O choque de realidade da Gafisa
Pressionada pelos maus resultados da Tenda, a Gafisa promove uma “faxina” de quase R$ 900 milhões em seu balanço
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2012 às 18h36.
São Paulo – Depois de arrumar a casa em 2011, a Gafisa abriu a porta – ou uma fresta dela – para o mercado espiar o resultado. Em prévia do balanço anual divulgado ontem, ainda não submetido à auditoria, ficou claro que a faxina custou caro: o prejuízo no ano passado foi de 1,1 bilhão de reais, ante um lucro líquido de 416 milhões de reais em 2010.
Segundo a empresa, o resultado deve-se principalmente aos ajustes de 889,5 milhões de reais feitos depois de uma profunda revisão nas suas operações e estratégias. Quase 70% desse montante, ou 610,2 milhões de reais, foram usados para redirecionar os negócios da Tenda, incorporadora de baixa renda comprada em 2008.
Antes de ser levada pela Gafisa, os papéis da empresa desabaram 60% em poucas semanas. O mergulho conferiu à aquisição um ar de negócio da China. Mas se a ascensão da classe C parecia garantir o sucesso da empreitada, os anos seguintes terminaram por descascar esse verniz. Em 2011, a construção dos projetos da Tenda foi revisada para cima, representando um custo adicional de 227,2 milhões de reais. As multas por atraso nas obras chegaram a 38,5 milhões – mais que o triplo do registrado nos canteiros da Gafisa.
Sem dinheiro para pagar
A concessão de crédito para os clientes da Tenda também sangrou o caixa da empresa. Só no último trimestre do ano, foram identificados 4.000 consumidores “não qualificados para o financiamento imobiliário”: apesar das unidades adquiridas estarem 70% prontas, a empresa recebera apenas 6% do valor devido pelos imóveis.
O rompimento desses contratos teve um impacto negativo de 91,2 milhões de reais. Neste ano, a Gafisa estima que outros 8.000 clientes sejam enquadrados na mesma situação. A reserva para arcar com esses cancelamentos e com os prováveis inadimplentes da Tenda terminou por abocanhar outros 167,3 milhões de reais da receita da empresa.
Gafisa na berlinda
Com o objetivo de mapear exatamente o que precisava ser reformulado ao longo do quarto trimestre, a companhia designou um diretor-executivo para cada uma das suas unidades operacionais. Mas depois de eliminar a Tenda e a lucrativa AlphaVille da análise, a empresa acabou deparando-se com uma correção de 213,7 milhões de reais para os projetos da Gafisa, valor muito semelhante ao acréscimo destinado às obras da sua divisão mais problemática.
Na avaliação do time de analistas do Credit Suisse, os aumentos sobre o orçamento não deixam de mostrar que os problemas da Gafisa também se relacionam ao seu negócio original.
Olhando para frente, a empresa reajustou suas estimativas para 2012, com a expectativa de lançar em torno de 2,7 a 3,3 bilhões de reais em empreendimentos. Os números representam uma diminuição que pode variar de 6% a 23% sobre o resultado apresentado em 2011.
Apesar de apoiarem a “pesada limpeza” promovida na companhia, reforçando que essa seria a única maneira da Gafisa recuperar a rentabilidade no médio e longo prazo, a equipe do Itaú BBA é cética. “Nós preferimos estar expostos a companhias que possam entregar uma melhor combinação entre baixa alavancagem, retornos sólidos, crescimento e geração de caixa”, assinaram em relatório os analistas Enrico Trotta, Vivian Salomon e David Lawant.
A “faxina” também não parece ter agradado totalmente os investidores. Os papéis caíram fortemente na bolsa nesta segunda-feira. Um sinal de que a casa ainda não está “um brinco” para o mercado – e a Gafisa ainda precisa provar que a estratégia vai dar certo.
São Paulo – Depois de arrumar a casa em 2011, a Gafisa abriu a porta – ou uma fresta dela – para o mercado espiar o resultado. Em prévia do balanço anual divulgado ontem, ainda não submetido à auditoria, ficou claro que a faxina custou caro: o prejuízo no ano passado foi de 1,1 bilhão de reais, ante um lucro líquido de 416 milhões de reais em 2010.
Segundo a empresa, o resultado deve-se principalmente aos ajustes de 889,5 milhões de reais feitos depois de uma profunda revisão nas suas operações e estratégias. Quase 70% desse montante, ou 610,2 milhões de reais, foram usados para redirecionar os negócios da Tenda, incorporadora de baixa renda comprada em 2008.
Antes de ser levada pela Gafisa, os papéis da empresa desabaram 60% em poucas semanas. O mergulho conferiu à aquisição um ar de negócio da China. Mas se a ascensão da classe C parecia garantir o sucesso da empreitada, os anos seguintes terminaram por descascar esse verniz. Em 2011, a construção dos projetos da Tenda foi revisada para cima, representando um custo adicional de 227,2 milhões de reais. As multas por atraso nas obras chegaram a 38,5 milhões – mais que o triplo do registrado nos canteiros da Gafisa.
Sem dinheiro para pagar
A concessão de crédito para os clientes da Tenda também sangrou o caixa da empresa. Só no último trimestre do ano, foram identificados 4.000 consumidores “não qualificados para o financiamento imobiliário”: apesar das unidades adquiridas estarem 70% prontas, a empresa recebera apenas 6% do valor devido pelos imóveis.
O rompimento desses contratos teve um impacto negativo de 91,2 milhões de reais. Neste ano, a Gafisa estima que outros 8.000 clientes sejam enquadrados na mesma situação. A reserva para arcar com esses cancelamentos e com os prováveis inadimplentes da Tenda terminou por abocanhar outros 167,3 milhões de reais da receita da empresa.
Gafisa na berlinda
Com o objetivo de mapear exatamente o que precisava ser reformulado ao longo do quarto trimestre, a companhia designou um diretor-executivo para cada uma das suas unidades operacionais. Mas depois de eliminar a Tenda e a lucrativa AlphaVille da análise, a empresa acabou deparando-se com uma correção de 213,7 milhões de reais para os projetos da Gafisa, valor muito semelhante ao acréscimo destinado às obras da sua divisão mais problemática.
Na avaliação do time de analistas do Credit Suisse, os aumentos sobre o orçamento não deixam de mostrar que os problemas da Gafisa também se relacionam ao seu negócio original.
Olhando para frente, a empresa reajustou suas estimativas para 2012, com a expectativa de lançar em torno de 2,7 a 3,3 bilhões de reais em empreendimentos. Os números representam uma diminuição que pode variar de 6% a 23% sobre o resultado apresentado em 2011.
Apesar de apoiarem a “pesada limpeza” promovida na companhia, reforçando que essa seria a única maneira da Gafisa recuperar a rentabilidade no médio e longo prazo, a equipe do Itaú BBA é cética. “Nós preferimos estar expostos a companhias que possam entregar uma melhor combinação entre baixa alavancagem, retornos sólidos, crescimento e geração de caixa”, assinaram em relatório os analistas Enrico Trotta, Vivian Salomon e David Lawant.
A “faxina” também não parece ter agradado totalmente os investidores. Os papéis caíram fortemente na bolsa nesta segunda-feira. Um sinal de que a casa ainda não está “um brinco” para o mercado – e a Gafisa ainda precisa provar que a estratégia vai dar certo.