A aparência física das chamadas Garotas Hooters é um dos aspectos mais controlados pela companhia (Divulgação/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 6 de setembro de 2015 às 09h00.
São Paulo – O foco na aparência física das garçonetes de restaurantes como o Hooters tem consequências negativas para a saúde mental das funcionárias, gerando sentimentos como ansiedade e até depressão.
É o que diz um estudo da universidade do Tenessee, dos Estados Unidos, em que mais de 250 funcionárias falaram sobre suas experiências no trabalho.
O estudo das pesquisadoras Dawn M. Szymanski e Chandra E. Feltman analisou o Hooters, restaurante conhecido por decorações esportivas e garçonetes usando shorts curtos e blusas decotadas.
De acordo com o estudo, muitas escolheram trabalhar nesse tipo de restaurante por uma questão financeira, já que o salário, assim como as gorjetas, são maiores que em outras redes. Outro motivo foi a flexibilidade de horários.
A pesquisa afirma que a maioria dos clientes de restaurantes do gênero são homens (75%), enquanto mulheres compõe 72% do total de funcionários. As entrevistadas contam que há uma obrigação de criar a imagem de uma “garota dos sonhos”, ajustando sua aparência e comportamento.
A aparência física das chamadas Garotas Hooters é o aspecto mais controlado pela companhia. Segundo relatos, elas precisam estar sempre maquiadas, usar o cabelo solto, com acessórios pequenos e não muito chamativos e cobrir suas tatuagens.
A uma das mulheres, a gerência afirmou que ela não poderia engordar ou mudar muito o peso com o qual tinha sido contratada. Outra participante da pesquisa disse que “nós somos inspecionadas pelos gerentes antes de dar início ao trabalho. Eles te mandam para casa trocar, se você não está bem”.
A empresa afirmou à EXAME.com que “apresentamos o conceito da marca, a história e como elas terão que se vestir, se portar e sobre o treinamento, que não é nada fácil. Antes da candidata se tornar uma Garota Hooters, ela fica três meses em treinamento”
A empresa entrega a todas as candidatas uma cartilha de procedimentos. “Mas muitas das orientações são criadas com base em órgãos públicos, como Vigilância Sanitária, por exemplo, que proíbe o uso de esmaltes escuros por profissionais que trabalha na área de alimentação”, disse a empresa.
Além disso, pesquisa afirma que elas são encorajadas pela companhia a conversar com os clientes. Frequentemente, elas devem perguntar sobre suas vidas pessoais, lembrar seus nomes e até passar um tempo na mesa deles, conversando.
Seu humor também é controlado: elas não podem reclamar ou aparecer emburradas ou chateadas durante o trabalho. Ao contrário, devem estar sempre sorridentes e entusiasmadas, diz o estudo.
“Faz parte do treinamento das Garotas Hooters fazer com que os clientes se sintam em casa”, afirmou a empresa em nota.
Assédios ou reações inapropriadas dos clientes não são incomuns, avaliou a pesquisa. As funcionárias afirmaram que clientes estão constantemente encarando-as.
Elas também relataram ter sido agarradas, terem fotos tiradas sem consentimento e pedidos inapropriados. Em um dos relatos, uma garçonete relatou ter sido perseguida por um cliente quando estava indo para casa.
As garotas são ensinadas a se livrar desses clientes, diz a empresa. “Para combater o assédio, que é complicado impedir que aconteça, há também uma parte no treinamento dedicada a isso, onde as Garotas Hooters aprendem a se desvencilhar de cantadas e gracinhas sem perder a clientela.”
Como consequência, muitas mencionaram sentimentos e reações negativas em relação aos próprios corpos, inclusive depressão.
Segundo a pesquisa, “muitas mencionaram o estresse combinado da objetificação sexual e da expectativa pela performance no trabalho são fontes de ansiedade”.
Em uma segunda pesquisa mais aprofundada, 253 participantes foram interrogadas sobre as consequências emocionais de seu trabalho.
Quanto maior a objetificação sexual das garçonetes, maior a sua insatisfação com o trabalho, concluiu o estudo. Outras consequências são sentimentos extremamente negativos, como tristeza e até depressão.