Os planos da Mercedes-Benz para caminhões e ônibus no Brasil
Em meio aos desafios de suprimentos de semicondutores e do aumento do Diesel, companhia quer se manter como “Top of Mind” na cabeça de consumidores
Karina Souza
Publicado em 13 de janeiro de 2022 às 13h09.
Última atualização em 14 de janeiro de 2022 às 11h32.
A divisão de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz enfrentou dificuldades em vendas no último ano, caindo para o segundo lugar no ranking de faturamento no país, perdendo a liderança que era mantida invicta desde 2016. A escassez de semicondutores foi o principal fator para o resultado, segundo a companhia, sem esquecer que afetou o setor como um todo no último ano. Apesar de o problema não ter sido completamente superado em 2022, este ano alguns fatores trazem novo fôlego à companhia: o fato de que a Daimler se tornou uma divisão diferente da Mercedes-Benz carros, o impulso da vacinação para aumentar o consumo e os deslocamentos no país.
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Em 2021, a companhia vendeu 33,1 mil caminhões, aumento de 24% comparado com 2020, e mais de 5,8 mil ônibus, queda de 10% em relação ao ano anterior. Para 2022, a meta é, claro, crescer: as fábricas de São Bernardo do Campo e de Juiz de Fora estão operando em três turnos para atender à demanda que, segundo a companhia, pode chegar a 140 mil caminhões vendidos em 2022 no mercado como um todo — expectativa alinhada com a da Anfavea. Em entrevista, os executivos da empresa afirmaram que a importância do Brasil é enorme para a companhia, uma vez que se trata de um dos três maiores mercados globalmente para a Daimler.
Para crescer, a companhia pretende inaugurar neste ano o último estágio da Indústria 4.0 na fábrica brasileira, e a participação na Fenatran e LatBus, em que novidades — não especificadas pela companhia — devem ser anunciadas. Ao mesmo tempo, a companhia conta com novas lideranças anunciadas recentemente: Achim Puchert, CEO da divisão de Caminhões e Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, e Karin Rådström, membro do conselho administrativo da Daimler Truck AG, responsável pelas regiões Europa e América Latina e CEO da Mercedes-Benz Truck.
Desafios
Globalmente, a companhia enfrenta dois desafios principais:gerenciar custos fixos e aumentar a receita recorrente, que também são replicados para o país, segundo Karin.
Em ano eleitoral e de escalada na inflação e na Selic, a companhia procura se manter longe de comentários a respeito do cenário macroeconômico, fixando seus desafios em alguns pontos essenciais: logística, com a entrega de semicondutores, adaptação à versão brasileira da Euro 6 e o preço do Diesel.
“Acreditamos muito na força da retomada no Brasil e em setores como o agronegócio e a construção civil para impulsionarem a venda de caminhões”, afirmou Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz Caminhões e Ônibus, durante a coletiva.
Questionado a respeito da concorrência com outros modais para o futuro, o executivo afirmou que não vê como os caminhões devem perder espaço, já que a frota brasileira é bastante velha, o que condiz com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Segundo a ANTT, a idade média dos veículos no Brasil é de 14,32 anos.
Sem caminhões elétricos no Brasil — pelo menos por enquanto
Entre os principais tópicos discutidos nesta manhã com jornalistas, ambos ressaltaram o papel que a sustentabilidade deve ter dentro da marca ao longo dos próximos anos: a Mercedes-Benz, de forma geral, quer ter 100% da frota — de todos os veículos — elétrica até 2030. Para os caminhões e ônibus, os primeiros passos dentro dessa estratégia já foram dados no ano passado, com parcerias firmadas na Europa para a construção de infraestrutura de carregamento. No Brasil, entretanto, ainda não há datas para futuros lançamentos.
“É um passo importante para o qual estamos atentos, mas precisamos avaliar quanto investimento será necessário não apenas para desenvolver caminhões elétricos, mas sim o quanto a infraestrutura do país estará preparada para recebê-los”, afirmou, em entrevista coletiva.
A concorrência já está atenta aos novos critérios de sustentabilidade. A Volkswagen Caminhões e Ônibus lançou, em 2021, a primeira linha de caminhões elétricos para o país, chamada e-Delivery.
Ampliando o escopo, a VWCO deve investir R$ 2 bilhões no país até 2025, como anunciou no fim de 2021. Enquanto isso, a Mercedes-Benz chega ao fim do ciclo de investimentos anunciado para o país em breve e, por enquanto, ainda não anunciou qual será o valor atualizado para o Brasil ao longo dos próximos anos.
Futuro
Entre as metas citadas para os próximos anos, os executivos citam desenvolver uma cultura de empoderamento dos colaboradores e atenção máxima ao cliente. Inclusive, no último ano, a companhia aumentou a quantidade de pontos de serviços aos consumidores e deve investir cada vez mais em tecnologia para acompanhar a capacidade do mercado. Segundo Karin, o fato de que a Daimler se tornou recentemente uma companhia separada das demais divisões pode colaborar para orientar esses planos de forma mais clara.
"Estamos focados em pessoas e em novos processos de tecnologia e acreditamos que essa independência pode reforçar essas capacidades dentro da companhia. Estamos cada vez mais atentos ao que consumidores e colaboradores esperam de nós e vamos investir para atender às expectativas deles", diz Karin.