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Microdistribuidoras abastecem salões de beleza das favelas

Para levar seus produtos de beleza até as favelas brasileiras, a L'Oréal lançou mão de "microdistribuidoras", que abastecem os salões das comunidades

Salão de beleza no Rio de Janeiro: o projeto começou há 3 anos em três favelas (Christophe Simon/AFP)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2014 às 15h10.

Rio de Janeiro - Para levar seus produtos de beleza até as favelas brasileiras, a gigante dos cosméticos L'Oréal lançou mão de "microdistribuidoras" encarregadas, desde 2011, do abastecimento de salões de beleza - quase sempre informais - das comunidades.

O projeto começou há três anos em três favelas do Rio de Janeiro: Cidade de Deus, Rocinha e Complexo do Alemão.

Hoje, 50 microdistribuidoras funcionam nas favelas das duas maiores cidades do país - 35 no Rio e 15 em São Paulo, onde a iniciativa começou no final de 2013.

"É um modelo de distribuição único, com uma venda direta nos pequenos salões de beleza informais, abundantes nas favelas", explica Tatiana Peczan, responsável pelo projeto na L'Oréal Brasil.

A ideia é "entrar nos bairros que não são atingidos pela distribuição convencional", conta Tatiana.

O projeto seleciona candidatas que moram numa favela, munidas de espírito empreendedor e com boas habilidades sociais, e que desejam se tornar distribuidoras de produtos de cabeleireiros.

Primeira etapa: uma semana de formação técnica sobre a profissão de cabeleireiro e sobre os produtos Matrix, marca da L'Oréal que nasceu nos Estados Unidos.

Em seguida, vem a compra de um primeiro estoque, voluntariamente limitado, em geral uma centena de produtos. As vendedoras obtêm uma comissão sobre os preços dos produtos, e têm um status fiscal convidativo.

A compra do estoque é financiada por um sistema de microcrédito com a parceria de bancos. Uma formação comercial (gestão de estoque, comunicação, balanço de resultados) também é dada às microdistribuidoras pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

"Elas têm créditos e nós tentamos ter um estoque de base muito baixo, com um produto de cada linha", explica Michael Henry, diretor da divisão de produtos profissionais da L'Oréal Brasil.

A Matrix criou então "uma gama pouco extensa que corresponde à demanda destes salões de beleza que não têm estoque", diz Henry. Esta linha, Master Results, foi especificamente criada para o Brasil, com "apenas cinco produtos técnicos de cuidados, 20 colorações e um produto de alisamento".

"Não pressionamos nossas vendedoras a baterem metas", afirma o executivo, insistindo sobre o desafio de "longo prazo" para as micro-distribuidoras.

Relação de confiança

"Nossa prioridade é ajudá-las em seu desenvolvimento", confirma Tatiana Peczan, enquanto visita o pequeno salão Belos Frios, na comunidade carioca de Rio das Pedras.

Instalado numa ruela, o estabelecimento é abastecido por Carlos Ramato, jovem empreendedor que em dois anos formou uma clientela de mais de 30 salões. "Aqui o comércio é informal e nós funcionamos na base da confiança", explica Ramato. Segundo ele, é raro alguém deixá-lo na mão.

Carlos Ramato investiu cerca de R$ 2.000 há dois anos para iniciar o negócio e formar seu estoque. Hoje, a atividade dá ao empresário um retorno maior ao que ele obtinha como motorista de transportes alternativos para os moradores de Rio das Pedras.

Atualmente, 2.000 pequenos salões de beleza são alimentados pelo sistema de microdistribuidores, com cerca de 40 estabelecimentos para cada fornecedor.

O projeto brasileiro pode ser levado para fora? "É promissor, mas quero ter certeza antes de começar a fazer projetos como este em todos os lugares", respondeu An Verhulst-Santos, diretora geral da divisão de produtos profissionais do grupo L'Oréal.

"Ainda assim é preciso saber se é sustentável e se os microdistribuidores podem realmente fazer da atividade seu ganha-pão", continua An.

Uma outra experiência de microdistribuição lançada pela L'Oréal em Gana em 2013, também no setor de salões de beleza, não deu os resultados esperados - um terço fracassou.

Na L'Oréal, os números sobre a experiência brasileira não foram revelados. O objetivo inicial é "que todo mundo ainda esteja no projeto nos próximos três anos", resume Michael Henry.

São Paulo - Existem 6,3 mil favelas espalhadas pelo Brasil. Mas enquanto o IBGE - que nesta semana divulgou um retrato desses locais de moradia - exige ao menos 51 domicílios em condições precárias para encaixar um conjunto habitacional na categoria, algumas dessas comunidades se agigantam a tal ponto de possuir mais moradores que a maioria dos municípios brasileiros . São os casos das 10 favelas a seguir: todas têm mais de 40 mil habitantes, de acordo com o Censo 2010 . A campeã Rocinha, no Rio de Janeiro, quase chega a 70 mil. Se fosse uma cidade, estaria entre as 450 maiores do país, de um total de 5,5 mil. Em todo o Brasil, são 11,4 milhões de pessoas morando em locais frutos de invasão de terras públicas ou privadas e sem acesso completo a serviços públicos. Segundo o IBGE , as favelas não são iguais em todos as cidades: enquanto no Rio, por exemplo, é comum que elas sejam formadas por becos e vielas, com casas de dois ou mais andares, em outras capitais, como Fortaleza, essas regiões possuem ruas de fato e as casas costumam ter apenas um pavimento. Confira as fotos das 10 mais populosas favelas do Brasil.
  • 2. 2ª Sol Nascente (Ceilândia), Distrito Federal – 56 mil moradores

    2 /9(Reprodução YouTube)

  • Veja também

    População: 56.483 Domicílios: 15.737 Esgoto: presente em 991 domicílios (6,2% do total)
  • 3. 3ª Rio das Pedras, Rio de Janeiro (RJ) – 54 mil moradores

    3 /9(Reprodução Google Street View)

  • População: 54.793 Domicílios: 18.700 Esgoto: presente em 13.105 domicílios (70% do total)
  • 4. 5ª Baixadas da Estrada Nova Jurunas, Belém (PA) – 53,1 mil moradores

    4 /9(Reprodução Google Street View)

    População: 53.129 Domicílios: 12.666 Esgoto: presente em 7.379 domicílios (58,2% do total)
  • 5. 6ª Casa Amarela, Recife (PE) – 53 mil moradores

    5 /9(Reprodução Google Street View)

    População: 53.030 Domicílios: 15.215 Esgoto: presente em 2.937 domicílios (19,3% do total)
  • 6. 8ª Paraisópolis, São Paulo (SP) – 42,8 mil moradores

    6 /9(Danny Lehman/Corbis)

    População: 42.826 Domicílios: 13.071 Esgoto: presente em 11.612 domicílios (88,8% do total)
  • 7. 9ª Cidade de Deus, Manaus (AM) – 42,4 mil moradores

    7 /9(Reprodução Google Street View)

    População: 42.476 Domicílios: 10.559 Esgoto: presente em 1.265 domicílios (12% do total)
  • 8. 10ª Heliópolis, São Paulo (SP) – 41,1 mil moradores

    8 /9(Leonardo Finotti)

    População: 41118 Domicílios: 12.105 Esgoto: presente em 11.415 domicílios (94,3% do total)
  • 9. Agora, veja as cidades que contrariam a regra no Brasil em saneamento básico

    9 /9(Germano Lüders/EXAME.com)

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