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O outro grande problema de Elon Musk — e que não está no Twitter

Por anos a montadora Tesla tinha praticamente o monopólio na compra de minerais úteis na produção de veículos elétricos. As concorrentes dela entenderam o recado

Mina de lítio no Chile: Espera-se que a demanda de lítio aumente mais de cinco vezes até o final da década por causa do investimento em veículos elétricos (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

Mina de lítio no Chile: Espera-se que a demanda de lítio aumente mais de cinco vezes até o final da década por causa do investimento em veículos elétricos (Bloomberg Businessweek/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)

LB

Leo Branco

Publicado em 30 de novembro de 2022 às 19h25.

Durante anos, apenas um cliente importava no mercado de lítio e outros metais usados em baterias de veículos elétricos: a Tesla.

A perspectiva de que uma nova mina pudesse acabar alimentando a montadora de Elon Musk foi suficiente para convencer cautelosos credores a financiar algum projeto ou persuadir investidores de que operações não testadas tinham chance de atender às agressivas projeções de vendas.

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Por que as condições da Tesla estão em perigo

E como o maior comprador em um setor repleto de mineradoras iniciantes, a Tesla exercia um raro poder para ditar os termos, normalmente fechando acordos de fornecimento de longo prazo a preços fixos.

Um agressivo impulso em veículos elétricos por tradicionais fabricantes de carros e preocupações com mercados apertados de lítio e outros materiais importantes, como níquel e grafite, estão alterando essa dinâmica.

A Ford e a General Motors agitaram o setor ao fechar generosos acordos com fornecedores em potencial que incluem comprometimento de pagamento adiantado por entregas futuras ou oferecem empréstimos baratos para instalar novas minas.

A Tesla, por outro lado, resistiu à parceria com fornecedores no desenvolvimento de novas operações, e Musk repetidamente rejeitou propostas de aquisição de empresas ou minas de lítio para garantir estoques, segundo pessoas familiarizadas com seu pensamento.

O aumento da concorrência encorajou mineradoras e refinarias e expôs a relutância de Musk em adaptar sua estratégia, representando uma nova ameaça aos planos da Tesla de aumentar a produção, reduzir custos e estabelecer sua própria refinaria de lítio no Texas, segundo as pessoas, que pediram anonimato para discutir esses assuntos privados.

A liderança de Musk em lítio está se evaporando, à medida que os rivais “enfiam dinheiro em uma bazuca e simplesmente disparam-na em direção à cadeia de suprimentos”, diz Chris Berry, presidente da House Mountain Partners, consultora de metais para baterias. “A Tesla não pode jogar seu peso em termos de negociações.”

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A empresa de Musk não respondeu aos pedidos de comentários.

Quanto custará montar novas minas de lítio

Em junho, a Ford selou um acordo com a Liontown Resources, que pretende instalar uma mina na Austrália, que incluiu um empréstimo de A$ 300 milhões (US$ 199 milhões) da montadora em termos favoráveis. A Livent Corp, terceira maior produtora de lítio, disse em agosto que a GM pagará US$ 198 milhões adiantados em um contrato de seis anos que começa em 2025.

Em outubro, a Tesla encerrou meses de negociações com a empresa incorporadora de minas, Core Lithium, sem nenhum contrato de fornecimento de lítio. Musk rejeitou propostas para a Tesla adquirir operações de lítio em alguns países:

  • Austrália
  • Canadá
  • Estados Unidos

A montadora manteve negociações em 2020 para adquirir a Cypress Development, desenvolvedora de projetos dos EUA, mas não chegou a um acordo. E em toda o setor, aumentam as dúvidas sobre um acordo que a Tesla fechou há dois anos para começar a obter matérias-primas da Piedmont Lithium no próximo verão, enquanto a mineradora busca aprovações para um projeto na Carolina do Norte.

Espera-se que a demanda de lítio aumente mais de cinco vezes até o final da década. As metas de vendas de VEs para 2030 são provavelmente inatingíveis devido a restrições de várias matérias-primas, de acordo com a Piper Sandler & Co.

Novas minas de lítio podem custar até US$ 1 bilhão e levar mais de seis anos para serem estabelecidas, muito lentas para as necessidades do setor. Analistas da Piper publicaram essa nota de novembro.

E a BloombergNEF prevê que a escassez de lítio será um problema até 2026 para empresas que aperfeiçoam seus produtos em produtos químicos usados em baterias de veículos elétricos.

Isso está empurrando os preços do lítio para novos recordes. “É muito importante para nós jogarmos o jogo certo”, diz Gareth Manderson, diretor executivo da Core Lithium. “Não estaríamos fazendo a coisa certa para nossos acionistas se não garantíssemos que estávamos obtendo o melhor preço.”

O que pensam os investidores

Os investidores estão cada vez mais focados em detalhes de preços em acordos de fornecimento e veem tanto valor em acordos com a Ford, GM, Mercedes-Benz ou Toyota, quanto com a Tesla, diz ele.

A GM, que vendeu mais de 6 milhões de veículos em todo o mundo no ano passado, disse que será capaz de produzir 2 milhões de carros elétricos anualmente até 2025. A Ford pretende fazer o mesmo até o final de 2026, e a Volkswagen destinou € 52 bilhões para projetos relacionados a EV em 2026.

No entanto, a Tesla ainda domina, entregando quase 1 milhão de carros no ano passado e prevendo uma capacidade anual próxima a 5 milhões até 2025. A empresa usou no ano passado cerca de 42.000 toneladas de equivalente de carbonato de lítio – ou mais de cinco vezes o consumo conjunto entre Ford e GM, de acordo com cálculos baseados em dados da BloombergNEF.

O futuro imediato da Tesla parece seguro. Em um documento de maio, a empresa divulgou que tem acordos de fornecimento com quatro grandes players: Albemarle e Livent, listadas nos EUA, e Ganfeng Lithium e Sichuan Yahua Industrial Group, da China.

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E há alguns sinais de que a Tesla pode estar disposta a ajustar sua postura sobre parcerias; um pacto com o produtor de níquel Prony Resources incluiu uma promessa de suporte técnico para uma mina na Nova Caledônia.

Musk sempre procurou minimizar as preocupações com o suprimento de lítio usado em todos os tipos de bateria de carros elétricos, chegando a descartá-lo como "apenas o sal na salada". Dois anos atrás, ele prometeu aos acionistas que usaria os direitos de mineração adquiridos em Nevada para começar a produzir lítio com novos e mais sustentáveis métodos.

Mas pouco progresso foi feito, e o CEO continua a ter dúvidas sobre entrar diretamente em um setor de mineração que luta com complexos desafios ambientais e rotineiramente batalha com excesso de custos, de acordo com uma das pessoas familiarizadas com seu pensamento.

Some-se a tudo isso, diz Joe Lowry, fundador da consultora Global Lithium e ex executivo da indústria do lítio, e a Tesla corre o risco de enfrentar restrições de oferta à medida que a concorrência esquenta. “O poder estelar de Elon atingiu seu limite”, diz Lowry. “Eles vão ser breves como os de todo mundo.”

— Com a assistência de Chunying Zhang

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

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