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Qual será o destino da Estácio?

A tão sonhada fusão entre Kroton e Estácio parecia um casamento perfeito até o Cade rejeitar a união. E agora?

ESTÁCIO: após fusão fracassada com a Kroton, empresa pretender realizar aquisições / Divulgação

ESTÁCIO: após fusão fracassada com a Kroton, empresa pretender realizar aquisições / Divulgação

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2017 às 14h14.

Última atualização em 1 de julho de 2017 às 14h14.

Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google PlayPara ler reportagens antecipadamente, assine EXAME Hoje.

A tão sonhada fusão entre Kroton e Estácio parecia um casamento perfeito até  o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) rejeitar a união entendendo que Kroton e Estácio juntas concentrariam uma fatia de mercado muito elevada para o setor de ensino superior. Passada a tensão da decisão, está claro que para a Kroton a fila anda — ela segue como a maior empresa do setor, e vai continuar com o plano de aquisições, agora de pequenas empresas, mais fáceis de concretizar. Mas a Estácio tinha feito quase um pacto de fidelidade. A pergunta no mercado agora é sobre qual futuro a Estácio tomará: andar com as próprias pernas ou ser vendida.

O atual presidente do conselho da empresa, João Cox, afirma que o plano agora é erguer a cabeça e voltar ao objetivo original de comprar outras empresas. “A Estácio tem um histórico de aquisições, mas eram coisas pequenas. Agora podemos focar em ativos grandes”, afirma. “O quanto antes começarmos as aquisições, melhor”, completa.

Mas Cox confessa que não sabe nem por onde começar, e que ainda não sabe listar quais ativos seriam interessantes por estar focada na fusão. “Estamos buscando uma assessoria, para conseguir mapear tudo isso”, diz. Segundo ele, o conselho aprovou a contratação de assessores financeiros para mapear o mercado e identificar oportunidades de aquisição tanto em ensino presencial quanto à distância (EaD). O objetivo é crescer, por meio de aquisições em regiões onde a companhia ainda não atua de forma consistente, como em estados do Centro-Oeste, por exemplo. Como parte dessa estratégia e para evitar uma queda brusca nas ações, na noite de quinta-feira a companhia anunciou uma recompra de papéis de até 5%.

A Estácio tinha, em março deste ano, 460 milhões de reais em caixa. Além disso Cox afirma que a empresa pode recorrer a venda dos 3% de seu capital que tem hoje na tesouraria, fazer uma nova oferta de ações ou emitir dívida para comprar novos ativos. “Vamos identificar primeiramente os ativos e depois avaliar qual é a melhor forma de se fazer a aquisição”, diz.

Comprar não vai ser fácil. Com a nova portaria de educação à distância aprovada pelo MEC, novos players devem entrar forte na concorrência, e o mercado vai ficar mais disputado. Empresas de médio porte que estavam na fila para conseguir lançar seus cursos à distância foram beneficiadas e vão conseguir, de forma relativamente rápida, se estabelecer nesse mercado ainda pouco explorado.

Além disso, analistas e investidores permanecem com dúvidas sobre se a empresa estaria pronta e estruturada o suficiente para conseguir dar conta de um plano de aquisições. “Enquanto nós reconhecemos melhorias no desempenho durante os últimos trimestres, há uma visibilidade muito limitada sobre as perspectivas de lucro da empresa e estratégia, já que o foco estava na fusão com a Kroton”, afirmam os analistas Marcelo Santos e Andre Baggio em relatório do banco JP Morgan. Já o banco Brasil Plural foi mais categórico ao afirmar que a empresa volta a ser disputada no mercado de aquisições. “Nós acreditamos que a Estácio deve receber uma nova proposta, e mesmo que a Ser Educacional possa ser uma candidata, ela pode não ser a única a brigar pela empresa”, afirmou o analista Vinicius Ribeiro, no relatório “Nem sempre se consegue o que se quer”, divulgado na quarta-feira, após a decisão do Cade.

Uma possível venda?

Neste momento pós-rejeição da fusão pelo Cade, a Estácio voltou a ser olhada por investidores e empresários do setor. Mas nenhuma proposta de aquisição deverá chegar tão logo. O mercado como um todo espere a poeira baixar para ver o que a própria Estácio vai definir para os seus 17.000 funcionários e 503.000 alunos.

A Estácio não é uma empresa novata no setor de educação. Nasceu como faculdade de direito em 1970, em uma pequena casa na zona norte do Rio de Janeiro, com um projeto pedagógico diferente, idealizado pelo magistrado e fundador João Uchôa Cavalcanti Netto. Em 1996, a instituição começou a se expandir para outros municípios do estado e, dois anos depois, começou sua expansão nacional. A empresa já está listada na bolsa há dez anos, e já tem presença em todo o território nacional.

Em entrevista a EXAME Hoje na quarta-feira, logo após a decisão do Cade, o empresário Janyo Diniz, presidente da Ser Educacional, afirmou que “vai reavaliar e ver se a [a empresa] ainda interessa”.  A Ser havia feito uma proposta pela Estácio em 2016. O empresário Chaim Zaher, maior acionista individual da Estácio, também não decidiu ainda se fará uma nova proposta para assumir o controle da empresa, como havia feito no ano passado. Segundo EXAME Hoje apurou. Como Zaher vinha focando no ensino básico, com sua escola de elite Concept, a visão de pessoas próximas a ele é que se voltar para o ensino superior seria uma virada e tanto.

A sua venda ou as aquisições que pretende não irão acontecer antes da empresa resolver problemas internos. Durante o conturbado processo de fusão, foram quatro presidentes diferentes. O atual, Pedro Thompson, era visto como um presidente-tampão enquanto a fusão não acontecia. Em março, a revista EXAME noticiou que ele, aos 34 anos, virou alvo de ataques de profissionais insatisfeitos com sua gestão. Para Thompson, o corte de custos era prioridade, o que assustou os funcionários. Assim que assumiu, o executivo demitiu 125 nomes que faziam parte da diretoria e do segundo escalão da Estácio. Também encerrou o departamento de inovação, que incentivava o empreendedorismo dos alunos, mas não gerava lucro, e fechou três campi, que atendiam cerca de 10.000 alunos.

Cox afirma que Thompson tem conseguido melhorar os resultados da empresa. Mas no primeiro trimestre do ano, a base de alunos teve queda de 5,3%, causada principalmente pelas restrições do programa de financiamento do governo federal, Fies. O lucro caiu 5,2% no primeiro trimestre. Em 2016, o lucro da companhia caiu 16,4% e fechou em 368 milhões de reais.

Mesmo com a queda de resultados, executivos de empresas concorrentes acreditam que a Estácio pode se dar bem se continuar sozinha. “É um nome forte, uma marca forte. A companhia pode crescer tanto de forma orgânica quanto com a aquisição de novos ativos”, diz um executivo. Se der certo, será a volta por cima após um casamento fracassado.

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