Modelo extrapesado da marca, usado em setores como do agronegócio, ganhou destaque nas vendas (Mercedes-Benz/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 3 de janeiro de 2020 às 12h06.
Última atualização em 3 de janeiro de 2020 às 13h06.
Pelo quarto ano consecutivo, a Mercedes-Benz liderou o rentável mercado de caminhões no Brasil. Com uma participação de 29,6% nas vendas, a montadora avançou principalmente na categoria de veículos extrapesados, destinados a setores da economia que crescem independentemente do cenário econômico brasileiro, como o agronegócio e papel e celulose.
"Atribuímos a liderança a uma mudança de postura. Há cinco anos, modificamos todos os produtos e redesenhamos soluções. A liderança é resultado desse trabalho de escutar o cliente e oferecer a solução", afirma Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões da Mercedes-do Brasil, em entrevista exclusiva a EXAME.
Em 2019, a montadora emplacou 29,9 mil caminhões, um crescimento de 41,6% sobre o desempenho do ano anterior. O segmento, no Brasil, avançou 33% na mesma base de comparação. "Crescemos bem acima do mercado", diz o executivo.
No Brasil, o mercado de caminhões é historicamente disputado por fortes marcas, como a Volkswagen Caminhões e Ônibus, Scania, Volvo, entre outras, que estão há décadas por aqui. Mais recentemente, chegaram marcas asiáticas ao país - como a Hyundai - e ganharam espaço nas categorias leves, que não são tão dependentes de crédito do BNDES e bancos comerciais. Além disso, os preços desses produtos não se tornam impraticáveis com o imposto de importação - a maioria desses veículos é importada.
Leoncini conta que o mercado de caminhões "descolou" do restante dos setores da economia, com um crescimento forte em 2019. "O transportador voltou definitivamente às compras e está renovando a frota."
Ele acrescenta que a queda da taxa básica de juros (Selic) contribuiu para estimular a oferta de crédito no segmento, antes totalmente dependente do Finame, financiamento para bens de capital do BNDES.
O crédito do banco de fomento chegou a representar mais de 90% das vendas de caminhões no país há alguns anos, quando os juros do Finame ficaram negativos - de 2,5% ao ano, enquanto a inflação girava na casa dos 5%. Hoje, conta Leoncini, apenas 2% a 3% das vendas da marca são feitas via Finame.
Segundo o executivo, do total de caminhões vendidos a prazo pela Mercedes, de 50% a 60% são financiados pelo banco da montadora. O restante da venda é feito via bancos comerciais, que voltaram a atuar com forte apetite no segmento. O cliente tem optado muito mais pelo Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e também pelo consórcio.
A Mercedes trabalha com uma projeção de 110 mil unidades para o mercado brasileiro em 2020. No ano passado, os emplacamentos atingiram cerca de 101 mil caminhões. O desempenho, entretanto, está longe do recorde do mercado brasileiro de 2011, quando as vendas atingiram 170 mil unidades.
Para este ano, o vice-presidente da montadora prevê contínuo avanço na categoria de extrapesados, puxado ainda pelo agronegócio e indústria pesada - incluindo construção civil e mineração.
Nas categorias de leves, a expectativa é que a expansão do e-commerce e do setor de serviços impulsionem as vendas. "Está ocorrendo uma mudança no ponto de venda. As lojas de menor porte recebem produtos de maneira diferente, movimentando assim o mercado de caminhões leves."