Depois de sugerir executivos e um novo presidente para o Yahoo!, Dan Loeb descobriu a "floreada" no currículo do presidente da empresa, Scott Thompson (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 10h59.
São Paulo - Em Wall Street, a voz de Dan Loeb costuma ecoar. Em cartas ruidosas, o fundador do fundo de hedge Third Point já propôs mudança em quadros de funcionários e apontou hábitos duvidosos de executivos, como jogar golf em horário de expediente. Ao histórico ativista, ele somou outra proeza das grandes: a descoberta da falsa graduação em ciência da computação no currículo do presidente do Yahoo!, Scott Thompson.
A justificativa para a vigilância de Loeb é uma só: o dinheiro investido pelo seu fundo nas companhias em questão. Com uma fatia de 5,8% no Yahoo!, o executivo já orquestrou outras reivindicações no passado, mudanças que seriam, na sua opinião, revertidas em ganhos para os acionistas.
Em fevereiro, ele chegou a sugerir três nomes para o conselho de administração da empresa, incluindo o seu próprio. Depois de não ter as indicações acatadas, Loeb pediu ao Yahoo que considerasse a nomeação de outro executivo como presidente do grupo por um ano.
O tom usado na solicitação denuncia a acidez que lhe deu fama: "Scott, ainda não é tarde para você tomar uma atitude decisiva ", afirmou em um trecho da carta. "Você evitaria uma batalha desnecessária com seu maior acionista independente (o fundo Third Point). E você já parece ter batalhas suficientes para lutar."
Enquanto o Yahoo se esforça para aumentar a venda de espaços publicitários no seu site de buscas e notícias - Thompson assumiu o cargo com esse intento -, Loeb, o ruidoso investidor, segue disparando sua metralhadora giratória: “Se o Sr. Thompson embelezou suas credenciais acadêmicas, pensamos que 1) isso mina sua credibilidade como especialista em tecnologia e 2) reflete o caráter do CEO, que foi encarregado de comandar o Yahoo! neste momento crítico. Agora mais do que nunca, os investidores precisam de um presidente de confiança.”
Antes mesmo de o episódio vir à tona, Loeb criara um blog e uma página no Facebook para os acionistas que apoiavam "a mudança e um futuro melhor para Yahoo!."
Modelo barulhento
A insatisfação dos minoritários tende a ganhar corpo nas empresas que não contam com controlador. Nos Estados Unidos, elas são muitas. O próprio Yahoo! já fora colocado na parede pelo investidor Carl Icahn, em 2008. Na ocasião, ele pediu a cabeça do fundador e então CEO da companhia, Jerry Young, depois da empresa recusar a proposta de venda pela Microsoft - que ele considerava mais que satisfatória.
No Brasil, por outro lado, apenas sete das 467 empresas listadas na bolsa têm controle pulverizado, concentrando o poder de decisão na mão de poucos e achatando a influência dos minoritários.
Do lado de lá do hemisfério, Dan Loeb marcou seus pontos à frente da cruzada contra a atual gestão do Yahoo!. Patti Hart, diretora que chefiou o comitê que elegeu Scott Thompson para o cargo de CEO, vai deixar o cargo este ano. Thompson, por sua vez, já pediu desculpas aos funcionários. E a companhia se comprometeu a divulgar "informações apropriadas" sobre o caso depois de concluída uma investigação interna.
Confira, abaixo, o ferino estilo do investidor em cartas endereçadas a presidentes de empresas nas quais o fundo Third Point manteve participação:
Destinatário: Leonhard Dreimann, CEO da Salton (2005)
"Minha perplexidade rapidamente se transformou em raiva quando vi a multidão em busca de autógrafos das gêmeas Olsen (na final do torneio de tênis US Open), logo abaixo do camarote privado que parecia ser ocupado pelo Mr. Dreimann e amigos, que estavam desfrutando a partida e tomando um sol de verão, enquanto bebericavam e degustavam canapés de camarão."
Destinatário: Irik Sevin, CEO da Star Gas Partners (2005)
"Como é possível que você tenha selecionado sua mãe de 78 anos de idade para participar do conselho de administração da companhia como funcionária em tempo integral? Nós nos perguntamos sob qual teoria de governança corporativa a mãe de alguém ganha um assento."
"Infelizmente, a sua inépcia não se limita à sua incapacidade de se comunicar com os acionistas. Uma revisão do seu histórico recheado de erros estratégicos nos leva a considerá-lo um dos mais perigosos e incompetentes executivos dos Estados Unidos."
"É hora de você renunciar ao cargo de CEO e diretor da empresa, para que possa se dedicar ao que faz de melhor: viver na sua mansão à beira-mar nos Hamptons, onde você pode jogar tênis e confraternizar com os colegas da sociedade."
Destinatário: John Collins, CEO da Pogo Producing (2006)
"Liguei para o seu genro (empregado da empresa) e me identifiquei como um acionista interessado em saber mais sobre os principais produtos da companhia. Ele me disse que não poderia falar no momento pois estava no 'curso de golfe'. Não tenho certeza se é a relação que ele tem com o sogro ou o salário de 238.777 dólares que lhe permitem jogar no meio do expediente."
"Não confunda nossa participação de 22 milhões de dólares na empresa como um voto de confiança na administração da companhia. Pelo contrário, acreditamos que, sob sua gestão, as aquisições feitas e a governança corporativa estão entre as piores que já testemunhamos em nossa carreira de investimentos."