Anglo American: a empresa vai encolher até ficar irreconhecível (Nadine Hutton/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2015 às 19h48.
Mesmo para uma empresa que chegou a ter o monopólio global da produção de diamantes durante quase um século de expansão praticamente constante, o colapso dos preços das commodities está sendo duro demais.
A Anglo American, um conglomerado que abrange os setores de cerveja, publicações e exploração de ouro e que viveu seu auge no início dos anos 1990, vai encolher até ficar irreconhecível depois que o CEO Mark Cutifani anunciou na terça-feira um pacote de vendas de ativos, fechamentos de minas e cortes de postos de trabalho.
Entre as possíveis vítimas está a Minas Rio, uma mina brasileira de minério de ferro que, com custos crescentes e o colapso dos preços, transformaram um projeto de US$ 14 bilhões no símbolo da situação da empresa.
“A Minas Rio é a maior marca dos equívocos deles”, disse Jeremy Wrathall, chefe de recursos naturais globais da Investec. “Houve uma série de erros estratégicos, a loucura coletiva do superciclo que todos entenderam errado”.
Assim como os bancos antes da crise financeira ou as empresas do setor de energia antes do colapso dos preços do petróleo, a Anglo American é a clássica história dos exageros cometidos durante os bons momentos que resultam em uma situação de excesso de dívida e pouco dinheiro quando o mercado despenca.
85.000 empregos
Eventualmente, a Anglo American empregará 50.000 pessoas, 85.000 a menos que agora, disse Cutifani. A empresa vai controlar um máximo de 25 ativos, menos que os 55 de hoje. Todas as minas deficitárias serão colocadas à venda ou simplesmente fechadas.
Contudo, bancos como o HSBC disseram que até mesmo esses cortes drásticos podem não ser suficientes se os preços das commodities continuarem fracos. As ações da Anglo caíram 14 por cento na quarta-feira para uma mínima recorde em Londres. Os papéis caíram 73 por cento em Londres neste ano superando a Glencore como o de pior desempenho do índice FTSE 100.
O anúncio surge depois de a Lonmin, outra empresa de mineração com sede no Reino Unido focada na África, ter sido forçada no mês passado a recorrer aos acionistas para evitar um colapso. Seu leque de negócios englobava exploração de ouro, hotéis, têxteis e jornais nos anos 1980.
Os ativos da Anglo American “precisam fazer dinheiro ao longo do ciclo”, disse Cutifani, 57, australiano que ocupa o cargo mais elevado da empresa desde 2013, a investidores na terça-feira. “Do contrário, eles não estarão no portfólio. Simples assim”.
No auge financeiro da empresa, em 2007, quando os preços da platina e do níquel ficaram próximos de níveis recorde, o lucro anual foi de US$ 7,3 bilhões e o valor de mercado da companhia superava US$ 80 bilhões. Os analistas projetaram que a Anglo American perderá US$ 2,8 bilhões neste ano; Cutifani disse a acionistas que não haverá dividendos até 2017, pelo menos. A empresa atualmente tem um valor de mercado de US$ 6,3 bilhões e um total de US$ 11,9 bilhões em dívidas.
“Esse parece ser o primeiro sinal de rendição, talvez, no setor de mineração”, disse Paul Gait, analista da Sanford C. Bernstein em Londres, à Bloomberg TV. “A Anglo costumava ser esse grande e diversificado conglomerado sul-africano. Agora, está vendendo 60 por cento de seus ativos”.
Fundada em 1917 pelo empreendedor e filantropo Ernest Oppenheimer, a Anglo American foi construída com base nas gigantescas minas de ouro da África do Sul. Ao mudar para o ramo de diamantes com o controle da De Beers, depois que Oppenheimer foi eleito para o conselho, em 1926, e depois adicionar operações de platina e carvão, a Anglo se tornou rica e poderosa durante boa parte do século 20.
Sob o comando do filho de Ernest, Harry, a empresa ampliou seus horizontes. Comprou a Hudson Bay Mining no Canadá em 1961 e iniciou uma expansão para os setores de siderurgia, madeira e celulose e, posteriormente, de cobre na América do Sul.
Mais recentemente, a empresa buscou uma expansão para o setor de minério de ferro para se juntar às empresas que estavam alimentando a necessidade insaciável da China por aço.
A Minas Rio foi concebida pelo antecessor de Cutifani durante essa temporada altista. A compra do projeto custou US$ 5,1 bilhões e a construção, mais US$ 9 bilhões. O preço do minério de ferro, juntamente com os preços do carvão, do diamante, do ouro e da maior parte das extrações, então, despencou.