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OPINIÃO: O que molda as perspectivas para M&As no Brasil em 2026

Após ciclos impulsionados por juros baixos e pela aceleração digital, o setor agora opera sob um cenário mais técnico, influenciado por expectativas de política monetária, pelo avanço da reforma tributária e pelo amadurecimento dos investidores

Alessio Mainardi, CEO da Zucchetti Brasil: "Se 2026 será um ano de expansão ou de cautela depende menos das oscilações de curto prazo e mais da habilidade dos players em interpretar esses sinais e agir com consistência" (Divulgação/Divulgação)

Alessio Mainardi, CEO da Zucchetti Brasil: "Se 2026 será um ano de expansão ou de cautela depende menos das oscilações de curto prazo e mais da habilidade dos players em interpretar esses sinais e agir com consistência" (Divulgação/Divulgação)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 17h53.

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*Por Alessio Mainardi, CEO da Zucchetti Brasil

O mercado brasileiro de fusões e aquisições entra em 2026 marcado por um movimento de reacomodação.

Após ciclos impulsionados por juros baixos e pela aceleração digital, o setor agora opera sob um cenário mais técnico, influenciado por expectativas de política monetária, pelo avanço da reforma tributária e pelo amadurecimento dos investidores.

Nesse ambiente, a disparidade entre compradores com perfil financeiro, sensíveis ao custo de capital, ao apetite por risco e às janelas de liquidez, e investidores estratégicos, que atuam com visão de longo prazo, deve se tornar ainda mais evidente.

A chave para compreender o comportamento do mercado está justamente na diferença de racionalidade entre esses dois perfis. Fundos e venture capital tendem a reagir de maneira imediata às variáveis macroeconômicas, ajustando múltiplos de valuation conforme o custo do dinheiro.

Já os compradores estratégicos, normalmente empresas que buscam construir ecossistemas de soluções e ampliar portfólios, mantêm movimentos mais estáveis. Esse descompasso deve continuar moldando a dinâmica e o volume das transações no Brasil em 2026, influenciando desde a precificação até a velocidade dos processos de negociação.

Nos últimos anos, as mudanças no custo de capital deixaram ainda mais claras essas dinâmicas. Em períodos de juros baixos, o mercado assistiu à valorização acelerada dos múltiplos, impulsionada pelo excesso de liquidez e por setores em pleno hype — especialmente tecnologia.

Já em um ambiente de CDI próximo a 15% ao ano, o efeito é inverso: compradores financeiros tornam-se mais seletivos, diminuem o apetite por risco e revisam valuations de maneira mais conservadora. É nesse momento que muitas empresas em busca de compradores enfrentam frustrações ao comparar expectativas baseadas em ciclos passados com uma realidade macroeconômica completamente distinta.

M&A como ferramenta de sobrevivência

Por outro lado, o investidor estratégico, aquele que enxerga tecnologia, produtos e sinergias como pilares de construção de valor a longo prazo, tende a atravessar ciclos de alta e baixa mantendo sua agenda de aquisições. Essa estabilidade ajuda a explicar por que operações conduzidas por players corporativos apresentam menor volatilidade ao longo do tempo.

Em vez de reagir a cada oscilação macroeconômica, esse perfil avalia como uma aquisição reforça o posicionamento, amplia o portfólio ou abre portas para novos mercados. Em 2026, esse movimento deve ganhar força à medida que segmentos inteiros entram em fase de consolidação, pressionados pela competição, pela transformação tecnológica e por mudanças estruturais como a reforma tributária.

Entre os vetores que devem influenciar o ritmo das transações no próximo ano, a competitividade crescente no setor de software se destaca. Em algumas verticalizações, movimentos recentes de consolidação acirraram a disputa, levando empresas de porte médio e grande a reavaliarem sua posição no mercado e sua capacidade de resistir a players mais capitalizados.

Em outras frentes, a pressão vem de transformações originadas no próprio ecossistema tecnológico: modelos de negócios que mudam rapidamente, novas ofertas gratuitas ou subsidiadas e a entrada de plataformas globais têm levado empresas menores a reconsiderar seu espaço competitivo.

Esse conjunto de forças tende a acelerar a reorganização de segmentos específicos, nos quais operações de M&A surgem tanto como ferramenta de sobrevivência quanto de fortalecimento estratégico.

A inteligência artificial, embora presente no discurso de muitos setores, ainda vive um momento de maturação em termos de produtos realmente transformadores. Poucas empresas no mundo possuem tecnologia de IA suficientemente robusta para rivalizar com os grandes modelos fundacionais; o restante do mercado navega majoritariamente na camada de aplicações.

Ainda assim, a expectativa é de que, em 2026, negócios que orbitam esse universo movimentem boa parte das transações. Quem conseguir traduzir IA em soluções amplamente aplicáveis a problemas reais — e não apenas em funcionalidades pontuais — terá maior probabilidade de atrair capital e consolidar posição.

Esse fenômeno deve impulsionar tanto compras estratégicas quanto aquisições motivadas pela necessidade de empresas tradicionais se manterem competitivas.

Prudência e oportunidade

Outro componente relevante para 2026 é o efeito indireto da reforma tributária sobre o setor de tecnologia. A transição para o novo modelo fiscal impõe uma carga adicional de complexidade operacional, especialmente para pequenas empresas de software que já operam com estruturas enxutas e margens mais sensíveis.

Para muitas delas, acompanhar as mudanças regulatórias exigirá investimentos que nem sempre são viáveis, o que tende a ampliar a distância entre players menores e grupos consolidados. Em cenários assim, movimentos de aquisição podem se tornar não apenas uma estratégia de expansão, mas também uma saída natural para empresas que não desejam, ou não conseguem, absorver esse nível de transformação.

Diante desse conjunto de forças — macroeconomia, competição setorial, avanço da IA e reorganização regulatória — o mercado brasileiro de M&As se encaminha para um 2026 que deve combinar prudência e oportunidade.

A volatilidade dos investidores financeiros continuará sendo um termômetro relevante, especialmente para empresas que dependem de capital intensivo ou carregam expectativas de valuation baseadas em ciclos passados.

Ao mesmo tempo, o horizonte mais claro para juros e a maturidade crescente do ecossistema de tecnologia tendem a favorecer movimentos mais racionais, nos quais preço, sinergia e capacidade real de integração pesam mais do que narrativas de crescimento acelerado.

Se 2026 será um ano de expansão ou de cautela depende menos das oscilações de curto prazo e mais da habilidade dos players em interpretar esses sinais e agir com consistência. Em mercados complexos como o brasileiro, essa leitura é tão valiosa quanto o próprio capital.

* Sobre a Zucchetti: A Zucchetti fornece software para 750 mil empresas em todo o mundo. Sendo a primeira software house italiana e uma das maiores companhias da Europa no segmento, a empresa tem sedes por toda a Itália e está presente em mais de 50 países, tais como Alemanha, Estados Unidos, França, Suíça e, há 14 anos, no Brasil — onde conta com 120 mil clientes e mais de 4 mil parceiros. No país, a empresa mantém quatro pilares — software ERPs, software de automação comercial (PDV), sistemas de gestão para RH (HR Tech) e assinaturas digitais (D4Sign). No mundo, a Zucchetti conta com 8 mil pessoas colaboradoras. Entre seus clientes estão Banco Inter, Ifood, Stone, Lojas Marisa, Volkswagen, ArcelorMittal, Cimed, Danone, CSN e Marcopolo.

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