Cerveja: invenção promete decompor álcool ainda no intestino. (Jon Hicks/Getty Images)
Lucas Amorim
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 08h59.
Última atualização em 12 de janeiro de 2021 às 09h58.
Uma vez por ano, analistas que acompanham o mercado de cervejas brasileiro pelo banco de investimentos Credit Suisse têm uma tarefa que para muitos não seria nenhum sacrifício: visitar dezenas de bares para mapear o desempenho das cervejarias. Com a chegada da pandemia da covid-19 e o chacoalhão que provocou no mercado nacional, a expectativa para o relatório era das mais altas neste início de ano.
Na manhã desta terça-feira, 12, o "beer tour" do Credit chegou. Desta vez, a equipe do banco, com pandemia e tudo, visitou 302 bares em São Paulo (232), Rio de Janeiro, (35) e Vitória da Conquista, na Bahia (35). Foram 187 bares a mais que no ano anterior, e a inclusão de uma diversidade geográfica que mira checar na ponta, e com variedade, como está a presença de marca, a distribuição e a estrutura de preços das grandes cervejarias.
Mais uma vez, a Ambev, líder absoluta no mercado nacional, foi destaque em distribuição, chegando a 98% dos bares, incluindo 100% dos estabelecimentos em bairros de alta renda. Nos bairros de baixa renda a cervejaria perdeu parte da presença (de 100% para 97%), para botecos que agora vendem apenas marcas da Heineken ou da Petrópolis.
A Heineken, principal concorrente da Ambev e que tem no Brasil o maior mercado para sua principal marca, segue em apuros no ponto de venda. "O alcance da distribuição da Heineken se deteriorou, e os problemas de suprimento da marca principal seguem", afirma o relatório, liderado pela analista Marcella Recchia. A cervejaria holandesa segue sentindo os efeitos, no Brasil, de uma disputa com a Coca-Cola, responsável por sua distribuição durante anos. A presença da Heineken caiu em todos os segmentos, e de 85% para 78% na média geral. Metade dos bares reclamou da constante falta de produto da marca Heineken.
A principal marca da Ambev, a Skol, segue sendo a mais vendida, seguida mais uma vez pela Heineken. A Itaipava, do Grupo Petrópolis, parece ter sido uma das perdedoras da pandemia, segundo o Credit Suisse, com sua penetração caindo de 68% para 49% em um ano.
Um dos destaques apontados pelo banco foi a Brahma Duplo Malte, lançada ano passado e já a sétima marca com mais presença nos bares pesquisados, à frente de Stella Artois, Antarctica e Serra Malte, e também à frente de um concorrente direto, a Amstel. Roubou, inclusive, parte do mercado da Brahma, dada a agressiva estratégia de preço da cervejaria para sua novidade. A Brahma Duplo Malt é uma das principais inovações de um ano em que a Ambev investiu como nunca em novidades, como mostra a capa da revista EXAME do início de dezembro.
Entre os motivos que levam a Ambev a seguir como líder inconteste do mercado de bares é sua arquitetura de preços, aponta o Credit Suisse. Com uma variedade ímpar de marcas, a cervejaria consegue se posicionar de forma competitiva em todos os segmentos -- incluindo a chegada da Becks, posicionada agora no topo da pirâmide. A Heineken, por sua vez, segundo os analistas, agora foca na competição cada vez mais nas marcas premium -- a cervejaria holandesa também é dona, no Brasil, da marca Eisenbahn.
Um ponto dramático do relatório é a constatação de que cerca de 20% dos bares revisitados não sobreviveram à pandemia do novo coronavírus. "Mais de 70% desses bares estavam em regiões de baixa renda", afirma o Credit. O Brasil, lembram os pesquisadores, tem 550.000 bares.