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O CEO que domina SEO, trabalha presencial 12h por dia e fatura R$ 100 mi

Flávio Bittencourt, fundador do Chaves na Mão, celebra o bom momento do portal de ofertas de imóveis. A receita dele: cuidado com o tráfego orgânico, eficiência nos gastos — em especial a mídia paga

Flávio Bittencourt, do Chaves na Mão:  (Divulgação/Divulgação)

Flávio Bittencourt, do Chaves na Mão: (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 08h01.

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Durante anos, o mercado de classificados digitais foi dominado por portais com bancos no controle, campanhas massivas de mídia e rodadas milionárias. Em 2025, esse cenário começou a mudar.

O Chaves na Mão, portal brasileiro de anúncios de imóveis e veículos, ultrapassou a marca de R$ 100 milhões de faturamento anual e passou a liderar a audiência no segmento imobiliário digital, superando players tradicionais.

Pela primeira vez, um portal independente, sem aporte externo e sem sócios, alcança esse porte.

“O que a gente fez é algo inédito no país. Os concorrentes têm banco, mídia, rodadas milionárias. A gente é independente”, afirma Flávio Bittencourt, fundador e CEO do Chaves na Mão.

O próximo passo é ainda mais ambicioso: transformar o portal em uma plataforma completa, com geração de leads, produtos financeiros, CRM próprio e inteligência artificial integrada à jornada de imóveis e veículos.

A aposta em duas verticais

Desde o início, o Chaves na Mão decidiu atuar simultaneamente em imóveis e veículos, dois dos bens de consumo mais desejados do brasileiro. A escolha colocou a empresa frente a concorrentes poderosos em ambos os mercados.

Mesmo assim, o portal cresceu de forma consistente desde 2013. Segundo o CEO, a empresa manteve taxas de crescimento elevadas ao longo dos anos até ultrapassar, em 2025, a marca de R$ 100 milhões de faturamento.

“A gente está longe ainda do que pretende, mas ultrapassamos mais de R$ 100 milhões no ano”, afirma.

Os três anos mais difíceis

A trajetória começou fora da internet. Antes do Chaves na Mão, Bittencourt atuava no mercado de mídia out of home, com publicidade em shoppings. Foi ali que percebeu a migração acelerada dos anunciantes para o ambiente digital.

“Eu vinha totalmente do offline. Não tinha conhecimento nenhum de online”, diz.

O início foi duro. Sem domínio técnico, o fundador terceirizou a operação digital para agências — decisão que custou caro.

“Joguei na mão de agência e andei de ré uns três, quatro anos. Não ranqueava, gastava muito e não saía do lugar”, afirma.

A virada veio quando decidiu assumir pessoalmente uma das áreas mais críticas do negócio.

O CEO que virou especialista em SEO

A partir do terceiro ano de operação, Bittencourt mergulhou no estudo de SEO, a otimização para buscas orgânicas no Google, Bing e, hoje, também para mecanismos baseados em inteligência artificial.

“Se eu não estudasse isso a fundo, não ia sair do lugar. Acabei virando autodidata em ranqueamento orgânico”, diz.

Até hoje, o CEO é responsável direto pela estratégia de SEO do portal. Ele também acompanha de perto a área financeira, decisão que se mostrou central para a sobrevivência da empresa sem investidores.

“Como o orçamento sempre foi limitado, eu cuido muito de perto da parte financeira. É muito funcionário, muito investimento, então tem que administrar muito bem o recurso”, afirma.

O resultado foi um crescimento sustentado por tráfego orgânico, com menos dependência de mídia paga e maior eficiência operacional.

A escala veio acompanhada de disciplina financeira. Enquanto concorrentes captaram recursos e ampliaram estruturas, o Chaves na Mão seguiu no modelo bootstrap.

O melhor dinheiro é o dinheiro do cliente. Fazer rodada traz sócio, comitê e trava decisão”, afirma Bittencourt.

Hoje, segundo o CEO, a empresa atingiu o patamar de controle e escala definido lá atrás.

Selic alta, mercado travado — e lead como produto essencial

Mesmo com juros elevados e retração no crédito, o Chaves na Mão segue crescendo. Para o fundador, a explicação está na centralidade do lead no modelo de negócios.

“Uma imobiliária ou uma loja de carros sem lead não sobrevive. Acabou o classificado impresso. Hoje tudo parte do lead”, afirma.

Ainda que o volume de transações diminua, a demanda por geração de contatos qualificados se mantém — e favorece quem concentra audiência e estoque.

“Os clientes acreditam no Chaves na Mão porque recebem lead. Isso é um produto de altíssima necessidade hoje”, diz.

Para 2026, a meta é chegar a R$ 150 milhões de faturamento. A estratégia passa por ampliar serviços, mas sem dispersão. “A gente evita espuma. Vamos focar no que temos que ser bons: geração de leads”, afirma.

Entre os principais projetos estão um CRM próprio dentro da plataforma, o lançamento da Rebeca — uma IA para ajudar imobiliárias a vender e distribuir leads — e novos produtos financeiros.

Um deles é um modelo de seguro fiança, desenvolvido em parceria com um grande banco. “A gente quer resolver uma dor do brasileiro: alugar sem fiador, com mais tranquilidade”, diz o CEO.

Sem sócio, sem home office e 12 horas por dia

A operação segue altamente centralizada. Bittencourt não tem sócio, trabalha presencialmente e mantém uma rotina intensa.

“Eu trabalho no mínimo 10, 12 horas por dia, todo santo dia. Não tem como fazer diferente”, afirma.

Mesmo em férias, o fundador segue acompanhando decisões críticas do negócio. “Eu amo o que faço. Não consigo me ver fazendo outra coisa”, diz.

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