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Mercado vê como bom sinal aumento de gasolina pela Petrobras

Precificação dos combustíveis é assunto delicado para acionistas, consumidores e Governo Federal; para analista, gestão atual tem diferencial positivo na comunicação com caminhoneiros

Combustíveis: projetos em tramitação no Senado buscam reduzir os preços nas bombas (Ricardo Moraes/Reuters)

Victor Sena

Publicado em 7 de julho de 2021 às 12h04.

Última atualização em 7 de julho de 2021 às 13h52.

Depois de quase três meses sob nova gestão, a Petrobras fez o primeiro aumento nos preços dos combustíveis da gestão Silva e Luna na última segunda-feira, acompanhando a valorização do preço internacional do petróleo. A companhia elevou o preço do litro da gasolina em 6% e do diesel em 3,7% Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, a decisão de ajustar os valores do diesel, gás de cozinha e gasolina nas refinarias foi uma surpresa positiva para o mercado.

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Isso porque a empresa vinha demorando a fazer correções nestes valores. Desde que assumiu a presidência da companhia após a saída de Roberto Castello Branco, Silva e Luna tinha feito duas reduções nos valores, acompanhando reduções pontuais do preço do barril. No entanto, a cotação tem tido tendência de aumento. Em abril, o preço do petróleo estava na faixa de R$ 60. Hoje, está na faixa dos R$ 70.

"Esse zelo com as margens que foi mostrado é fundamental para o mercado. A gente vive um momento político quente e existem pressões vindas dos caminhoneiros, por exemplo. Mesmo assim, a Petrobras preservou as margens, o que a gente viu como bem simbólico e positivo", explica Ilan.

O analista destaca, porém, que ainda há uma defasagem de cerca de 14% nos valores da gasolina. Ou seja, a empresa ainda "deveria" aumentá-la para não perder dinheiro. Para ele, o aumento desta semana foi uma surpresa porque a defasagem estava na faixa de 20% há um tempo, sem sinalizações de ajuste. Com a alta, a companhia "tranquilizou" acionistas e o mercado que acompanham as contas da Petrobras de perto.

"A saúde financeira e as margens falaram mais alto. Isso não significa que o executivo não está com a caneta na mão, já que ele é acionista majoritário, mas acho que é bem simbólico", diz.

A precificação dos combustíveis é assunto delicado para acionistas, consumidores e Governo Federal porque a empresa sofreu interferências políticas em governos anteriores para represar aumentos, comprometendo o caixa e aumentando o risco de investidores e acionistas, além da própria dívida.

No entanto, o custo político de se fazer aumentos atrás de aumentos também precisou ser considerado nos últimos meses, tanto que divergências em como eles vinham sendo feitos culminaram na demissão de Roberto Castello Branco no início do ano pelo presidente Jair Bolsonaro.

Em sua despedida da empresa, em videoconferência de resultados do ano 2020, Castello Branco chegou a mandar um alerta ao presidente da República. Ele usou uma camisa com a frase em inglês "Mind The Gap" (cuidado com o vão), em referência à possível distância entre o preço internacional e o que a empresa estava sendo cobrada por praticar.

Desde que assumiu, Silva e Luna reforçou que mantém a estratégia adotada pela gestão anterior, de focar investimentos no pré-sal, e otimizar os resultados financeiros para os acionistas, o que tem sido bem visto pelo mercado financeiro e especialistas do setor de petróleo. Desde 2018, a empresa tem vendido campos de petróleo de águas rasas, negócios secundários e vai abrir mão do monopólio do refino do petróleo no país.

Nesta semana, a Petrobras assinou contrato para venda de sua participação em sete concessões terrestres e de águas rasas localizadas no estado de Alagoas.

Uma das mais recentes movimentações da empresa também foi a finalização da venda de sua participação na BR Distribuidora, antiga subsidiária que já havia sido privatizada.

Essa estratégia de focar no pré-sal e abrir mão de negócios que não tem a ver com a exploração de petróleo está alinhada com uma perspectiva de que no futuro o preço do petróleo vão cair. No pré-sal, a extração é uma das mais competitivas do mundo.

Uma das diferenças da atual gestão, na visão de Ilan, é a comunicação no caso desses aumentos. Segundo o analista, é positivo que a companhia estabeleça diálogos com entidades que são sensíveis aos aumentos de combustíveis, como os grupos de caminhoneiros. O general Silva e Luna se encontrou com o presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas antes do aumento desta semana.

O último relatório do banco BTG Pactual sobre a empresa já citava também que a atual condução da companhia tem sido positiva. Apesar da crise do início na sucessão no início do ano, que derrubou as ações da companhia, analistas do banco afirmam no documento que a restauração da confiança na Petrobras está na continuidade do programa de desinvestimentos, para que ele vá na direção de se tornar uma de se tornar uma empresa mais enxuta e ágil, sem riscos para o caminho de desalavancagem (redução da relação da dívida sobre EBITDA).

Quanto ao futuro da empresa, o analista afirma que as atenções devem se focar no novo Plano Quinquenal, a ser apresentado em outubro deste ano. É nesse projeto em que a atual diretoria, e Silva e Luna, devem mostrar mais sua visão de estratégia da empresa.

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