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O peso da ViaVarejo para o Pão de Açúcar, Abilio Diniz, e os Klein

Empresa que reúne as lojas das Casas Bahia, Ponto Frio e Novapontocom pode se tornar alvo de disputa de sócios depois da saída de Abilio do comando do GPA

Com Casas Bahia e Ponto Frio, a ViaVarejo pode passar às mãos de Abilio Diniz depois que o Casino assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2012 às 07h36.

São Paulo - Depois de comprar o Ponto Frio e da fusão com a Casas Bahia em 2009, o Grupo Pão de Açúcar galgou degraus no ranking do varejo brasileiro, ocupando com folga o posto de líder de vendas no país. Às vésperas de perder o controle da holding criada a partir da rede fundada por seu pai, Abilio Diniz poderá protagonizar a dissolução desta aliança: uma das propostas que está sendo avaliada na passagem de bastão para o Casino prevê que o executivo venda sua participação no Grupo Pão de Açúcar em troca da ViaVarejo. A empresa reúne as lojas das Casas Bahia, Ponto Frio e Novapontocom, dona dos negócios online do grupo.

Estudada pelas partes, a alternativa daria ao Casino a chance de resolver o impasse sem necessariamente colocar a mão no bolso. No dia 22, Abilio deverá entregar o controle do Grupo Pão de Açúcar à varejista francesa. O executivo é dono de 21% do Grupo Pão de Açúcar. Se optasse por comprar essas ações, o Casino gastaria em torno de 2,2 bilhões de reais – aporte vultoso para um momento em que as operações da empresa na Europa desaceleram a olhos vistos.

Por ora, a separação segue como uma hipótese. Se oficializada, representará a divisão de uma empresa que faturou 13,6 bilhões de reais nos primeiros três meses do ano. Ainda que a ViaVarejo tenha respondido por 43% da bolada, sua participação no lucro líquido do Grupo Pão de Açúcar é de apenas 3,5% sobre os 167 milhões embolsados no mesmo período.

Na visão de Cauê Pinheiro, analista de varejo da corretora SLW, a abissal diferença não deixa de ter explicação. "A ViaVarejo está ajustando o sortimento dos produtos nas lojas, reposicionando as marcas e adequando o desconto de crédito a receber", afirma. As sinergias pós-fusão também não teriam sido inteiramente capturadas: passados 30 meses da operação, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ainda não emitiu seu parecer final sobre o negócio.

Caso se separe da ViaVarejo, portanto, o Grupo Pão de Açúcar perderá um negócio com o qual mal começou a ganhar. As margens de lucro na venda de eletrodomésticos chegam a 30% - três vezes superiores às obtidas com alimentos. E o interesse dos brasileiros em comprar a casa própria, assentado sobre o déficit habitacional e incentivado pela recente diminuição dos juros, acabaria puxando o boom em outros segmentos, como linha branca, móveis e eletrônicos.

Na visão de especialistas, contudo, a análise tampouco indica que Abilio sairia ganhando. Primeiro porque o setor de eletroeletrônicos é dependente de financiamento. Em tempos de vacas magras, a compra de alimentos permanece uma prioridade para os consumidores. A de geladeiras e fogões, não.

A concessão de crédito também vem se tornando cada vez mais competitiva: com mais opções na praça, menos gente pega empréstimos com o braço financeiro das varejistas, diminuindo essa fonte de receita para empresas como a ViaVarejo. Hoje, o crediário representa apenas 6,6% do total vendido nas Casas Bahia e Ponto Frio. A fatia do cartão de crédito supera os 60%.


"É um desafio administrar um negócio de alto valor agregado e demanda de crédito", reconhece Roberto de Oliveira, professor do núcleo de estudos do varejo da ESPM. Para ele, a vantagem de Abilio em tocar um novo negócio seria a chance de colocar em prática sua grande experiência no varejo. Não por menos, essa também seria uma das maiores perdas para a ViaVarejo ao dispensar o executivo.

Ainda assim, Oliveira acredita que Pão de Açúcar Alimentos e ViaVarejo poderiam facilmente encarar voos solos. Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar, não parece compartilhar a mesma opinião. Em evento da Reuters no fim de maio, ele pontuou que a ViaVarejo teria sido uma decisão estratégica do GPA, com razão de existir casada com o grupo. "É difícil dizer se esse negócio fica de pé sozinho ou não", disse.

Donos de 47% da ViaVarejo, os Klein ficaram em polvorosa. Em nota, a companhia reiterou sua "saúde financeira", ao passo que a família Klein classificou as declarações de Bethlem como “levianas e inverídicas". Para desfazer o mal estar, o Grupo Pão de Açúcar divulgou um comunicado ao mercado reforçando que a ViaVarejo seria uma empresa "independente, com administração própria, estrutura de capital sólida e no caminho de seu crescimento".

Turbulências pelo retrovisor

O posicionamento dos Klein levanta a bola de outro aspecto da especulada separação entre Pão de Açúcar e ViaVarejo: o interesse da família que fundou a Casas Bahia em retomar o negócio de eletro. Na época da fusão, o Pão de Açúcar chegou a enaltecer o conhecimento da classe C que a cúpula da Casas Bahia possuía. A empresa, por sua vez, disse que a gestão do GPA era mais profissionalizada. Não demorou para a troca de elogios dar lugar a uma relação conturbada.

Os Klein propuseram uma renegociação do contrato menos de cinco meses depois de apertarem as mãos de Abilio - consideravam que a Casas Bahia tinha sido subavaliada na transação. O Pão de Açúcar aceitou rever alguns termos, injetando mais de 600 milhões na sociedade e dando direito de veto aos Klein. Mas os ânimos não esfriaram: enquanto o Grupo Pão de Açúcar vê gordura para queimar nas operações da Casas Bahia, os fundadores da empresa parecem enxergar o negócio com outras lentes, sinalizando cada vez mais insatisfação com a divisão de poder.

No começo de maio, o colunista da revista Veja Lauro Jardim afirmou que Michael Klein, presidente do conselho da empresa, teria comunicado a Abilio e ao Casino o interesse de comprar os 53% de participação do GPA na ViaVarejo, em uma transação avaliada em cerca de 7 bilhões de reais. Mais tarde, a Bloomberg reiterou o interesse do empresário na aquisição. As duas partes negaram a movimentação.

Enquanto o destino de Abilio permanece incerto, outra interrogação paira sobre o futuro da ViaVarejo: para os advogados de Abilio, os Klein naturalmente iriam para o Pão de Açúcar Eletro se a companhia deixasse de fazer parte do GPA, já que não haveria impedimento jurídico previsto no contrato de acionistas da ViaVarejo. Os assessores da família Klein estudam o documento para sustentar o contrário. Como se vê, a troca de controle no Grupo Pão de Açúcar está para chegar – mas as discordâncias entre os sócios da maior varejista do Brasil ainda estão longe de um fim.

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São Paulo - Depois de comprar o Ponto Frio e da fusão com a Casas Bahia em 2009, o Grupo Pão de Açúcar galgou degraus no ranking do varejo brasileiro, ocupando com folga o posto de líder de vendas no país. Às vésperas de perder o controle da holding criada a partir da rede fundada por seu pai, Abilio Diniz poderá protagonizar a dissolução desta aliança: uma das propostas que está sendo avaliada na passagem de bastão para o Casino prevê que o executivo venda sua participação no Grupo Pão de Açúcar em troca da ViaVarejo. A empresa reúne as lojas das Casas Bahia, Ponto Frio e Novapontocom, dona dos negócios online do grupo.

Estudada pelas partes, a alternativa daria ao Casino a chance de resolver o impasse sem necessariamente colocar a mão no bolso. No dia 22, Abilio deverá entregar o controle do Grupo Pão de Açúcar à varejista francesa. O executivo é dono de 21% do Grupo Pão de Açúcar. Se optasse por comprar essas ações, o Casino gastaria em torno de 2,2 bilhões de reais – aporte vultoso para um momento em que as operações da empresa na Europa desaceleram a olhos vistos.

Por ora, a separação segue como uma hipótese. Se oficializada, representará a divisão de uma empresa que faturou 13,6 bilhões de reais nos primeiros três meses do ano. Ainda que a ViaVarejo tenha respondido por 43% da bolada, sua participação no lucro líquido do Grupo Pão de Açúcar é de apenas 3,5% sobre os 167 milhões embolsados no mesmo período.

Na visão de Cauê Pinheiro, analista de varejo da corretora SLW, a abissal diferença não deixa de ter explicação. "A ViaVarejo está ajustando o sortimento dos produtos nas lojas, reposicionando as marcas e adequando o desconto de crédito a receber", afirma. As sinergias pós-fusão também não teriam sido inteiramente capturadas: passados 30 meses da operação, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ainda não emitiu seu parecer final sobre o negócio.

Caso se separe da ViaVarejo, portanto, o Grupo Pão de Açúcar perderá um negócio com o qual mal começou a ganhar. As margens de lucro na venda de eletrodomésticos chegam a 30% - três vezes superiores às obtidas com alimentos. E o interesse dos brasileiros em comprar a casa própria, assentado sobre o déficit habitacional e incentivado pela recente diminuição dos juros, acabaria puxando o boom em outros segmentos, como linha branca, móveis e eletrônicos.

Na visão de especialistas, contudo, a análise tampouco indica que Abilio sairia ganhando. Primeiro porque o setor de eletroeletrônicos é dependente de financiamento. Em tempos de vacas magras, a compra de alimentos permanece uma prioridade para os consumidores. A de geladeiras e fogões, não.

A concessão de crédito também vem se tornando cada vez mais competitiva: com mais opções na praça, menos gente pega empréstimos com o braço financeiro das varejistas, diminuindo essa fonte de receita para empresas como a ViaVarejo. Hoje, o crediário representa apenas 6,6% do total vendido nas Casas Bahia e Ponto Frio. A fatia do cartão de crédito supera os 60%.


"É um desafio administrar um negócio de alto valor agregado e demanda de crédito", reconhece Roberto de Oliveira, professor do núcleo de estudos do varejo da ESPM. Para ele, a vantagem de Abilio em tocar um novo negócio seria a chance de colocar em prática sua grande experiência no varejo. Não por menos, essa também seria uma das maiores perdas para a ViaVarejo ao dispensar o executivo.

Ainda assim, Oliveira acredita que Pão de Açúcar Alimentos e ViaVarejo poderiam facilmente encarar voos solos. Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar, não parece compartilhar a mesma opinião. Em evento da Reuters no fim de maio, ele pontuou que a ViaVarejo teria sido uma decisão estratégica do GPA, com razão de existir casada com o grupo. "É difícil dizer se esse negócio fica de pé sozinho ou não", disse.

Donos de 47% da ViaVarejo, os Klein ficaram em polvorosa. Em nota, a companhia reiterou sua "saúde financeira", ao passo que a família Klein classificou as declarações de Bethlem como “levianas e inverídicas". Para desfazer o mal estar, o Grupo Pão de Açúcar divulgou um comunicado ao mercado reforçando que a ViaVarejo seria uma empresa "independente, com administração própria, estrutura de capital sólida e no caminho de seu crescimento".

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O posicionamento dos Klein levanta a bola de outro aspecto da especulada separação entre Pão de Açúcar e ViaVarejo: o interesse da família que fundou a Casas Bahia em retomar o negócio de eletro. Na época da fusão, o Pão de Açúcar chegou a enaltecer o conhecimento da classe C que a cúpula da Casas Bahia possuía. A empresa, por sua vez, disse que a gestão do GPA era mais profissionalizada. Não demorou para a troca de elogios dar lugar a uma relação conturbada.

Os Klein propuseram uma renegociação do contrato menos de cinco meses depois de apertarem as mãos de Abilio - consideravam que a Casas Bahia tinha sido subavaliada na transação. O Pão de Açúcar aceitou rever alguns termos, injetando mais de 600 milhões na sociedade e dando direito de veto aos Klein. Mas os ânimos não esfriaram: enquanto o Grupo Pão de Açúcar vê gordura para queimar nas operações da Casas Bahia, os fundadores da empresa parecem enxergar o negócio com outras lentes, sinalizando cada vez mais insatisfação com a divisão de poder.

No começo de maio, o colunista da revista Veja Lauro Jardim afirmou que Michael Klein, presidente do conselho da empresa, teria comunicado a Abilio e ao Casino o interesse de comprar os 53% de participação do GPA na ViaVarejo, em uma transação avaliada em cerca de 7 bilhões de reais. Mais tarde, a Bloomberg reiterou o interesse do empresário na aquisição. As duas partes negaram a movimentação.

Enquanto o destino de Abilio permanece incerto, outra interrogação paira sobre o futuro da ViaVarejo: para os advogados de Abilio, os Klein naturalmente iriam para o Pão de Açúcar Eletro se a companhia deixasse de fazer parte do GPA, já que não haveria impedimento jurídico previsto no contrato de acionistas da ViaVarejo. Os assessores da família Klein estudam o documento para sustentar o contrário. Como se vê, a troca de controle no Grupo Pão de Açúcar está para chegar – mas as discordâncias entre os sócios da maior varejista do Brasil ainda estão longe de um fim.

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