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O que mostra o corte de investimentos da Petrobras ao setor de petróleo

A estatal revisou seu planejamento para os próximos anos diante da queda das projeções de demanda em meio à pandemia

Plataforma de petróleo: redução de custos e foco total no pré-sal (GERMANO LUDERS/Exame)

Plataforma de petróleo: redução de custos e foco total no pré-sal (GERMANO LUDERS/Exame)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 15 de setembro de 2020 às 13h30.

Última atualização em 15 de setembro de 2020 às 15h21.

A Petrobras revisou para baixo seu programa de investimentos de 2021 a 2025, diante da queda das projeções de demanda em meio à pandemia. Para o mercado, o movimento é global e inevitável, mas sinaliza que a janela de grandes oportunidades no setor de petróleo está cada vez mais apertada: quando — e se — o consumo voltar a pleno vapor, talvez os preços do barril e o valor dos ativos já não estejam tão atrativos assim.

O primeiro sinal relevante desse movimento ocorreu em novembro do ano passado, no leilão da promissora área de excedente da cessão onerosa. Esperavam-se grandes lances para os ricos campos do pré-sal na Bacia de Campos, mas a Petrobras levou praticamente tudo em ofertas únicas, com preços mínimos. Para especialistas, na época, o valor dos ativos já estava superestimado em um mercado global de excesso de oferta e um consumo cada vez menos exuberante.

Adicionalmente, as energias renováveis vêm registrando quedas sucessivas nos custos de produção, o que pressiona ainda mais o setor petrolífero.

Neste ano, a pandemia veio para ceifar qualquer grande plano das petroleiras ao redor do mundo. Em 2020, a Agência Internacional de Energia projetou a primeira queda do consumo em uma década e, nesta semana, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduziu suas previsões para este e o próximo ano.

De acordo com relatório do cartel, o consumo de petróleo em 2020 deve recuar 9,5 milhões de barris por dia (bpd), ante 9,1 milhões de bpd na previsão anterior. Para o ano que vem, a retomada também deve ser mais lenta do que o esperado: houve corte de 400.000 bpd na projeção de demanda em relação à previsão anterior.

"É provável que a janela de oportunidades no setor de petróleo esteja mais apertada, até por isso a revisão do plano de investimentos da Petrobras faz muito sentido", afirma Rivaldo Moreira Neto, presidente da Gas Energy Consultoria.

Para Renato Mimica, executivo chefe de investimentos da EXAME Research, o movimento da Petrobras é positivo e deve ajudar a melhorar o perfil de geração de caixa da companhia. "A empresa cortou o guidance de capex em exploração e produção para se ajustar à realidade do setor, impactado pelo coronavírus e pelo novo nível de câmbio. A Petrobras deve focar em investimentos com taxa de retorno superior e breakeven abaixo de 35 dólares por barril, o que vemos como positivo."

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, salienta que o ganho de importância do Campo de Búzios — arrematado no leilão do excedente da cessão onerosa — neste novo plano da estatal reafirma o compromisso da companhia com a eficiência e o objetivo de ganhar terreno onde possui vantagens competitivas. "Com este novo plano, a companhia continuará implementando sua estratégia de competitividade via custo, visando figurar entre os produtores globais mais eficientes."

O analista acredita que a decisão de corte de investimentos também permite que a companhia ganhe tração em sua política de redução da dívida e possa ficar mais próxima de voltar a pagar proventos de forma mais robusta, principalmente a partir de 2022.

Queda da produção

Para Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a decisão da Petrobras é um sinal de que a empresa deve ter um crescimento de produção menor do que o esperado, já que irá investir menos do que se previa.

No entanto, ele vê dois aspectos positivos no movimento. Um deles é a concentração em ativos mais rentáveis, com foco majoritário no pré-sal. Além disso, espera-se uma maior geração de caixa livre no período, o que é importante na relação da dívida.

Neto, da Gas Energy, ressalta que todas as grandes petroleiras globais estão revisando seus portfólios e que, hoje, não faz sentido aumentar a produção em um cenário de pelo menos um a dois anos de dificuldades no horizonte de demanda por petróleo.

"Com esse tipo de decisão, as petroleiras ganham tempo para explorar novos campos e declarar sua comercialidade daqui a uns dez anos. O pico máximo de produção nos próximos anos deve ser menor, mas sua curva será alongada, ou seja, vai ter produção por mais tempo", diz o especialista.

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