Embarque de commodities: empresas do setor amargaram prejuízo recorde, em grande parte por causa do dólar alto e dos preços internacionais. (.)
Da Redação
Publicado em 30 de março de 2016 às 11h03.
São Paulo - O resultado de 2015 foi devastador para empresas brasileiras ligadas à área de commodities listadas no Ibovespa - índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
Companhias de peso - como Vale, Petrobras, Gerdau, Gerdau Metalúrgica, Usiminas, Klabin e Suzano - registraram as piores baixas de sua história e somaram prejuízo de R$ 91,3 bilhões, segundo levantamento da consultoria Economática feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo.
As quedas mais expressivas foram de Vale e Petrobras, que, juntas, respondem por 86,5% desse total.
Nos casos de Vale e Petrobras, o resultado foi afetado não só pela queda nas vendas, mas também pela redução dos valores das cotações internacionais do minério de ferro e do petróleo.
As empresas também foram obrigadas a rever o valor de seus ativos devido aos preços das commodities e das estimativas futuras de produção, o que acarretou correções em seus balanços.
"Verificou-se que muitos ativos não eram capazes de recuperar os seus preços. Então, contabilmente, eles precisavam de um ajuste no valor", explica o analista da Planner Corretora, Luiz Francisco Caetano.
No caso da Vale, que teve prejuízo de R$ 44,2 bilhões, o preço da tonelada do minério de ferro está em US$ 54,70 atualmente - o insumo vale menos de um terço da cotação de cinco anos atrás, quando atingiu o pico de US$ 187,18 por tonelada.
Já o barril de petróleo chegou à mínima de US$ 27 (em janeiro deste ano) - hoje, vale pouco mais de US$ 40. A Petrobras perdeu R$ 34,9 bilhões no ano passado.
A boa notícia, segundo o analista da Planner, é que as commodities devem apresentar alguma reação em 2016.
"Aparentemente, as commodities já bateram no fundo do poço e a tendência agora é de alta. Com a expectativa de que a crise política esteja próxima de alguma solução no Brasil, estamos formando um conjunto de fatores positivos nos resultados deste ano", diz Caetano, alertando que a recuperação será gradual.
Além da queda nos preços das commodities, as empresas sofreram com o fator câmbio. Em 2015, o dólar disparou (43,1%) frente ao real, fechando o ano a R$ 3,85.
Embora esse dado possa, a princípio, parecer positivo para as exportadoras, boa parte das dívidas dessas companhias também é cotada na moeda americana.
Foi justamente este fator que afetou negativamente os balanços da Klabin e da Suzano - ambas produtoras de papel e celulose.
No caso da Klabin, o endividamento aumentou por causa do investimento de US$ 4 bilhões na nova fábrica de Ortigueira, no Paraná, que começou a operar no último dia 4. A empresa perdeu R$ 1,2 bilhão em 2015, enquanto a Suzano teve prejuízo de R$ 925 milhões.
O analista Victor Suzaki, da Lerosa Investimentos, afirma que ambas as empresas têm bons resultados operacionais e estão relativamente "tranquilas". "O ano passado foi bom para o mercado de celulose, com preços operando perto das máximas", diz Suzaki.
Gerdau, Usiminas e Gerdau Metalúrgica viram seus lucros líquidos caírem R$ 4,5 bilhões, R$ 3,2 bilhões e R$ 2,3 bilhões, respectivamente, em 2015. Mais uma vez, a conjuntura pesou contra: há excesso de aço no mercado e também aumento da concorrência de produtores chineses.
As siderúrgicas vendem produtos de maior valor agregado e por preços maiores no mercado interno - sobretudo para a indústria automobilística e a construção civil -, mas a crise econômica teve um impacto negativo sobre as vendas no país. Lá fora, o problema é a falta de competitividade em relação aos preços oferecidos pelos chineses.
Destoando do cenário de prejuízos recorde, Braskem e Companhia Siderúrgica Nacional apresentaram resultados favoráveis em 2015. Por usar nafta (derivado do petróleo) como combustível, a Braskem se beneficiou da queda das commodities.
Além disso, boa parte da receita da petroquímica vem dos EUA e da Europa, o que fez a empresa ser beneficiada também pela alta do dólar e registrar lucro recorde de R$ 3,15 bilhões em 2015. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.