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Nazista construiu fortuna de bilionários da Dr. Oetker

Rudolf-August Oetker, ex-oficial SS, assumiu o controle do negócio da família em 1944 e ficou conhecido como herói que tornou a empresa grande depois da guerra


	Caminhão da Dr. Oetker: o patriarca morreu em 2007, deixando oito filhos de três casamentos e um império hoje avaliado em US$ 12 bilhões
 (Frank Vincentz/Wikimedia Commons)

Caminhão da Dr. Oetker: o patriarca morreu em 2007, deixando oito filhos de três casamentos e um império hoje avaliado em US$ 12 bilhões (Frank Vincentz/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2014 às 11h09.

Nova York - Faltavam algumas semanas para Rudolf-August Oetker se tornar um oficial Waffen-SS da Alemanha Nazista quando recebeu a informação de que sua mãe, duas meias-irmãs e seu padrasto haviam sido mortos por uma bomba aliada lançada sobre a casa de sua família, em Bielefeld, Alemanha.

A perda não foi apenas uma tragédia pessoal para o cadete de 28 anos de idade. Foi um duro golpe para uma das fornecedoras da linha de frente de Adolf Hitler, a Dr. August Oetker OHG, cujas cargas secas estavam sendo transportadas por via marítima para os soldados alemães que lutavam na Segunda Guerra Mundial.

Oetker recebeu licença permanente de suas funções para assumir o controle do negócio da família em outubro de 1944. Ao longo das seis décadas seguintes, o ex-oficial SS, que treinou no campo de concentração Dachau, somaria interesses nos setores de navegação, alimentos, bebidas, bancos e hotéis, criando um conglomerado com mais de 26.000 empregados e 10,9 bilhões de euros (US$ 14,8 bilhões) em receita anual.

“Na empresa, as pessoas ainda se referem a ele como um herói que tornou a empresa grande após a guerra”, disse Sven Keller, um dos autores de um estudo encomendado pelos Oetker a respeito do envolvimento da família com o Terceiro Reich, em entrevista, em Munique. “É preciso ver os dois lados da pessoa”.

Oetker morreu em 2007, aos 90 anos, deixando oito filhos de três casamentos -- Rosely Schweizer, August Oetker, Bergit Douglas, Christian Oetker, Richard Oetker, Alfred Oetker, Carl Ferdinand Oetker e Julia Oetker -- e um império hoje avaliado em US$ 12 bilhões, segundo o índice Bloomberg Billionaires. Os irmãos nunca apareceram individualmente em um ranking internacional de riqueza.


‘Dinastia estável’

Cada filho de Oetker e sua família controla 12,5 por cento da Dr. August Oetker KG, com sede em Bielefeld, que serve como holding dos negócios, segundo Jorg Schillinger, porta-voz da entidade. Ele disse que os irmãos preferem não comentar o assunto.

“Eles são uma dinastia muito estável”, disse Rudiger Jungbluth, autor de “Die Oetkers” (“Os Oetker”), uma biografia da família, em entrevista em um restaurante bávaro, em Hamburgo, em dezembro passado. “Eles não levaram suas posses para a Suíça como outras empresas familiares alemãs fizeram”.

A fortuna teve origem em 1891, quando August Oetker, farmacêutico, começou a vender um fermento em pó que podia ser armazenado e não alterava o sabor dos produtos de panificação. Ele também foi o primeiro na Alemanha a desenvolver pacotes individuais de fermento para bolos e sobremesas, segundo a biografia.

Adolf Hitler

Seu único filho, Rudolf, foi morto durante a Batalha de Verdun, na França, em 1916, quando servia como oficial do exército alemão. O filho do Rudolf, Rudolf-August Oetker, nasceu seis meses depois da morte do pai.

Três anos mais tarde, a viúva de Rudolf, Ida Meyer, se casou com Richard Kaselowsky, amigo próximo de seu marido morto. Kaselowsky e Louis Oetker, irmão mais novo de August, assumiram o controle da empresa em 1921.


Na época em que Louis Oetker morreu, em 1933, Kaselowsky havia se tornado membro do Partido Nazista e Adolf Hitler, o chanceler do país.

Rudolf-August Oetker alistou-se no exército alemão em 1940 e foi voluntário da SS no ano seguinte. Ele iniciou seu treinamento como oficial em 1942.

“Foi uma decisão ideológica”, disse Keller. “Ele não entraria para a Waffen-SS se não estivesse convencido de que o nazismo era a coisa certa”.

Oetker foi preso pelas forças britânicas em maio de 1945. Ele foi inocentado em audiências de desnazificação e voltou ao comando da empresa dois anos depois.

Ele continuou como presidente do comitê consultivo do grupo até sua morte, em janeiro de 2007, cinco anos depois de transferir a maioria das ações para seus oito filhos e suas famílias, segundo a biografia “Die Oetkers.”

Grupo Oetker

A família mantém a propriedade do conglomerado e supervisiona as empresas por meio de dois conselhos: um conselho executivo de quatro membros, que controla a estratégia da empresa, e um comitê consultivo de sete membros. A maioria dos executivos não é da família Oetker, segundo o site do grupo.


A empresa de navegação, formada pela Hamburg Süd, pela Aliança Navegação e Logística Ltda, com sede em São Paulo, pela Rudolf A. Oetker KG e pela Furness Withy Chartering Ltd., com sede em Londres, é a maior divisão da Oetker. A frota da empresa entregou quase 3,3 milhões de toneladas de carga no ano passado para portos como Buenos Aires, Sydney e Cartagena, na Colômbia.

A empresa teve vendas de 5,5 bilhões de euros em 2012, respondendo por metade da receita da Oetker, segundo o relatório anual. As divisões de alimentos e bebidas tiveram uma receita combinada de 5 bilhões de euros em 2012. As produtoras de alimentos vendem mais de 3.000 produtos, incluindo pizzas congeladas e salgadinhos, fermentos e alimentos assados, sobremesas e granola.

Embora a empresa do pai tenha tornado os oito irmãos bilionários, seu envolvimento com a SS, que ele nunca discutiu com os filhos, lhes deixou dúvidas sobre seu passado. O estudo encomendado deu respostas às suas preocupações.

“Meu pai era um nacional-socialista”, disse August Oetker, em entrevista ao jornal Die Zeit, da Alemanha, em outubro. “Agora que sabemos os fatos, o nevoeiro dissipou”.

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