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O que a compra da Credicard diz sobre o Itaú (e o Bradesco)

Maior banco privado do país, Itaú fechou quinta operação de porte nos últimos cinco anos; em todas, Bradesco também demonstrou interesse, mas acabou perdendo


	Apetite do Itaú por aquisições e disposição em ceder nos acordos fizeram banco fechar negócios que também interessavam ao rival Bradesco
 (FERNANDO CAVALCANTI / VEJA/VEJA)

Apetite do Itaú por aquisições e disposição em ceder nos acordos fizeram banco fechar negócios que também interessavam ao rival Bradesco (FERNANDO CAVALCANTI / VEJA/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2013 às 16h37.

São Paulo - Na noite de ontem, o Itaú formalizou a compra da Credicard, do Citi, por 2,97 bilhões de reais. Antecipada pela Folha de S. Paulo na última semana, a aquisição não chegou a surpreender o mercado: Itaú e Citi já compartilharam o controle sobre a Credicard no passado, associação que foi desfeita em 2006.

A avaliação é que o Itaú antevia as sinergias que poderia ganhar com a operação, que contempla uma base de 4,8 milhões de cartões de crédito e carteira de 7,3 bilhões de reais. Apesar de administrar os plásticos, a Credicard não possuía uma estrutura no Brasil para processar as transações. O Itaú, por outro lado, conta com a empresa de adquirência Redecard para executar a tarefa, além de uma série de outros serviços bancários para ofertar a esse público.

Outros ganhos potencias estão em jogo. Com a compra, o Itaú levou 96 pontos de venda da Credicard Financiamentos, unidades que poderão ser extintas se considerada a extensa base de 4.075 agências que o banco já tem no país. A princípio, o Itaú afirmou que irá incorporar os 1.200 funcionários da Credicard. Mas analisando os gastos de 145 milhões de reais que a Citicard teve com pessoal no ano passado, é possível que o banco reavalie essa posição.

Benefícios fiscais também deverão ser incorporados. Nas contas do banco de investimento Espírito Santo, os ganhos extraordinários podem chegar a 114 milhões de reais por ano, considerando 6 anos de amortização e uma taxa de imposto de renda de 40%.

Marcelo Henriques e Eduardo Rosman, do BTG Pactual, admitiram que a investida faz sentido para o Itaú consolidar sua liderança no mercado de cartões de crédito. Estima-se que a fatia do banco pule para 40% do mercado, contra 20% do Bradesco.

Mas os analistas ressalvaram, em relatório, que o tamanho da Credicard no Brasil já era pequeno comparado à posição dominante do Itaú, com 58 milhões de plásticos emitidos e 35% de market share. Por isso, a transação não deveria ser vista como uma "virada de jogo ou qualquer coisa transformacional."

Concorrência

Para além do lado prático, a aquisição lança luz sobre a estratégia adotada pelo Itaú para fortalecer seu negócio. É, afinal, a quinta negociação de peso que o banco ganha do arquirrival Bradesco nos últimos anos. Desde a fusão com o Unibanco em 2008, o Itaú detém o posto de maior banco privado do Brasil - uma colocação que era orgulhosamente celebrada pelo Bradesco antes da megaoperação.


O próprio Bradesco já havia chegado perto de levar o Unibanco no fim dos anos 90: conta-se que um comitê com profissionais das duas instituições chegou a ser colocado de pé para organizar a integração. A negociação acabou indo para o vinagre com a exigência da família Moreira Salles, dona do Unibanco, de manter ingerência sobre o negócio.

A intransigência nesse ponto acabou sedimentando as conversas com o Itaú anos mais tarde. Ainda que o banco dos Setúbal fosse quase duas vezes maior que o Unibanco, o comando da holding controladora foi dividido ao meio. Com o sucesso da empreitada, o Itaú manteve a estratégia de ceder em pontos estratégicos nos negócios fechados dali em diante. Em todos, o Bradesco também mostrou interesse - e acabou perdendo.

Parceiro ao invés de dono

Foi assim em 2009, na associação com a Porto Seguro. Houve unificação de seguros residenciais e de automóveis, mas foi a Porto que ficou com a maioria do capital social da nova empresa. O Bradesco, que começara a negociar antes, acabou perdendo o páreo ao exigir o controle da empresa.

Em 2010, o Itaú ultrapassou novamente o Bradesco e se uniu ao BMG, desembolsando 1 bilhão de reais em um acordo relâmpago. Nesse caso, os antigos donos também toparam a criação de uma joint venture, ficando com 30% da companhia voltada para concessão de empréstimos consignados.

"Quem estava realmente para trás nessa modalidade de crédito era o Itaú, então ele foi muito inteligente em fazer essa estrutura com o BMG", opina Eduardo Nishio, da Brasil Plural. Na visão do analista, o Bradesco perdeu uma boa oportunidade com a Porto Seguro, mas fechou, em contrapartida, um acordo com a Odontoprev naquele mesmo ano (as duas partes integraram as atividades em planos odontológicos).

Em 2011, o Itaú novamente surpreendeu o mercado ao comprar 49% do banco Carrefour, com o Bradesco sendo apontado como franco favorito ao negócio.

Gestões diferentes

Desta vez, além de enxergar a aquisição da Credicard como um passo mais natural para o Itaú , que conhecia a operação melhor por já ter sido controlador, Nishio pontua que o Bradesco historicamente vem se posicionando para aumentar de tamanho organicamente.

"Houve um avanço de agências substancial em 2011, com crescimento de 27% em apenas seis meses. Nesse caso, você tem um curto prazo mais afetado por custos, mais devagar. Mas é mais consistente ao longo do tempo", disse o analista, que acredita que o banco tenha passado melhor pelo ciclo de crédito que o concorrente.

Digerindo as operações fechadas nos últimos cinco anos, inclusive, o Itaú viu a distância entre seus ativos totais diminuir em relação ao Bradesco. Se no fim de 2008 eles eram 40% superiores, no primeiro trimestre deste ano a diferença caiu para 13,6%, com o Itaú somando 896,8 bilhões de reais e o Bradesco outros 789,5 bilhões de reais.

Procurado por EXAME.com, o Bradesco afirmou que "concentra sua política de atuação no crescimento orgânico e analisa as possibilidades que o mercado oferece.” O Itaú não se manifestou.

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