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Operação Zico: como a Kirin desbancou as rivais e comprou a Schincariol

Cervejaria japonesa entrou tarde em campo, mas foi mais objetiva no ataque e desbancou SABMiller, Diageo e Heineken

Fábrica da Schin, em Itu: nas mãos dos japoneses da Kirin (BETO BARATA)

Fábrica da Schin, em Itu: nas mãos dos japoneses da Kirin (BETO BARATA)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2011 às 05h00.

São Paulo – Jun Makuta, um dos advogados da TozziniFreire, passou praticamente todo o dia 1º de maio sem bateria no celular. Quando recarregou o aparelho, à noite, notou várias ligações não atendidas – todas de um mesmo número. Ao retorná-las, naquele mesmo dia, foi atendido pelo gerente jurídico da Kirin, que convidava o escritório a assessorá-lo na Operação Zico.

É claro que a cervejaria japonesa não estava interessada em nenhum jogador brasileiro – nem mesmo o Galinho, que fez sucesso no Japão dos anos 90. Operação Zico era o codinome, escolhido pela Kirin, para um plano ambicioso: comprar a brasileira Schincariol e, com isso, entrar no país.

O maior problema, àquela altura, era tempo. A Kirin foi a última a entrar na briga, e teria apenas 15 dias para analisar a Schincariol e estruturar uma proposta. As outras interessadas – SABMiller, Diageo e Heineken – estavam mais adiantadas (oficialmente as empresas não comentam o assunto). Na verdade, o mandato de venda da Schincariol fora concedido ao BTG Pactual em fevereiro – e, desde então, o banco de investimentos buscava compradores. A Carlsberg afirmou que, no momento, concentrava seus esforços nas operações asiáticas.

A Kirin chegou à TozziniFreire por meio de sua co-irmã Tozan, fabricante de bebidas e alimentos que, no Brasil, representa a marca de cerveja e já era assessorada pelos brasileiros.

O escritório mobilizou 40 profissionais para montar a operação a tempo. Além da banca, estavam ao lado dos japoneses, o Citibank e as consultorias AT Kearney e Deloitte. O apetite da Kirin era grande. “Desde a primeira reunião, a Kirin deixou claro que queria comprar 100% da Schincariol”, afirma uma fonte que participou das conversas.

O primeiro encontro entre os japoneses e a cúpula da Schincariol, em Itu, ocorreu em maio. Em meados de junho, a Kirin voltou à mesa de negociações, desta vez, em Nova York, em uma reunião no escritório local do BTG Pactual. Nem Adriano, nem Alexandre, participaram – apenas os assessores. “Foi mais uma conversa; nem apresentamos o preço”, diz Pedro Seraphim, que coordenou a operação pelo TozziniFreire.

Embora quisesse levar 100% da Schincariol, a Kirin aceitou avaliar apenas a parte dos sócios majoritários. Coube ao banco americano, em meados de junho, chegar a um valor próximo dos 3,95 bilhões de reais que a Kirin acabaria pagando pela fatia de 50,5% dos irmãos Alexandre e Adriano Schincariol.


No final daquele mês, dos quatro interessados iniciais, apenas três formalizaram uma proposta – a Diageo havia desistido. Heineken e SABMiller chegaram a valores próximos, 3,2 bilhões e 3,3 bilhões de reais, respectivamente.

Apresentar uma proposta mais alta não foi o único trunfo da Kirin para bater os rivais. Outro elemento pesou tanto ou mais. Os japoneses foram os únicos que não colocaram condições para o negócio. Queriam apenas assinar a papelada e assumir os 50,5%. As outras queriam, por exemplo, fazer pré-contratos para evitar problemas caso os minoritários resolvessem barrar a operação.

Isto porque, já em junho, havia dúvidas sobre as chances de os minoritários barrarem a operação. Foram feitos estudos sobre a cláusula do estatuto que estabelece o direito de preferência de Gilberto, José Augusto e Daniela – os primos reunidos na Jandagil – de comprar os papéis. “Os japoneses sabiam que poderia haver briga, mas decidiram seguir com a operação”, diz uma fonte que participou da negociação.

Pela Kirin, o Citibank encaminhou a proposta por escrito. Houve então uma reunião em Nova York, novamente convocada pelo banco de André Esteves, na primeira semana de julho, para fazer ajustes no contrato. Dez dias depois, mais uma reunião, dessa vez em Londres. Nesse encontro, o contrato já estava finalizado e Kirin e Schincariol acertavam os últimos detalhes. Antes disso, os envolvidos voaram novamente para Nova York para checar pendências da auditoria iniciada em maio, que ainda não havia sido finalizada.

Na volta para o Brasil, diz uma fonte ligada à operação, Alexandre ligou para Gilberto dando-lhe a chance de fazer uma oferta pelos 50,5%. Gilberto insistia que não havia comprador. O valor para que ele levasse a parcela dos primos deveria ser superior a 4 bilhões de reais.

Segundo uma fonte ouvida por EXAME.com, entre agosto e dezembro de 2010, houve diversas reuniões entre o BTG, Alexandre, Adriano e Gilberto. As conversas foram retomadas em janeiro com a ideia inicial de assessorar todas as partes – ou seja, vender 100% da cervejaria.


Gilberto, desde aquela época, não queria abrir mão de sua parcela. No entanto, o advogado dos minoritários nega que eles sabiam das negociações. “A Jadangil [holding do minoritários] nunca recebeu uma notificação de que Adriano e Alexandre estavam negociando”, diz Cristiano Martins, do escritório Teixeira e Martins.

Sem acordo, o contrato foi assinado com a Kirin no dia 1º de agosto na sede do escritório Mattos Filho, representante da Schincariol em todo o processo. “Nesse dia, às 18h45, Adriano procurou Gilberto para avisar que havia realizado a venda”, diz Cristiano Martins, advogado dos minoritários.

A Kirin tomou posse oficialmente, e já discute as primeiras medidas práticas na Schincariol. Já Gilberto e seus aliados consideram que o negócio não está encerrado – e buscam novos meios de barrá-lo. O jogo ainda deve continuar duro para a Kirin – mesmo se inspirando em um craque dos gramados como Zico.

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