer todos os elementos do referido processo e apresentar sua defesa com a expectativa de um julgamento justo e equilibrado.”
    "Os advogados da UTC não tiveram acesso à denúncia e só se manifestarão depois de analisá-la."
  • 4. Engevix

    4 /7(Divulgação/ Engevix)

    Engevix
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)52.977.089,89
    Ressarcimento buscado (R$)158.931.269,69
    Valor envolvido na lavagem (R$)13.432.500,00
    Número de atos de corrupção e lavagem33 corrupções e 31 lavagens
    Veja o posicionamento da Engevix: "A Engevix, por meio dos seus advogados, prestará os esclarecimentos necessários à justiça."
  • 5. Galvão Engenharia

    5 /7(Divulgação/ Galvão Engenharia)

    Galvão Engenharia
    Denunciados7
    Corrupção da empresa (R$)46.063.344,24
    Ressarcimento buscado (R$)256.546.958,55
    Valor envolvido na lavagem (R$)5.512,430,00
    Número de atos de corrupção e lavagem37 corrupções e 12 lavagens
  • 6. OAS

    6 /7(REUTERS/Aly Song)

    OAS
    Denunciados9
    Corrupção da empresa (R$)29.321.227,22
    Ressarcimento buscado (R$)213.039.145,36
    Valor envolvido na lavagem (R$)10.300.038,93
    Número de atos de corrupção e lavagem20 corrupções e 14 lavagens
  • 7. Veja outras matérias sobre a corrupção na Petrobras

    7 /7(Vanderlei Almeida/AFP)

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