Nem de vaca nem de aveia: startup brasileira faz o seu primeiro 'leite’ em um tanque de fermentação
A Future Cow chegou recentemente no mercado e recebeu quase R$ 2 milhões em investimentos, somando recursos dos fundos Antler e Big Idea Ventures
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 16h47.
Última atualização em 6 de dezembro de 2023 às 10h27.
A Future Cow produziu o seu primeiro lote de ‘leite’ sem precisar tocar em nenhuma vaca. A startup paulista usa a tecnologia de fermentação de precisão, semelhante às aplicadas no processo produtivo de cervejas e vinhos, para fazer proteínas do leite e do soro de leite.
Entre as novas gerações de alimentos, a fermentação representa um terceiro movimento de inovação. O primeiro foi o plant-based; seguido por proteínas cultivadas, método que usa as células dos animais para o desenvolvimento dos produtos.
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Na fermentação de precisão, as empresas pegam o DNA dos animais, encontrados em bancos de dados digitais, decodificam e aplicam uma técnica de engenharia genética para carregar as informações em leveduras.
O método, conhecido como DNA recombinante, permite a geração de proteínas semelhantes às produzidas pelos animais - no caso da Future, das vacas. No mundo, a startup mais avançada com o uso dessa tecnologia é a Perfect Day, uma americana que já levantou US$ 750 milhões desde o início da operação, em 2014. O primeiro produto com fermentação de precisão da empresa entrou no mercado em 2020 e se tornou a grande atração do negócio.
Como surgiu o negócio da startup
A história da Future Cow é bem mais recente e ganhou corpo há alguns meses na segunda edição do programa de residência da Antler, realizado no início deste ano, em São Paulo.
O empreendedor Leonardo Vieira, e a cientista e engenheira de alimentos formada pela Unicamp, Rosana Goldbeck, se conheceram nos últimos anos. Depois de uma temporada nos Estados Unidos, Vieira tinha acabado de retornar ao Brasil com o desejo de criar uma biotech e encontrou em Goldbeck a parceira para o projeto.
O programa da gestora caiu como uma luva para tirar o plano do papel. Ao longo de 10 semanas do programa, os formataram o desenho do negócio e,ao final, a Future Cow saiu do programa com um aporte de US$ 150.000 - ou 700.000 reais.
Meses depois, a ideia atraiu um novo investidor, o Big Idea Ventures - conhecido como o fundo que mais ativamente coloca recursos em startups de alimentos e do agro -, com mais US$ 200.000.
A produção deste primeiro protótipo é uma conquista para a startup e a habilita para dar os próximos passos. Hoje, nesta etapa inicial do negócio, o trabalho é feito em tanques de fermentação de 15 litros.
As próximas fases passam por avançar para tanques com capacidade de 200, 2.000 e 5.000 litros.“Nós atingimos o MVP. Agora, vamos produzir para testar a nossa tecnologia em uma planta industrial”, afirma Vieira.
O que a Future Cow quer fazer com o leite
O objetivo da startup é atuar no mercado B2B, oferecendo a proteína e o soro do leite para indústrias de alimentos, laticínios, entre outras. Com o produto, as empresas podem fazer produtos diversos como bebidas lácteas, chocolates, whey, queijos.
Segundo o empreendedor, essas conversas já estão em andamento. "Nós estamos mandando para algumas empresas testarem formulações". Entre as vantagens em relação ao produto de origem animal para as indústrias, o empreendedor conta que o “leite” produzido pela startup consegue eliminar uma série de impurezas.
“Por exemplo, se a vaca tomou um hormônio, teve um pesticida, tem a lactose, no nosso processo de produção, nós conseguimos ter uma proteína pura, sem lactose, sem pesticida, sem hormônio, sem antibiótico".
Além disso, segundo ele, há ganhos de eficiência. A estimativa é que, em um espaço de 100 metros quadrados, a startup consiga fazer o equivalente à produção de 1.400 vacas.Outro benefício pode ser percebido em ESG, sem a necessidade de pastos e com a diminuição dos fluxos logísticos. “Tem toda uma questão de produção associada ao animal, como redução de consumo de água, energia e emissão de CO2”, diz.
Em paralelo aos avanços internos para o neggócio ganhar escala, a startup ainda precisa aprovar o produto na Anvisa, a vigilância sanitária brasileira, antes que possa colocá-lo no mercado. A previsão é de que o processo deve levar, no minímo, 12 meses.
O período servirá para a startup aprimorar a tecnologia e para buscar uma nova captação. A Future já está em conversas com fundos nacionais e internacionais, principalmente aqueles interessadas em novas tecnologias de alimentos.