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Mercedes-Benz quer voltar a lucrar no Brasil para não depender da matriz

A operação brasileira da Mercedes-Benz não fecha o ano no azul desde 2014, o último antes da crise econômica

Mercedes-Benz: a montadora planeja aplicar R$ 900 milhões entre este ano e 2021 (Reprodução/Getty Images)

Mercedes-Benz: a montadora planeja aplicar R$ 900 milhões entre este ano e 2021 (Reprodução/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 17h38.

São Paulo A operação brasileira da Mercedes-Benz pôs como principal meta para 2020 voltar a dar lucro, por perceber que está cada vez mais difícil receber recursos enviados pela matriz na Alemanha, disse nesta sexta-feira, 31, o presidente da montadora no Brasil, Philipp Schiemer. Segundo ele, o objetivo é que a filial, de volta ao azul, tenha condições de bancar os próprios investimentos, sem depender dos alemães.

"Nos últimos 10 anos, nós vimos as matrizes das montadoras fazendo uma injeção forte de capital em suas operações no Brasil. Esse tempo acabou. Não vamos ver esse fluxo nos próximos anos com tanta facilidade", afirmou o executivo a jornalistas, em evento na fábrica de São Bernardo de Campo (SP), uma das três da marca no Brasil - as outras duas ficam em Juiz de Fora (MG) e Iracemápolis (SP).

Segundo Schiemer, tem sido mais difícil convencer a matriz alemã a investir no Brasil porque a indústria automobilística global tem passado por uma "transformação muito forte", que exige investimentos "elevados" e deixa o dinheiro mais escasso para alocá-lo em outros países, principalmente aqueles onde os negócios não estão rentáveis.

"Por exemplo, a eletrificação da indústria automobilística é vista como o futuro. Você, se fosse a matriz, iria investir em eletrificação ou em uma operação que não está dando retorno? O investidor vai colocar o dinheiro dele onde ele acha que pode dar retorno", disse ele.

A operação brasileira, de acordo com Schiemer, não fecha o ano no azul desde 2014, o último antes da crise econômica. No ano seguinte, o executivo passou por "fortes questionamentos" da matriz para conseguir investimentos para o Brasil. À época, acabou anunciando um ciclo de investimento de R$ 730 milhões entre 2015 e 2018. O plano atual é de R$ 2,4 bilhões entre 2018 e 2022, dos quais R$ 900 milhões serão aplicados entre este ano e 2021.

O executivo, contudo, fez questão de ressaltar que a matriz está satisfeita com o Brasil e vê avanços na operação local. "Eles veem que os investimentos feitos aqui foram uma boa decisão e a unidade está na direção correta", disse. "Mas será mais difícil conseguir recursos, por causa das transformações no setor, mesmo que o mercado brasileiro esteja melhor", acrescentou.

Para voltar ao azul, Schiemer disse que a estratégia por uma combinação de fatores, como a eficiência da operação, "fazendo mais com menos", e a política de preços, de olho numa margem maior.

Projeções

A Mercedes-Benz estima que o mercado de caminhões deve crescer 18% em 2020, para 120 mil unidades, informou Schiemer. É a mesma projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A estimativa da Mercedes-Benz considera expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% e Selic a 4,5%. "Os juros continuam muito atraentes para o consumidor e os investimentos em infraestrutura devem começar a aparecer", disse o executivo, que reconheceu que a taxa básica pode cair ainda mais.

Na visão de Schiemer, o ano de 2020 deve ser marcado pelo aumento da participação dos segmentos de caminhões leves e médios, que perderam fatia nos últimos anos para os semipesados e extrapesados.

O executivo explicou que os leves e médios são mais sensíveis à atividade econômica e vão se beneficiar da aceleração do PIB, esperada pelos analistas do mercado financeiro e pela própria companhia.

Schiemer lembrou que, no auge do mercado de caminhões, em 2011, os leves e médios tiveram resultados expressivos nas vendas. Os clientes desses segmentos, contudo, evitaram fazer a troca durante a crise. Agora, chegou o momento de o consumidor fazer a renovação.

"Nos últimos anos, a renovação foi feita mais nos segmentos de semipesados e extrapesados, pois são clientes mais profissionais, que precisam de caminhões mais atualizados para seus negócios. Os leves e médios, de consumidores de menor porte, adiaram a troca e agora é o momento, pois já se passaram quase 10 anos", explicou o executivo.

Os leves e médios eram cerca de um terço do mercado de caminhões em 2011 e caíram para 20%, participação registrada em 2019. Os extrapesados, por sua vez, saltaram de 36% para 57%. Schiemer acredita que, em 2020, os leves e médios podem aumentar para 25%.

Reformas

O presidente da Mercedes-Benz no Brasil afirmou ainda que as reformas econômicas precisam continuar ocorrendo para que a indústria automobilística seja menos dependente da Argentina no mercado externo.

Com a Argentina em crise, as exportações de veículos para o país vizinho caíram cerca de 50% em 2019. Como o mercado argentino é o principal destino, as exportações totais também tiveram recuo, de cerca de 30%.

"O mercado externo continua sendo o nosso calcanhar de Aquiles. Temos de trabalhar para sermos menos dependentes da Argentina no futuro. Para isso, além de as empresas fazerem a sua parte, as reformas precisam continuar acontecendo", disse o executivo.

Schiemer está otimista com a aprovação da reforma tributária em 2020 e espera que o projeto inclua a desoneração sobre exportações. "Eu tenho um concorrente indiano no Peru e o frete dele para levar um caminhão da Índia para o Peru é menor do que o do Brasil para o Peru", comparou.

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